23 maio 2025

Problemas na tríplice fronteira e na Rússia

A tríplice fronteira tem sido alvo de preocupação das autoridades de Washington há algum tempo. Alguns setores do governo brasileiro temem que essas ações possam representar o início de uma ofensiva de Trump na região, eventualmente adotando sanções

(Ilustração criada com IA)

Em artigo recente, comentei que poderia haver uma ameaça dos EUA ao Brasil com a notícia de que o governo Trump estava monitorando as remessas de recursos financeiros por palestinos ao Irã a partir da tríplice fronteira entre o Brasil, Argentina e Paraguai.  Agora, essa ameaça se concretizou por meio de uma nota oficial em que o Departamento de Estado informa que está oferecendo recompensa para obter informações sobre as redes financeiras do Hezbollah na área da tríplice fronteira. 

Trata-se da primeira ação do governo Donald Trump de combate ao terrorismo na tríplice fronteira, oferecendo uma recompensa permanente de até US$ 10 milhões por informações que “levem ao rompimento dos mecanismos financeiros da organização terrorista Hezbollah”, em especial no Brasil e região.

‘O programa está buscando informações sobre os financiadores e facilitadores do Hezbollah que geram receita para a organização terrorista’

Como parte desse oferecimento de recompensa, o programa está buscando informações sobre os financiadores e facilitadores do Hezbollah que geram receita para a organização terrorista por meio de atividades ilícitas como lavagem de dinheiro, tráfico de narcóticos, contrabando de carvão vegetal e petróleo, comércio ilícito de diamantes, contrabando de itens como dinheiro, cigarros e artigos de luxo, falsificação de documentos e falsificação de dólares norte-americanos. Segundo o governo dos EUA, o Hezbollah é uma organização terrorista, sediada no Líbano, que recebe armas, treinamento e financiamento do Irã.

A tríplice fronteira tem sido alvo de preocupação das autoridades de Washington há algum tempo. Foi mesmo constituído um grupo integrado por Argentina, Brasil, Paraguai e EUA para acompanhar as atividades ilícitas nessa região, com forte presença de imigrantes palestinos.

‘Alguns setores do governo brasileiro temem que essas ações possam representar o início de uma ofensiva de Trump na região, eventualmente adotando sanções’

Alguns setores do governo brasileiro temem que essas ações possam representar o início de uma ofensiva de Trump na região, eventualmente adotando sanções. O foco é o financiamento de grupos ligados ao Irã que, nos últimos meses, passou a ser alvo de medidas da Casa Branca num esforço para forçar a negociação sobre o programa nuclear do regime de Teerã. 

O governo de Washington manteve entendimentos com o governo brasileiro para incluir organizações criminosas, como o PCC, como “terroristas”, o que não foi acolhido pelo governo brasileiro pelas implicações dessa definição, inclusive quanto a eventuais sanções ao país.

‘O anúncio do Departamento de Estado acontece depois de conversa que teria ocorrido em Brasília entre o Senador Flávio Bolsonaro com enviados do governo Trump’

O anúncio do Departamento de Estado com promessa de recompensa por informações acontece depois de conversa que teria ocorrido em Brasília entre o Senador Flávio Bolsonaro com enviados do governo Trump. Segundo se informou, o Senador teria mencionado a vinculação do PCC com o Hezbollah e teria mesmo defendido que os grupos criminosos brasileiros deveriam ser qualificados como entidades terroristas.

Por outro lado, a Europa anunciou nesta semana mais pressão sobre a Rússia por conta da não negociação de cessar fogo na guerra na Ucrânia. 

‘O 17º pacote de sanções da União Europeia contra a Rússia inclui sanções contra países que importam petróleo russo, o que afetará diretamente o Brasil’

O 17º pacote de sanções da União Europeia contra a Rússia inclui sanções contra países que importam petróleo russo, o que afetará diretamente o Brasil. Em 2024, a Rússia foi o principal exportador de diesel para o Brasil, com 70% das importações totais. Com as sanções europeias, as empresas brasileiras importadoras vão ter de buscar fornecedores alternativos, com preços possivelmente mais elevados e reflexos sobre os preços internos do diesel.

Presidente e fundador do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE). É presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da FIESP, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo), presidente do Centro de Defesa e Segurança Nacional (Cedesen) e fundador da Revista Interesse Nacional. Foi embaixador do Brasil em Londres (1994–99) e em Washington (1999–04). É autor de Dissenso de Washington (Agir), Panorama Visto de Londres (Aduaneiras), América Latina em Perspectiva (Aduaneiras) e O Brasil voltou? (Pioneira), entre outros.

Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional

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