iii-Brasil: Série de reportagens sobre a Amazônia impulsiona imagem negativa do país

Artigos publicados pelo jornal francês ‘Le Monde’ destacaram problemas ambientais, destruição, desrespeito aos direitos humanos e violência na região da floresta, ampliando a proporção de menções prejudiciais à reputação brasileira na imprensa internacional

Por Daniel Buarque e Fabiana Mariutti*

iii-Brasil – 22 a 28 de agosto de 2022

Visibilidade: 55 textos

Classificação das notícias:

60% Neutras

35% Negativas

5% Positivas

Uma série de reportagens especiais publicadas pelo jornal francês Le Monde sobre a situação da Amazônia brasileira voltou a aumentar a proporção de notícias com tom negativo sobre o país na imprensa internacional. A questão ambiental tem sido uma mancha na reputação do Brasil no exterior pelo menos desde 2019, e tem sido um dos principais problemas na imagem do país desde o assassinato de Dom Phillips e Bruno Pereira, em junho.

A coleta de dados do Índice de Interesse Internacional (iii-Brasil) encontrou na quarta semana de agosto o total de 55 artigos com menções de destaque ao Brasil nos sete veículos de imprensa estrangeiros analisados. O período registrou 35% dos textos com tom negativo, mas a maioria de reportagens com descrição factual de notícias sobre o país, sem indicação de prejuízo a sua imagem internacional, com 60% de textos de tom neutro. Além disso, houve uma redução das reportagens positivas (5%).

‘No Coração da Amazônia’ é o nome da série especial publicada pelo jornal francês. Ela é resultado de um trabalho de apuração que durou quatro semanas atravessando a Transamazônica para “descobrir a imensidão ameaçada pelo desmatamento, pela agricultura intensiva e pelo tráfico”. 

No total, foram seis longas reportagens reunidas na série (uma delas publicada na semana anterior). Em todos os textos, o tom da descrição é negativo e aponta problemas nas políticas brasileiras para proteger a região como um todo. A série se refere a Altamira como “cemitério da floresta”, diz que há regiões inteiras onde o “boi é o rei”, trata do envenenamento de rios por garimpeiros, dos ataques a indígenas e da mentalidade conservadora de pastores que atuam na Amazônia.

A questão da Amazônia também teve destaque  durante a semana no diário britânico The Guardian, que tem sido um crítico contumaz da política ambiental brasileira nos últimos anos. 

O jornal teve uma abordagem mais noticiosa, entretanto, com uma reportagem a respeito da morte do último membro de uma tribo indígena, que era conhecido como ‘índio do buraco’. Uma outra reportagem de destaque até teria potencial de ter um viés positivo, por tratar do aumento do número de candidatos indígenas, mas a reportagem enfoca em sua maior parte os problemas ligados às políticas atuais do país para essas populações e ataques sofridos por elas durante o governo de Bolsonaro. 

Apesar do enfoque em sua maior parte negativo, o The Guardian também publicou uma reportagem mais positiva, com um relato sobre a atuação de ativistas indigenistas que têm atuado para completar o que Bruno Pereira via como uma missão de proteção de populações indígenas.

Além do destaque dado a questões ambientais e sobre a Amazônia, a política também continua chamando a atenção da imprensa internacional, que acompanha de perto a disputa das eleições presidenciais deste ano e as ameaças à democracia brasileira. 

O jornal americano The New York Times publicou uma reportagem bastante aprofundada sobre as ameaças autoritárias no país. Segundo o texto, a principal questão relacionada às eleições presidenciais é saber se vai ou não haver um golpe de Estado. “Uma pergunta simples, mas alarmante, está dominando o discurso político no Brasil a apenas seis semanas das eleições nacionais: o presidente Jair Bolsonaro aceitará os resultados?”, questiona.

O tema também apareceu nas páginas do jornal espanhol El País, que publicou uma reportagem sobre a mobilização de empresários a favor de Bolsonaro que defendem que ele dê um golpe em caso de derrota – e sobre a operação da Polícia Federal contra as ameaças à democracia. No jornal argentino Clarín, um texto sobre a entrevista do presidente ao Jornal Nacional destaca que ele enfrenta jornalista e diz que é “incentivado a ser um ditador”. E o português Público deu espaço para uma longa análise sobre a degradação da democracia brasileira e os ataques do presidente às instituições do país. O jornal portugês também reforça a polarização pré-eleitoral há um pouco de um mês das eleições – linha editorial reincidente nas últimas semanas.

Retrospectiva 

Desde o início de abril, o iii-Brasil, ao estudar a imagem internacional do Brasil, coletou e analisou em média 54 reportagens por semana com menções de destaque ao país nos sete veículos de imprensa analisados. 

Na maioria das semanas, entretanto, o total de citações de destaque ao país não passou de 50, mas a média é puxada para cima especialmente pelas três semanas de junho em que se registrou o desaparecimento e a morte de Dom Phillips e Bruno Pereira, quando foi registrado o pior momento do resultado geral do iii-Brasil. O caso aumentou muito o volume da cobertura de imprensa sobre o país no exterior. 

Ao longo do levantamento das últimas 21 semanas, o iii-Brasil registrou em média 49% de reportagens de tom neutro, 38% de menções com tom negativo e 12% de textos positivos sobre o país. 

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*Daniel Buarque é editor-executivo do Interesse Nacional, doutor em relações internacionais pelo programa de PhD conjunto do King’s College London (KCL) e do IRI/USP. É jornalista, tem mestrado em Brazil in Global Perspective pelo KCL e é autor dos livros “Brazil, um país do presente” (Alameda) e “O Brazil É um País Sério?” (Pioneira).

Fabiana Mariutti atua como professora universitária, pesquisadora e consultora; obteve pós-doutorado, doutorado e mestrado em Administração e bacharel em Comunicação Social. Estuda a marca Brasil desde 2010. Autora dos livros: “Country Reputation: The Case of Brazil in the United Kingdom: Four Stakeholders’ Perspectives on Brazil’s Brand Image” (2017) e “Country Brand Identity: Communication of the Brazil Brand in the United States of America” (2013).

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