16 setembro 2025 Condenação de Bolsonaro cria imagem positiva e mais do que duplica visibilidade do Brasil no exterior
Editoriais da imprensa estrangeira exaltam a força da democracia brasileira e defendem que decisão da Justiça é um avanço para o país e serve como exemplo na luta contra o autoritarismo
iii-Brasil – de 8 a 14/09/2025
Visibilidade: 128 reportagens em 7 veículos analisados
Classificação das notícias:
37% Neutras
16% Negativas
47% Positivas
A condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro a 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado mais do que duplicou a visibilidade internacional do Brasil e impulsionou uma imagem majoritariamente positiva do país. O número de menções ao Brasil na imprensa estrangeira mais do que duplicou durante a semana, em um dos períodos com mais citações ao país no exterior já registrados e com mais textos com tom favorável para a reputação brasileira no mundo..
No total, foram registrados na segunda semana de setembro 128 textos com menção ao Brasil nos sete veículos analisados, volume muito acima da média semanal do Índice de Interesse Internacional (iii-Brasil). O período registrou uma maioria de textos de tom positivo (47%), 37% de menções neutras e apenas 16% de repercussão negativa.
Entenda como funciona o iii-Brasil
O número de citações ao país na imprensa estrangeira no período analisado foi 120% mais alto do que a média. Desde abril de 2022, apenas dois outros períodos registraram uma visibilidade maior do país: as primeiras semanas de janeiro de 2023, com a posse de Luiz Inácio Lula da Silva e os ataques bolsonaristas aos Três Poderes, e a visita de Xi Jinping ao Brasil, quando a cobertura na imprensa chinesa incluiu mais de cem menções ao país.
Chama atenção também o tom mais positivo da cobertura, com quase metade das citações favoráveis à imagem do Brasil. Isso inclui artigos de opinião e editoriais dos principais jornais do mundo, onde o país é descrito como uma democracia sólida que consegue combater movimentos autoritários.
Para o francês Le Monde, trata-se de “um veredito exemplar para a democracia”. “A pena de 27 anos e 3 meses de prisão para o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro é um testemunho da maturidade de um país submetido à arbitrariedade e à brutalidade de uma ditadura militar até 1985”, diz o editorial.
O espanhol El País segue uma linha parecida, argumentando que o país avançou na luta contra o autoritarismo. “A condenação do ex-presidente brasileiro pela tentativa de golpe é um alerta para aqueles que buscam desacreditar a democracia”, diz.
O argentino Clarín chamou a condenação de “transcendental” e alegou que o Brasil entrou em um terreno novo na sua política. “A condenação do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF) não é apenas mais uma decisão: é a primeira vez, em 135 anos de República, que um ex-presidente e altos comandantes militares são considerados culpados de conspiração para um golpe de Estado. A decisão, adotada pela Primeira Câmara por quatro votos a um, constitui um divisor de águas na história democrática do país e ocorre também no ano simbólico em que o Brasil comemora quatro décadas de sua redemocratização.”
No americano The New York Times, um artigo argumenta que o Brasil conseguiu fazer o que os EUA falharam na defesa da democracia. “Esses acontecimentos contrastam fortemente com os Estados Unidos, onde o presidente Trump, que também tentou anular uma eleição, foi enviado não para a prisão, mas de volta à Casa Branca”, diz.
Segundo um editorial do jornal britânico The Guardian, por exemplo, a condenação pode ser entendida como “um marco para a democracia brasileira”. “Embora o ex-presidente de extrema direita tenha sido responsabilizado por supervisionar o complô, apoiadores no país e no exterior ainda se unem à sua causa”, alerta. Muitos dos jornais estrangeiros também tocam neste ponto, descrevendo movimentos em defesa pela anistia ao ex-presidente, mas com um tom mais crítico em relação a isso.
Além da condenação de Bolsonaro, assunto que dominou a imprensa estrangeira no período, os jornais internacionais também mencionaram temas culturais do país por conta de duas perdas marcantes: as mortes de Angela Ro Ro e de Hermeto Paschoal.
“O músico brasileiro Hermeto Pascoal, que tocou — e até lutou boxe — com Miles Davis e era conhecido como ‘o Feiticeiro’ por arrancar melodias de tudo, desde um leitão vivo até chaleiras cheias de água”, diz o Guardian.
Retrospectiva
Desde o início de abril de 2022, o iii-Brasil coletou e analisou em média 58 reportagens por semana com menções de destaque ao país nos sete veículos de imprensa analisados.
Ao longo do levantamento, o iii-Brasil registrou em média 52% de reportagens de tom neutro, 27% de menções com tom negativo e 21% de textos positivos sobre o país.
O Índice de Interesse Internacional (iii-Brasil) é uma análise da imagem do país realizada a partir de um levantamento sistemático de dados sobre notícias que mencionam o Brasil a cada semana em sete publicações internacionais, selecionadas como representativas da imprensa internacional por serem reconhecidas internacionalmente como “newspapers of record”. São elas: The Guardian (Reino Unido), The New York Times (Estados Unidos), El País (Espanha), Le Monde (França), Clarín (Argentina), Público (Portugal) e China Daily (China). O iii-Brasil é produzido semanalmente pela equipe do portal Interesse Nacional e pela pesquisadora Fabiana Gondim Mariutti atua como pesquisadora, professora universitária e consultora. Ph.D. na Inglaterra, pós-doutorado, doutorado e mestrado em Administração, bacharel em Comunicação Social no Brasil e senior high school year nos EUA. Estuda a imagem, reputação e marca Brasil desde 2010. Interesse nas áreas de Place Branding e Public Diplomacy. Nomeada Place Brand Expert pelo The Place Brand Observer, na Suíça. Colunista no Portal Interesse Nacional e do iii-Brasil. Autora de artigos científicos, dois livros e sete capítulos de livros. Em 2025, no Handbook on Public Diplomacy, publica o capítulo "The Brazilian way: Public diplomacy as a means for positive image and global prestige"
Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional
