15 abril 2024

Questão indígena e desmatamento projetam imagem ambivalente do país

Pedido de desculpas do Estado brasileiro é descrito como um avanço, mas apontado como um esforço insuficiente enquanto povos originários continuam a enfrentar dificuldades. Imprensa estrangeira também tratou de problemas no desmatamento no país

Por Daniel Buarque e Fabiana Mariutti*

iii-Brasil – de 8 a 14/4 de 2024

Visibilidade: 49 reportagens em 7 veículos analisados

Classificação das notícias:

45% Neutras

33% Negativas

22% Positivas

O pedido de desculpas do Estado brasilieiro aos indígenas Krenak e Guarani Kaiowá por perseguições na ditadura militar e a concessão das primeiras reparações coletivas da história foram um dos principais destaques relacionados ao país na imprensa estrangeira ao longo da semana. A abordagem foi ambivalente, com menções a avanços e problemas e continuam acontecendo, e se misturaram ainda a outras reportagens sobre destruição da floresta que projetam uma imagem mais negativa do país.

No total, foram registrados na segunda semana de abril 49 textos com menção ao Brasil nos sete veículos analisados, um volume abaixo da média semanal do iii-Brasil. A maior proporção dos textos teve tom neutro, atingindo 45% da cobertura sobre o país. As menções negativas foram 33%, e as positivas apenas 22%. 

“Brasil pede desculpas de joelhos aos indígenas pelas atrocidades que sofreram durante a ditadura”, diz uma reportagem do jornal espanhol El País. “O gesto inédito coincide com o 60º aniversário do golpe de Estado que deu início a um regime militar que matou mais de 8.300 indígenas por ação ou omissão”, complementa. O periódico publicou ainda um editorial sobre o tema, em que diz que “o importante gesto simbólico do governo Lula deve ter continuidade prática na compensação econômica e na proteção da Amazônia”.

Este tom condicional, com abordagem positiva, mas indicação de que não é o suficiente, teve espaço também em reportagem do jornal francês Le Monde: “No Brasil, pedidos de desculpas aos povos indígenas não impedirão a crise humanitária em curso. Pela primeira vez na história do país, o presidente da comissão de reparações pelos crimes da ditadura militar pediu perdão às populações indígenas. Um gesto insuficiente para estes últimos, que exigem maior reconhecimento da terra”, diz.

Esta abordagem mais crítica teve espaço também no jornal britânico The Guardian em reportagem sobre a vulnerabilidade da saúde dos indígenas no país. “Mais de 100 povos indígenas no vale do Javari, no Brasil, foram diagnosticados com sintomas semelhantes aos da gripe, aumentando o temor de que a situação possa evoluir para uma epidemia”, diz.

A questão indígena também teve destaque internacional (com enfoque mais positivo) em publicações que trataram da posse de Ailton Krenak na Academia Brasileira de Letras.

“A cultura brasileira está em festa”, diz o jornal argentino Clarín. “Ailton Krenak tornou-se nos últimos dias o primeiro indígena a ingressar na Academia Brasileira de Letras”. “Sua presença é um sinal importante para mudança de paradigmas”, afirma.

Ainda em relação à questão ambiental, teve destaque internacional (com enfoque negativo) a denúncia de que grandes marcas estrangeiras têm contribuído para o desmatamento no Brasil. 

“Jeans da Zara e H&M contribuem para a destruição das florestas do Cerrado no Brasil”, diz Le Monde. “Uma investigação da ONG britânica Earthsight denuncia o cultivo industrial de algodão no cerrado brasileiro, utilizado principalmente na fabricação de jeans”.  O Público, El País e o Clarín também narram detalhes sobre a investigação da origem do algodão das indústrias fabris da Inditex, proprietária da Zara e demais marcas, ao exigir transparência quanto ao certificado de qualidade do algodão utilizado. 

Retrospectiva 

Desde o início de abril de 2022, o iii-Brasil coletou e analisou em média 59 reportagens por semana com menções de destaque ao país nos sete veículos de imprensa analisados. 

Ao longo do levantamento, o iii-Brasil registrou em média 50% de reportagens de tom neutro, 30% de menções com tom negativo e 20% de textos positivos sobre o país. 


*Daniel Buarque é pesquisador no pós-doutorado do Instituto de Relações Internacionais da USP (ISI/USP), doutor em relações internacionais pelo programa de PhD conjunto do King’s College London (KCL) e do IRI/USP. Jornalista, tem mestrado em Brazil in Global Perspective pelo KCL e é autor de livros como Brazil’s international status and recognition as an emerging power: inconsistencies and complexities (Palgrave Macmillan), Brazil, um país do presente (Alameda Editorial) e O Brazil é um país sério? (Pioneira). É editor-executivo do portal Interesse Nacional.

Fabiana Mariutti atua como pesquisadora, professora universitária e consultora; obteve pós-doutorado, doutorado e mestrado em Administração e bacharel em Comunicação Social. Estuda a imagem, reputação e marca Brasil desde 2010. Interesse nas áreas de Place Branding e Public Diplomacy. Nomeada Place Brand Expert pelo The Place Brand Observer. Autora do recente artigo: “When place brand and place logo matches: VRIO applied to place branding” e dos livros: “Country Reputation: The Case of Brazil in the United Kingdom: Four Stakeholders’ Perspectives on Brazil’s Brand


O Índice de Interesse Internacional (iii-Brasil) é uma análise da imagem do país realizada a partir de um levantamento sistemático de dados sobre notícias que mencionam o Brasil a cada semana em sete publicações internacionais, selecionadas como representativas da imprensa internacional por serem reconhecidas internacionalmente como “newspapers of record”. São elas: The Guardian (Reino Unido), The New York Times (Estados Unidos), El País (Espanha), Le Monde (França), Clarín (Argentina), Público (Portugal) e China Daily (China).

Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional

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