02 maio 2024

Brasil possui grande potencial na extração de lítio, mas precisa aprimorar a infraestrutura

“O que a gente precisa é concentrar esforços em desenvolver nossas minas, buscar recursos, trabalhar na infraestrutura e tornar a distribuição e o escoamento da produção competitivos em relação aos preços internacionais”, afirma Giorgio de Tomi

O lítio tem várias aplicações industriais e é tradicionalmente produzido em várias partes do mundo (Foto: Flickr-CC)

Minério indispensável às baterias recarregáveis utilizadas em uma enorme gama de produtos eletrônicos e na eletromobilidade, o lítio é visto como o petróleo do século XXI e já vem sendo chamado de “ouro branco”. A América Latina detém 68% das reservas e pode tornar-se central para a transição energética e novas tecnologias, mas há obstáculos políticos, industriais e logísticos envolvidos no processo de extração e manipulação do material. O professor Giorgio de Tomi, da Escola Politécnica (Poli) da Universidade de São Paulo, analisa a produção do minério no Brasil e os desafios enfrentados por essa indústria.

Segundo o professor, o lítio tem várias aplicações industriais e é tradicionalmente produzido em várias partes do mundo, mas, recentemente, a dinâmica de sua produção mudou a partir do compromisso que vários países fizeram de converter os motores de gasolina para motores elétricos. Dessa forma, a demanda pelo lítio para a geração de baterias aumentou consideravelmente e iniciou a chamada “corrida do ouro do lítio”.

Locais

De acordo com o especialista, as maiores reservas de lítio no continente sul-americano estão na Argentina e no Chile, contudo, as minas brasileiras são mais vantajosas, porque o material encontrado nelas está na forma de pegmatito, que é uma forma mais dura da rocha. A vantagem dessa estrutura é a de menor custo para produção do concentrado de lítio a partir da rachadura dessas pedras.

“Isso torna o Brasil competitivo e tem chamado atenção no mercado internacional para as reservas brasileiras. Existem no território brasileiro duas grandes províncias de extração: a maior delas é no Vale do Jequitinhonha, no norte de Minas Gerais, onde já existem minas em operação, e a outra é na Província de Borborema, no Nordeste brasileiro”, explica.

Desafios

Para o docente, o principal desafio para o maior desenvolvimento da extração do minério no país é a infraestrutura para dar apoio à montagem das minas e ao escoamento do minério. Ele reforça que a frota brasileira de veículos é bastante extensa e, quando ocorrer a transição dos motores de combustão interna para os elétricos, vai haver uma alta demanda de lítio na indústria.

De Tomi explica que o Brasil está em uma posição privilegiada na produção responsável de baterias de lítio, uma vez que não utiliza barragens no processo de extração. Além disso, ele destaca os esforços nacionais para a reciclagem das baterias de lítio, com a Escola Politécnica da USP, inclusive, mantendo o Laboratório de Reciclagem, Tratamento de Resíduos e Extração (Larex), especialista no tratamento desses materiais para uma manipulação responsável.

Conforme o professor, o Código de Mineração do Brasil, apesar de precisar de melhorias, funciona adequadamente e atende às necessidades da demanda nacional. Ele reforça que algumas propostas de melhorias na legislação já estão em discussão na Câmara e no Senado e, de maneira geral, o mercado avalia o Brasil como um país de grande potencial minerador e com uma legislação robusta e que dá apoio ao desenvolvimento dessa indústria.

“Há, sim, melhorias que podem ser feitas, mas não acho que sejam entraves para o caso da mineração do lítio, o que a gente precisa é realmente concentrar esforços em desenvolver nossas minas, buscar recursos, trabalhar na infraestrutura e tornar a distribuição e o escoamento da produção competitivos em relação aos preços internacionais”, finaliza.

Este texto é uma reprodução autorizada de conteúdo do Jornal da USP - https://jornal.usp.br/

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