13 março 2025

O jeito brasileiro de fazer diplomacia pública

Livro sobre o estado da diplomacia pública no mundo inclui um capítulo que trata do Brasil e aborda como o país usa este tipo de trabalho para promover sua imagem internacionalmente

Campanha de promoção internacional da imagem do Brasil

O livro Handbook on Public Diplomacy, lançado em fevereiro de 2025 pela editora Elgar Handbooks in Political Science, fornece perspectivas contemporâneas sobre os estudos e a prática da diplomacia pública (DP), mostrando a crescente diversidade do campo. Autores especialistas de vários países identificam os desafios envolvidos na implementação de uma diplomacia pública bem-sucedida e analisam como medir e avaliar programas de forma eficaz para determinar as melhores práticas.

A seção de abertura desta obra inclui sete partes com 40 capítulos que preparam o cenário para o restante do volume examinando o passado da diplomacia pública, seu presente e novos modelos teóricos e perspectivas para sua análise no futuro. 

Na parte 1 do Handbook, renomados pesquisadores iniciam o debate, como Bruce Gregory, Nicholas Cull, Miskimmon e O’Loughlin, que abordam a inteligência artificial. E Nadia Kaneva e Cecilia Cassinger, que encerram essa parte com uma revisão da literatura sobre gênero e diplomacia pública. 

‘O livro analisa a história e a prática da diplomacia pública em vários países’

As partes II e III do compêndio analisam a história e a prática da diplomacia pública em vários países, como Estados Unidos, Reino Unido, Rússia, China, Brasil, México, Índia, Indonésia, Austrália, Coreia do Sul, Taiwan, nações árabes, entre outras regiões. Na Parte IV são apresentados tópicos e tendências; na parte V concentram-se temas metodológicos, com estudos empíricos e mensurações; na parte VI, o enfoque especial e diplomacia digital e desinformação; na parte VII, o foco especial aborda a DP, guerra e segurança nacional. Termina com a parte VIII, ao tratar das perspectivas de dois diplomatas experientes, ao unir teoria e prática, Tom Miller e Mark Taplin.

Na Parte III, autores de diferentes países origem exploram os diversos esforços de diplomacia pública de várias nações e regiões ao redor do mundo, especialmente no Sul Global. 

‘O capítulo The Brazilian way destaca as peculiaridades da diplomacia pública brasileira como um meio de comunicar a imagem positiva e obter prestígio global para o Brasil’

Como pesquisadores, eu e Daniel Buarque (coordenador acadêmico da Interesse Nacional) participamos da obra com o capítulo The Brazilian way, que destacam as peculiaridades da diplomacia pública brasileira como um meio de comunicar a imagem positiva e obter prestígio global para o Brasil. 

Este capítulo destaca o desenvolvimento da diplomacia pública no Brasil ao longo dos séculos. A abordagem brasileira à diplomacia é apresentada para ilustrar alguns casos para combinar os compromissos da PD de um país emergente com as responsabilidades do governo e/ou dos cidadãos.

O texto apresenta quatro seções: a primeira discute a importância da imagem do país, seguida por uma discussão sobre o início da diplomacia pública do Brasil, uma terceira seção sobre as políticas formais de DP no país e termina com um debate sobre o papel da mídia internacional perante atividades de DP. 

‘Os esforços da diplomacia pública brasileira devem ser entendidos dentro do contexto histórico do país, que busca prestígio internacional e uma imagem positiva no resto do mundo’

Os esforços da diplomacia pública brasileira devem ser entendidos dentro do contexto histórico do país, que busca prestígio internacional e uma imagem positiva no resto do mundo. Até mesmo antes de o país se tornar independente, projetar uma imagem internacional forte tem sido uma tarefa prioritária para o Brasil, e isso se refletiu em um esforço contínuo não apenas para interagir com outras nações, mas também para estabelecer contato com o público estrangeiro para garantir que o Brasil seria capaz de influenciar as percepções externas sobre o país. 

Mesmo que, oficialmente, esse não fosse o nome da estratégia aplicada pelos diplomatas brasileiros, o esforço para promover e melhorar a imagem do Brasil entre o público estrangeiro pode ser entendido como diplomacia pública.

‘A diplomacia pública do Brasil é moldada ao tentar responder às pressões e dinâmicas tanto externas como internas’

Pelas palavras do editor, destaca-se na Introdução do Handbook que “a diplomacia pública do Brasil é moldada ao tentar responder às pressões e dinâmicas tanto externas como internas. O capítulo usa uma abordagem histórica para demonstrar como o maior país da América tem estado, em muitos aspectos, em constante mudança, espelhando, como escrevem, ‘uma nação de 200 anos ainda em busca de sua imagem definitiva no mundo’”.

Portanto, muitos destes capítulos da obra mostram também que, embora a diplomacia pública possa ser uma ferramenta para a cooperação, a compreensão mútua e a paz, como qualquer ferramenta, também pode ser utilizada para o engano e o conflito. 

Como esta obra vai pressionar em meio a guerras geradas por séculos de mal-entendidos e ódio, e autoritarismo, polarização e desinformação, incentivam alguns a favorecer a propaganda em detrimento do público diplomacia, as lições sobre diplomacia pública que podem ser aprendidas com um Handbook como este parecem especialmente cruciais.

Fabiana Gondim Mariutti atua como pesquisadora, professora universitária e consultora. Ph.D. na Inglaterra, pós-doutorado, doutorado e mestrado em Administração, bacharel em Comunicação Social no Brasil e senior high school year nos EUA. Estuda a imagem, reputação e marca Brasil desde 2010. Interesse nas áreas de Place Branding e Public Diplomacy. Nomeada Place Brand Expert pelo The Place Brand Observer, na Suíça. Colunista no Portal Interesse Nacional e do iii-Brasil. Autora de artigos científicos, dois livros e sete capítulos de livros. Em 2025, no Handbook on Public Diplomacy, publica o capítulo "The Brazilian way: Public diplomacy as a means for positive image and global prestige".

Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional

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