As perspectivas para a Argentina
Em visita ao Brasil, a ministra das Relações Exteriores do governo Milei, Diana Mondino, apresentou detalhes do plano econômico da Argentina e falou sobre possíveis parcerias com o Brasil
O Fundo Monetário Internacional (FMI) previa em 2023 um crescimento da Argentina em 2024 da ordem de 2,8% , porém, com os planos econômicos e sociais do novo governo de Javier Milei, o fundo faz hoje uma previsão de crescimento negativo de 2,8 %, em função da redução dos consumos internos da ordem de 20% a 30% .
A redução dos consumos é fruto da elevada inflação, ainda persistente, estimada para 2024 para 150%, agravada por um câmbio elevado – 1.100 pesos por dólar, e as medidas de aumento das tarifas de gás, eletricidade e transporte não acompanhadas na mesma proporção pelo aumento dos salários.
Neste contexto, as exportações brasileiras para a Argentina também estão sujeitas ao momento difícil da economia e reduziram-se entre 20% e 30% dependendo do setor, notadamente o automobilístico e auto peças .
A conferência da ministra das Relações Exteriores da Argentina, Diana Mondino, realizada em abril na Fiesp apresentou alguns detalhes do plano econômico da Argentina:
- A dívida do Banco Central Argentino cresce menos, mas ainda preocupante, sendo a dívida do país superior a um PIB;
- as restrições ao acesso à compra de dólares estão paulatinamente em processo de facilitação, sendo que para as PME já existe total liberdade de acesso a divisas, e para as demais estão sujeitas à compra em quatro cotas;
- recentemente o governo argentino comemorou um equilíbrio, com leve superávit fiscal, objeto de uma política de licenciamento de funcionários públicos contratados em grande escala pelo governo anterior;
- equilíbrio fiscal é um sinal de austeridade, elemento importante para indicação à população de uma nova política econômica.
As exportações argentinas para o Brasil, concentradas em trigo e setor automobilístico têm se mantido razoáveis, afetadas claro pela forte dependência da importação de autopeças do Brasil, sujeitas à política do acesso ao câmbio.
As exportações de leite da Argentina para o Brasil aumentaram em função do câmbio e da boa produtividade do campo argentino, colocando o produto em preço inferior ao localmente produzido, ensejando por parte dos produtores brasileiros a intenção de aplicação de tarifa de importação.
O governo brasileiro não tem a intenção de aplicação de tarifa, o que contraria regras do Mercosul, mas poderá adotar a aplicação de cotas, permitindo a continuidade do comércio.
Na reunião, a ministra foi questionada pelo setor do agronegócio brasileiro sobre a situação persistente, desde a criação do Mercosul, da proibição da importação pela Argentina de açúcar, por lei federal com o objetivo de proteção dos produtores da região de Tucuman, e foi proposta a adoção igualmente de cotas para início de exportações brasileiras.
A ministra Mondino informou que foi portadora de carta do presidente Milei a Lula fazendo considerações sobre as relações políticas e comerciais entre a Argentina e o Brasil e propondo aos governos dos países do Mercosul iniciar a modernização do bloco, em função das alterações das relações internacionais , em especial as mudanças do clima.
Em recente viagem aos Estados Unidos com o objetivo de encontrar o megainvestidor Elon Musk, seguramente interessado na exploração de mina de lítio na Argentina e pela sua relação com a produção de carros elétricos, Milei apoiou a posição de Musk contra o STF brasileiro, justificando a defesa da liberdade de expressão.
O presidente argentino tem usado decretos presidenciais para cercear as manifestações populares ou sindicais, impondo regras de punições nada liberais.
O tema mudança do clima deve ser objeto de políticas comuns dos países do Mercosul, pois verifica-se já acentuado degelo prematuro nos Andes e na Patagônia argentina, transformação na cadeia de corais da costa brasileira, objeto da nova COP a realizar-se em Belém do Pará no próximo ano.
De fato será interessante incorporar-se às discussões do bloco temas como meio ambiente à luz do novo mercado de carbono onde os países do Mercosul apresentam vantagens comerciais competitivas, além dos temas de posicionamento conjunto sobre clima.
Uma próxima reunião de cúpula do Mercosul deve ser convocada pelo Paraguai, país na coordenação do bloco, e será uma oportunidade para trabalhar-se para um consenso e abordagem dos novos temas.
Mario Mugnaini Jr. é colunista da Interesse Nacional, engenheiro industrial químico e empresário, foi vice-presidente da Fiesp/Ciesp entre 1998 e 2002, secretário executivo da Câmara de Comércio Exterior Camex MDIC entre 2003 e 2007 e presidente da Investe SP, Agência Paulista de Investimentos e Competitividade de 2009 a 2011.
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