Pesquisador e jornalista, Bruno Paes Manso explica que foi por ironia da história, que veio do sofrimento e das mazelas acumuladas no sistema penitenciário, a chama para a criação e a promoção de uma nova governança, tocada pelos próprios presos e que transformou a cena criminal paulista em primeiro lugar, e depois a nacional. Um modelo de governança criminal mediado por facções de base prisional, profissional e articulado, que se aproveita das brechas e dos erros das políticas públicas. Há estimativas da existência de mais de 50 facções espalhadas pelas prisões e quebradas de todos os estados do Brasil.
Como brasileiro e carioca, identifico-me com milhões de pessoas que veem como um enorme risco à população e às instituições a escalada do tráfico, da violência e da criminalidade no Rio de Janeiro. Um ambiente de caos na segurança pública permeia a cidade: três ex-governadores presos; assombroso saldo de assassinatos de civis; mais de uma centena de policiais mortos no ano passado; envolvimento de comandantes da polícia militar com facções criminosas, segundo o ministro da Justiça, e reconhecimento, pelo governador do estado, da incapacidade de garantir a ordem pública.
Faz 30 anos que o Brasil acordou um contrato social democrático, traduzido em nossa Constituição de 1988, que buscava selar a paz entre Estado e sociedade e propor um pacto social pautado na garantia de direitos civis e humanos. Após décadas de regime ditatorial, o país emergia disposto a construir um projeto de reformas modernizantes que o colocaria em linha com as nações mais desenvolvidas do mundo e que incorporasse milhões de brasileiros a um novo modelo de desenvolvimento mais digno e justo. Infelizmente, essa energia de mudança não enfrentou todos os nossos fantasmas e há temas quase que intocados até hoje.