06 janeiro 2023

Pelé foi mais do que um grande jogador de futebol – ele revolucionou a indústria do futebol brasileiro

Maior jogador de todos os tempos mudou a forma como as empresas viam os jogadores de futebol brasileiros e o esporte como um todo transformando a indústria do esporte e elevando a marca do Brasil em todo o mundo

Maior jogador de todos os tempos mudou a forma como as empresas viam os jogadores de futebol brasileiros e o esporte como um todo, transformando a indústria do esporte e elevando a marca do Brasil em todo o mundo

Anúncio publicitário estrelado por Pelé e repetido por Neymar, em montagem (Divulgação)

Por Christina Philippou e Sarthak Mondal*

A lenda do futebol brasileiro Pelé (1940-2022), cuja morte foi anunciada em dezembro, inspirou inúmeros torcedores com suas habilidades em campo. Mas sua contribuição para o negócio fora do campo de futebol não é menos impressionante.

Após sua aposentadoria do New York Cosmos em 1977, Pelé dirigiu sua própria empresa, Pelé Sports and Marketing.

Não era incomum que jogadores de futebol aposentados aceitassem outro emprego quando Pelé abriu seu negócio – os jogadores não recebiam as grandes quantias que recebem hoje em dia – mas o sucesso de Pelé foi incomum em termos de escopo e reconhecimento, tanto no Brasil quanto no exterior.

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Pelé mudou a forma como as empresas viam os jogadores de futebol brasileiros e o esporte como um todo. E isso tornou a indústria do futebol irreconhecível.

Jogadores brasileiros

O futebol brasileiro percorreu um longo caminho desde que chegou às finais da Copa do Mundo na década de 1950. Atualmente, 1.219 jogadores brasileiros jogam profissionalmente em 81 países diferentes, incluindo quatro das 20 transferências mais caras de todos os tempos.

‘Atualmente, 1.219 jogadores brasileiros jogam profissionalmente em 81 países diferentes, incluindo quatro das 20 transferências mais caras de todos os tempos’

A transferência de € 222 milhões de Neymar do Barcelona para o Paris Saint Germain em 2017 foi recorde.

Historicamente, no entanto, os jogadores de futebol brasileiros não eram altamente considerados pelas ligas ou patrocinadores internacionais, já que o futebol era mais voltado para a Europa. Foi o sucesso de Pelé que mudou essa percepção, levando a um maior investimento e interesse pelo futebol brasileiro.

O futebol brasileiro e a economia de um país

O crescimento do futebol brasileiro como negócio tem sido resultado direto do sucesso da seleção nacional. O Brasil venceu a Copa do Mundo da Fifa cinco vezes, um recorde, e produziu consistentemente jogadores de classe mundial como Pelé, Ronaldo e Neymar.

Enquanto Garrincha (1933-1983) elevou a “marca” global do futebol brasileiro, a indústria do dinheiro que hoje reconhecemos no futebol é mais recente – e começou com Pelé.

Aqui, o sucesso de Pelé foi ajudado pelo momento histórico – seus últimos anos de atuação e a sua aposentadoria em 1977 ocorreram quando o patrocínio internacional começou a entrar na Fifa (a Coca-Cola tornou-se patrocinadora em 1974). Mas foi o reconhecimento internacional que colocou os holofotes na seleção brasileira.

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Mais patrocínio para os órgãos dirigentes significava mais dinheiro para o esporte. No futebol inglês (onde os dados financeiros dos clubes estão amplamente disponíveis), a pesquisa mostra que os salários aumentaram de acordo com o crescimento das receitas de transmissão fornecidas pelos patrocínios. E com o crescimento do patrocínio veio a necessidade de imagens de atletas para os patrocinadores usarem – e Pelé foi a primeira escolha óbvia.

Crescimento de patrocínio

Os jogadores de futebol são atraentes para os patrocinadores porque são populares, visíveis e capazes de gerar engajamento significativo. Eles também são vistos como modelos e influenciadores, capazes de atingir um vasto público global.

A fama internacional de Pelé e o status de herói nacional o ajudaram a usar sua imagem após a aposentadoria. Essa imagem foi tão influente que a Coca-Cola o contratou para campanhas publicitárias em 2001, quando ele tinha 60 anos.

Também houve um aumento nos patrocínios de times, onde as marcas são assinadas como patrocinadoras oficiais de um time de futebol.

Como resultado, tem-se investido na construção de novos estádios e instalações de treinamento e na realização de grandes torneios internacionais, como a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.

O produto do ‘time Brasil’

A imagem global de Pelé também ajudou a elevar o perfil de seus clubes. O Santos FC tornou-se um nome familiar graças ao seu jogador mais famoso, e o New York Cosmos também se beneficiou do reconhecimento global em mercados que o futebol americano não havia alcançado anteriormente, como a Índia.

O mesmo vale para a seleção brasileira. A década de 1950 foi um período próspero para a economia brasileira, que criou um ambiente ideal para o crescimento da indústria do futebol. Pelé liderou o ataque, com o Brasil sendo campeão mundial em três de suas quatro Copas do Mundo.

Isso criou um produto do “time Brasil” em um momento em que o patrocínio estava se tornando cada vez mais parte integrante do futebol.

Mas com o crescimento também vieram problemas. A corrupção dentro da Federação Brasileira de Futebol e da Fifa tem sido bem documentada. O próprio Pelé foi contundente em suas críticas ao estado da administração do futebol no Brasil durante seu tempo como ministro Extraordinário do Esporte do país.

A economia do futebol significava interesses escusos e a política fazia uso do time culturalmente importante, um legado que ainda existe hoje.

Independentemente das questões, o legado de grandeza brasileira que Pelé expôs seguirá em frente. Como afirmava a sinopse de sua autobiografia de 2007: “mesmo quem não conhece futebol conhece Pelé”.


*Christina Philippou é professora de contabilidade e administração financeira na University of Portsmouth

Sarthak Mondal é professor de administração esportiva na University of Portsmouth


Este texto é uma republicação do site The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia o artigo original, em inglês.


Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional

Editor-executivo do portal Interesse Nacional. Jornalista e doutor em Relações Internacionais pelo programa de PhD conjunto do King’s College London (KCL) e do IRI/USP. Mestre pelo KCL e autor dos livros Brazil’s international status and recognition as an emerging power: inconsistencies and complexities (Palgrave Macmillan), Brazil, um país do presente (Alameda Editorial), O Brazil é um país sério? (Pioneira) e O Brasil voltou? (Pioneira)

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