25 abril 2023

iii-Brasil: ‘Suavização’ de discurso de Lula sobre guerra gera repercussão positiva sobre defesa da paz na Ucrânia

Apesar de EUA e UE repudiarem formalmente as declarações do presidente brasileiro, a imprensa estrangeira adotou tom favorável à tentativa brasileira de ter protagonismo internacional em defesa do fim do conflito. 

Apesar de EUA e UE repudiarem formalmente as declarações do presidente brasileiro, a imprensa estrangeira adotou tom favorável à tentativa brasileira de ter protagonismo internacional em defesa do fim do conflito

Por Daniel Buarque e Fabiana Mariutti*

iii-Brasil – de 17 a 23 de abril de 2023

Visibilidade: 104 reportagens em 7 veículos

Classificação das notícias:

51% Neutras

15% Negativas

34% Positivas

As controvérsias em torno das declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a respeito da guerra na Ucrânia tiveram uma repercussão na mídia internacional mais favorável ao país do que se poderia esperar pela polêmica gerada dentro do Brasil na última semana. Apesar de os EUA e a União Europeia terem repudiado formalmente a alegação sobre contribuírem para a continuidade da guerra, ao longo da última semana a imprensa estrangeira deu mais atenção à “suavização” do discurso brasileiro e à defesa que Lula faz da paz.

No total, foram registrados na terceira semana de abril 104 textos com menção ao Brasil nos sete veículos analisados, volume 30% acima da média semanal do Índice de Interesse Internacional (iii-Brasil). A maior proporção dos textos teve tom neutro, atingindo 51% da cobertura sobre o país. As reportagens de tom positivo foram 34% e as negativas foram apenas 15%. 

https://interessenacional.com.br/edicoes-posts/entenda-como-funciona-o-indice-de-interesse-internacional-monitoramento-de-noticias-sobre-o-brasil-no-exterior/

Apesar da reação formal das potências ocidentais, os jornais da Europa fizeram uma cobertura mais positiva do que negativa sobre a posição do Brasil. O jornal britânico The Guardian, por exemplo, fez um contraponto, com uma avaliação mais neutra do posicionamento brasileiro. Reportagem sobre a política externa brasileira enquadra as controvérsias da semana passada no contexto da tentativa do país de “resetar” o lugar do país no mundo e recuperar a reputação do país no exterior. “Para o Brasil, isso significa reconstruir e manter laços com todos os parceiros, independentemente das tensões geopolíticas em qualquer lugar”, explica. O francês Le Monde também deu mais atenção à proposta pela paz do que às críticas de Lula aos EUA e à UE. 

Após as polêmicas em torno do posicionamento brasileiro sobre a guerra, o jornal El País destacou a “suavização do discurso” de Lula. “O presidente do Brasil, que quer mediar a guerra na Ucrânia, reitera que condena a invasão após a controvérsia causada por recentes gestos e declarações”, diz.

O argentino Clarín também adotou uma postura menos crítica ao posicionamento do Brasil. Uma reportagem diz que o presidente brasileiro está levando adiante uma proposta de paz, apesar do ceticismo do Ocidente. Um outro artigo destaca que o posicionamento do presidente leva o Brasil a impulsionar uma política mundial para acabar com a guerra.

O jornal português Público fez uma cobertura variada das declarações de Lula sobre a guerra na Ucrânia. Um artigo mais crítico destacou as críticas do brasileiro à União Europeia como parte do esforço brasileiro de ter protagonismo internacional: “Bolsonaro representou para o Brasil tempos de isolamento internacional. Ora, Lula quis marcar o seu terceiro mandato com o regresso do Brasil ao centro do palco internacional. E à velha política externa de neutralidade e liderança do chamado Sul Global. Essa política assegurava-lhe, em simultâneo, interesses e desígnios: as relações económicas e políticas com os diferentes parceiros estratégicos (EUA; China; UE) e o desígnio de um perfil alto na cena internacional.”

Um outro artigo no mesmo jornal, com tom mais positivo, indicou uma aceitação do argumento do presidente brasileiro sobre a defesa da paz. Lula “jamais seria contra a Ucrânia e não o é. Lula quer paz, nunca quis guerra. Ele jamais defenderia uma guerra como essa”, diz.

O jornal português publicou ainda uma entrevista com o chanceler Mauro Vieira, que explica que as declarações  de Lula sobre o conflito “não são de neutralidade” são de quem “quer falar com todos”, pois não se pode “estimular apenas a guerra”.

Ainda, vários textos de opinião foram publicados no Público sobre esses fatos envolvendo o Brasil (Afonso, Lobo, Paiva, Pontes, Silva, Sousa,Teixeira).

Além das polêmicas sobre a guerra, a visita do presidente Lula a Portugal teve ampla visibilidade no jornal do país. O Público destacou a retomada das relações próximas entre os dois países após o esfriamento dos contatos sob Bolsonaro. “O regresso ao mínimo dos mínimos nas relações diplomáticas entre Portugal e o Brasil começa este sábado: há dez anos que um Presidente do Brasil não fazia uma visita de Estado a Portugal e há sete anos que não tinham uma cimeira bilateral”, diz uma reportagem sobre a viagem de Lula. O jornal deu destaque ainda ao resultado dos encontros diplomáticos: “Da cimeira luso-brasileira que marcou o primeiro dia da visita de Estado de Lula da Silva a Portugal – um ‘dia de reencontros’, como o descreveu António Costa –, resultaram 13 novos acordos. Da energia à educação, da ciência ao cinema, Lisboa e Brasília retomaram o diálogo, depois de sete anos em silêncio”, diz.

Já o NYTimes, ficou neutro e apenas publicou dois textos na semana, um sobre o apoio financeiro de Biden ao Fundo da Amazônia e outro sobre atualizações jurídicas de um acidente aéreo.

Retrospectiva 

Desde o início de abril de 2022, o iii-Brasil coletou e analisou em média 71 reportagens por semana com menções de destaque ao país nos sete veículos de imprensa analisados. 

Ao longo do levantamento, o iii-Brasil registrou em média 49% de reportagens de tom neutro, 33% de menções com tom negativo e 17% de textos positivos sobre o país. 


*Daniel Buarque é editor-executivo do Interesse Nacional, pesquisador do pós-doutorado do IRI-USP, doutor em relações internacionais pelo programa de PhD conjunto do King’s College London (KCL) e do IRI/USP. É jornalista, tem mestrado em Brazil in Global Perspective pelo KCL e é autor dos livros “Brazil, um país do presente” (Alameda) e “O Brazil É um País Sério?” (Pioneira).

Fabiana Mariutti atua como pesquisadora, professora universitária e consultora; obteve pós-doutorado, doutorado e mestrado em Administração e bacharel em Comunicação Social. Estuda a imagem, reputação e marca Brasil desde 2010. Autora dos livros: “Country Reputation: The Case of Brazil in the United Kingdom: Four Stakeholders’ Perspectives on Brazil’s Brand Image(2017) e Country Brand Identity: Communication of the Brazil Brand in the United States of America (2013).

O Índice de Interesse Internacional (iii-Brasil) é uma análise da imagem do país realizada a partir de um levantamento sistemático de dados sobre notícias que mencionam o Brasil a cada semana em sete publicações internacionais, selecionadas como representativas da imprensa internacional por serem reconhecidas internacionalmente como “newspapers of record”. São elas: The Guardian (Reino Unido), The New York Times (Estados Unidos), El País (Espanha), Le Monde (França), Clarín (Argentina), Público (Portugal) e China Daily (China).

Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional

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