29 setembro 2025

Entre defesa e diplomacia: O papel da indústria militar brasileira no cenário internacional

O país vem utilizando sua indústria de defesa como instrumento de inserção internacional, combinando capacidades tecnológicas, diplomacia e projeção de poder

A aeronave KC-390 Millennium da Embraer (Foto: Embraer)

O recente interesse do Marrocos na aquisição de aeronaves militares KC-390 Millennium da Embraer, em um acordo estimado em US$ 600 milhões, evidencia uma tendência estratégica mais ampla na política de defesa e externa do Brasil. Mais do que uma operação comercial isolada, o caso ilustra como o país vem utilizando sua indústria de defesa como instrumento de inserção internacional, combinando capacidades tecnológicas, diplomacia e projeção de poder.

Do ponto de vista da política de defesa, a venda de equipamentos militares avançados fortalece a percepção de que o Brasil possui capacidade tecnológica confiável e competitiva, consolidando a Embraer como fornecedora internacional de soluções estratégicas. Isso não apenas gera impacto econômico direto, mas também legitima o país como ator capaz de participar de cadeias de produção e cooperação em defesa em nível global, criando um novo canal de influência que vai além das tradicionais parcerias regionais na América Latina.

‘Ao fornecer tecnologia militar a parceiros estratégicos, o Estado sul-americano projeta soft power, reforçando sua imagem de parceiro confiável e diplomático’

Na perspectiva da política externa, negócios como esse com o Marrocos ampliam o alcance diplomático brasileiro para além do seu Entorno Estratégico e Brics+, no que diz respeito a relações do Sul Global ou geopolítico. Ao fornecer tecnologia militar a parceiros estratégicos, o Estado sul-americano projeta soft power, reforçando sua imagem de parceiro confiável e diplomático.

Esse tipo de transação cria vínculos bilaterais que podem se estender para áreas de cooperação política, econômica e de segurança, posicionando o Brasil como um ator relevante em arenas multilaterais e em discussões sobre segurança regional e global.

Dessa maneira, a inserção internacional brasileira não se restringe à presença em organismos multilaterais ou à diplomacia tradicional. Ela se manifesta também por meio da diplomacia industrial e tecnológica, em que a capacidade de produção nacional de equipamentos de defesa serve como ferramenta estratégica de influência.

‘Ao consolidar sua reputação como fornecedor de tecnologia militar avançada, o país amplia seu poder de negociação e fortalece seu papel no mercado global’

Ao consolidar sua reputação como fornecedor de tecnologia militar avançada, o país amplia seu poder de negociação, cria oportunidades de parcerias internacionais e fortalece seu papel em um mercado global altamente competitivo e politicamente sensível.

Desse modo, o caso do Marrocos funciona como uma ilustração concreta dessa estratégia, ressaltando a intercorrelação entre a política de defesa brasileira e a política externa, voltada para a Inserção Internacional do país.

Assim, demonstrando como investimentos em capacidade tecnológica e industrial não apenas garantem autonomia e segurança nacional, mas também ampliam a projeção de poder do país e sua relevância estratégica fora do continente americano.

Logo, o Brasil se posiciona de maneira proativa, articulando modernização interna e inserção internacional, consolidando-se como um ator global na indústria de defesa e como parceiro estratégico em regiões de importância geopolítica crescente.

Amanda Marini é internacionalista e cientista militar. Professora de política internacional contemporânea da especialização em história contemporânea e relações internacionais da PUC-PR e do curso livre sobre guerra e geopolítica do Oriente Médio da FESPSP. Além de palestrante e escritora, também é autora do livro “Quando A Guerra Não Tem Fim”, que fala sobre os conflitos no Iraque

Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional

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