A contribuição do T20 para a reunião do G20 no Brasil
Reunião de think tanks no âmbito do G20 apresenta recomendações para líderes internacionais que vão se encontrar em novembro. Encontro observou a importância das discussões sobre as mudanças climáticas e a urgência de se pensar os desafios da transição energética
Nos dias 2 e 3 de julho aconteceu a Conferência de Meio Termo do T20 (T20 Midterm Conference), um dos 13 grupos de engajamento da sociedade civil no âmbito do G20. Criado em 2012 pela presidência do México, o T20 reúne think tanks e instituições de pesquisa de diferentes países, abordando múltiplas temáticas. Durante a Conferência de Meio Termo foi lançado o Communiqué, o qual contém recomendações para os líderes do G20 que se reunirão em novembro deste ano.
As atividades do T20 foram desenvolvidas em seis forças tarefas, dentro das respectivas temáticas:
- Combate às desigualdades, à pobreza e à fome;
- ação climática sustentável e transições energéticas inclusivas e justas;
- reforma da arquitetura financeira internacional;
- comércio e investimento para o crescimento sustentável e inclusivo;
- transformação digital inclusiva; e
- fortalecimento do multilateralismo e da governança global.
Durante a conferência, foi observada a importância das discussões sobre as mudanças climáticas, sendo um tema transversal nas forças-tarefas. Há a urgência de se pensar os desafios da transição energética atualmente, não sendo mais uma questão para ser resolvida no futuro. Para isso, é necessária a participação de instituições em níveis local e global, além do envolvimento de organizações não governamentais (ONGs) e entes subnacionais.
A fome foi outro tema relevante na conferência, alinhado à proposta brasileira de lançar a Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza em seu mandato na presidência do G20. Em julho, houve a aprovação da Aliança, que contou com o Brasil e Bangladesh como os primeiros países a aderirem. No mesmo mês, houve a formalização dos documentos e a abertura da filiação para a Aliança, a qual visa uma mobilização financeira, além de compartilhamento de recursos e tecnologias. A Aliança será lançada oficialmente na reunião do G20, no Rio de Janeiro.
Além destes temas, observou-se a importância de uma força-tarefa especial para abordar a desigualdade, considerando que não é suficiente tratar indivíduos desiguais como iguais para a resolução do problema. A partir das discussões nas forças tarefas, o T20 elencou 10 recomendações transversais prioritárias ao G20, transmitidas pelo Communiqué:
- Aliança Global contra a Fome e a Pobreza;
- política fiscal progressiva e reorientação de subsídios a combustíveis fósseis para promoção da justiça climática;
- financiamento acessível para o clima, o desenvolvimento sustentável e a transição energética justa;
- tecnologia e financiamento para planos de transição energética;
- reforma do Fundo Monetário Internacional (FMI);
- Data20, plataforma para cooperação na governança de dados;
- cooperação e inclusão no uso da Inteligência Artificial;
- reforma da Organização Mundial do Comércio (OMC);
- acesso à saúde;
- traduzir em ações os compromissos do G20 em igualdade de gênero, racial e étnica.
Com o objetivo de preparar a passagem da presidência do Brasil para a África do Sul, que sediará a reunião do G20 em 2025, o Institute for Pan-African Thought and Conversation (IPATC) está acompanhando os desdobramentos das atividades no G20 Brasil para identificar se haverá uma continuidade entre os países do Brics+.
Em 2023, a mudança de status da União Africana (UA) de ente convidado a membro efetivo do G20 foi um marco na presidência da Índia. É interessante observar que até 2023, a África do Sul era o único país africano participante do bloco. Com a presença da UA no G20, há uma maior representação do Sul Global e de suas vozes em demandas como nas temáticas de reformas das instituições financeiras e impactos das mudanças climáticas.
Além disso, é possível observar que a plataforma do G20 tem sido um instrumento de projeção internacional do Brasil na volta de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência, uma vez que o Brasil tem histórico e know-how, por exemplo, no combate à fome. Isso possibilita a reinserção do Brasil nos debates internacionais, restabelecendo um maior diálogo e alinhamento com os países do Sul Global.
Resta agora acompanhar quais serão as premissas consideradas pelos líderes mundiais e o que o presidente Lula continuará defendendo como eixos principais de ação na reunião do G20, em novembro.
Camila Andrade é colunista da Interesse Nacional, pesquisadora do Pan-African Thought and Conversation (IPATC), na Universidade de Joanesburgo, e do pós-doutorado na UFPB. Doutora em ciência política pela UFRGS e pesquisadora do Grupo Áfricas: sociedade, política e cultura. É também mestre em relações internacionais pela UFSC. Suas principais linhas de pesquisa são estudos africanos e do Sul Global, Ruanda e feminismos negros. É criadora do @camilaafrika, uma comunidade de democratização dos Estudos Africanos.
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