Nova economia – A guerra pelos minérios
Fatores geopolíticos prevalecem em novo contexto de guerra comercial e protecionismo. Urge o governo brasileiro definir uma política de atração de investimentos na área da exploração mineral para beneficiar a cadeia produtiva nacional
A competição e confrontação entre os EUA e China na economia e no comércio internacional já determinaram restrições impostas por Washington à venda de semicondutores de última geração com aplicação civil e militar, entre outras restrições comerciais, justificadas pela segurança nacional norte-americana. Como era de esperar, a China tomou idênticas medidas restritivas em áreas em que sua posição internacional é favorável. É o caso da exportação de minérios estratégicos, como terras raras e o antimônio, para os países ocidentais, em especial os EUA.
A guerra comercial está instalada e o protecionismo, cada vez mais presente nas transações comerciais. Trata-se da nova economia dos dias atuais, onde fatores geopolíticos prevalecem.
A China está atuando monopolisticamente com superprodução de preços predatórios para reter o controle do fornecimento de minerais críticos, segundo o governo dos EUA. Os EUA não teriam condições de reagir sozinhos, por isso propuseram a formação de um novo grupo. As companhias chinesas controlam 90% da capacidade global de processamento de minerais raros, mais da metade do processamento de cobalto, níquel e lítio, minerais usados para fabricar baterias para veículos elétricos.
Para contornar essa dificuldade estratégica com a possível falta de minérios essenciais para a produção de bens essenciais para a indústria, inclusive a bélica, das economias ocidentais, os EUA lideraram a formação de um grupo de países chamado de Parceria para a Segurança Mineral, com o objetivo de assegurar matéria prima necessária para fabricar tudo, desde celulares, TVs e veículos elétricos até armas militares avançadas.
A Parceria para a Segurança Mineral é integrada por 17 países (EUA, Austrália, Canadá, Estônia, Finlândia, França, Alemanha, India, Itália, Japão, Coreia do Sul, Noruega, Suécia, Reino Unido e a União Europeia). Esses países estão coordenando suas ações de financiamento para o desenvolvimento e de crédito de exportação para apoiar as empresas nos países em desenvolvimento com recursos a fim de desenvolver projetos de exploração de minérios para enfraquecer o domínio da China sobre o setor, vital para as indústrias ocidentais de alta tecnologia.
Em comunicado conjunto publicado durante a Assembleia Geral da ONU, nesta semana, esses países afirmam que o grupo “fortalecerá a cooperação e promoverá a troca de informações e o co-financiamento de projetos em países em desenvolvimento”.
Há pelo menos 40 projetos de minérios críticos que deverão ser apoiados. Representantes da Black Rock, Goldman Sachs, Citigroup, Rio Tinto e Anglo American compareceram ao encontro que visava atrair investidores privados e mineradoras para investir mais nesse setor. A Corporação Internacional de Financiamento para o Desenvolvimento dos EUA (US IDFC) deverá fornecer financiamento para projeto de mineração na Tanzânia, que facilitará diminuir a dependência da China e da Indonésia no tocante ao fornecimento de níquel. O projeto Kabanda de exploração do níquel está sendo desenvolvido pela Lifezone Metals, companhia com 17% de participação da BHP.
Nesse contexto, não pode deixar de ser mencionada a proposta do governo de Washington a diversos países latino-americanos, como a Argentina, o Chile e o Brasil, para que passem a ser fornecedores preferenciais de minérios para os EUA. A Argentina e o Chile aceitaram e possivelmente poderão se beneficiar do financiamento prometido pela Parceria de Segurança Mineral. Segundo se sabe, até aqui o Brasil não respondeu à proposta norte-americana.
À luz desses novos desenvolvimentos, urge o governo brasileiro definir uma política de atração de investimentos na área da exploração mineral para que a cadeia produtiva nacional possa se beneficiar com emprego e renda locais ao invés de continuar como um grande exportador de minérios sem qualquer processamento, a exemplo do que ocorre com as commodities agrícolas.
Presidente e fundador do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE). É presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da FIESP, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo), presidente do Centro de Defesa e Segurança Nacional (Cedesen) e fundador da Revista Interesse Nacional. Foi embaixador do Brasil em Londres (1994–99) e em Washington (1999–04). É autor de Dissenso de Washington (Agir), Panorama Visto de Londres (Aduaneiras), América Latina em Perspectiva (Aduaneiras) e O Brasil voltou? (Pioneira), entre outros.
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