Perspectivas do Mercosul
Estagnado nos últimos anos, bloco se vê diante da possibilidade de um importante acordo com a UE, que tem o potencial de dar um novo alento aos países sul-americanos, impulsionando negócios e ampliando a sua inserção internacional

O Mercosul regrediu institucionalmente nos últimos anos e pouco avançou em termos de sua inserção externa. Estagnado no tocante ao intercâmbio comercial como processo de integração entre os países do Cone Sul, o bloco necessita ser revigorado e revitalizado.
As informações do presidente do Conselho Europeu, Antônio Costa, de que se espera que o acordo Mercosul-União Europeia seja assinado até dezembro, podem representar uma mudança de atitude por parte dos países membros, Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.
‘O acordo precisará ser aprovado por 65% dos países do Conselho Europeu, representando 55% da população da União Europeia’
Segundo Antônio Costa, em junho ou julho, o acordo será enviado ao Conselho Europeu. A tradução para as 23 línguas dos países membros está sendo concluída, e os 27 países do bloco analisarão o acordo. Em seguida, o acordo precisará ser aprovado por 65% dos países do Conselho, órgão que reúne os chefes de Estado. Esses 65% precisarão representar 55% da população da União Europeia.
Levando em conta apenas a oposição da França, o acordo será aprovado. Se o presidente francês, Emmanuel Macron, conseguir o apoio da Itália e da Polônia – que se manifestaram contrários publicamente, mas não fecharam questão sobre isso – a aprovação do acordo será negada. Caso avance, o acordo terá de ser aprovado por maioria simples no Parlamento Europeu.
‘O governo brasileiro está trabalhando para conseguir o apoio necessário, e tudo indica que ele será aprovado de forma discreta para evitar desgastes’
O governo brasileiro está trabalhando junto aos governos europeus, em especial os ainda hesitantes, para conseguir o apoio necessário. Tudo indica que o acordo será aprovado de forma discreta para evitar desgastes.
O fator mais importante para a aprovação do acordo Mercosul-UE é a geopolítica em função das grandes transformações que estão ocorrendo na economia global e na ordem internacional em consequência da destruição do sistema multilateral (OMC) e do impacto sobre todos os países pelas medidas tarifárias e de proteção comercial tomadas pelos EUA.
‘A aprovação do acordo daria novo alento ao Mercosul, tanto do ponto de vista interno quanto no de sua inserção externa’
A aprovação do acordo com a União Europeia daria novo alento ao Mercosul, tanto do ponto de vista interno, nos quatro países, sobretudo a partir do renovado interesse do setor privado, quanto no de sua inserção externa.
Nesse sentido, poderão ser negociados novos acordos comerciais com países extra regionais, como o México, o Canadá, os Emirados Árabes Unidos e países asiáticos, seguindo o exemplo de Cingapura. Como já fez o Uruguai, o Brasil e os demais membros do Mercosul poderiam também pedir a adesão do bloco ao CCTPP (o TransPacific Partnership), que congrega o Japão e mais 11 países asiáticos (os EUA se retiraram e a China esta pedindo para entrar).
Espera-se que haja vontade política dos governos do grupo para promover a revitalização do Mercosul, a modernização de seus órgãos institucionais, e a aceleração das negociações comerciais.
Presidente e fundador do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE). É presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da FIESP, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo), presidente do Centro de Defesa e Segurança Nacional (Cedesen) e fundador da Revista Interesse Nacional. Foi embaixador do Brasil em Londres (1994–99) e em Washington (1999–04). É autor de Dissenso de Washington (Agir), Panorama Visto de Londres (Aduaneiras), América Latina em Perspectiva (Aduaneiras) e O Brasil voltou? (Pioneira), entre outros.
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