iii-Brasil: Eleição duplica interesse internacional pelo Brasil na mídia estrangeira
Cobertura sobre política levou à publicação de 107 reportagens de destaque sobre o Brasil nos sete veículos de imprensa analisados pelo Índice de Interesse Internacional, quase duas vezes a média de 55 textos registrados por semana desde o início do levantamento – maioria das reportagens tinha tom negativo
Cobertura sobre política levou à publicação de 107 reportagens de destaque sobre o Brasil nos sete veículos de imprensa analisados pelo Índice de Interesse Internacional, quase duas vezes a média de 55 textos registrados por semana desde o início do levantamento – maioria das reportagens tinha tom negativo
Por Daniel Buarque e Fabiana Mariutti*
iii-Brasil – 26 de setembro a 2 de outubro de 2022
Visibilidade: 107 reportagens em 7 veículos analisados
Classificação das notícias:
48% Negativas
40% Neutras
12% Positivas
A cobertura sobre as eleições brasileiras ampliou fortemente o interesse da mídia internacional pelo país. Reportagens sobre a situação política do Brasil, os candidatos, as crises, os riscos à democracia e a importância da decisão para o posicionamento global do país tiveram um grandioso destaque ao redor do mundo.
Na semana de 26 de setembro a 2 de outubro, encerrada no domingo, dia da votação, foram registradas 107 reportagens com menções de destaque ao Brasil nos sete veículos da imprensa estrangeira analisados pelo Índice de Interesse Internacional (iii-Brasil). O volume recorde de textos coletados é praticamente o dobro da média de 55 textos por semana registrados desde o início da análise, em abril de 2022.
O período registrou 48% de textos com tom negativo, com potencial de piorar a imagem internacional do país. Além disso, 40% das reportagens analisadas tinham tom neutro, ou seja, assuntos com natureza factual sobre o país, sem indicação de prejuízo a sua reputação no exterior. O total de notícias positivas, com potencial de melhorar a imagem do país, cresceu no período, passando de 6% na semana anterior, para 12%.
Menções aos problemas da instabilidade da política brasileira, as ameaças à democracia e balanços críticos dos quatro anos de governo de Jair Bolsonaro levaram ao alto registro de reportagens com tom negativo no período. Curiosamente, entretanto, também houve uma alta nos textos de tom positivos, que indicavam pontos ainda fortes do país, o aumento da diversidade das candidaturas e caminhos promissores para o Brasil seguir após as eleições.
Publicações consideráveis no exterior, como pelo jornal português Público, o americano The New York Times, o francês Le Monde e o britânico The Guardian, publicaram muitas reportagens sobre a eleição, com predomínio de contextos desfavoráveis à reputação brasileira.
As notícias negativas prevalecem no Público, em uma delas, as eleições no Brasil retrata a desesperança como estratégia política, e, que “Mais do que nunca é preciso contra-atacar o medo com coragem”. Outra reportagem no Público com teor desfavorável à imagem do país elucida que “Bolsonaro banalizou a palavra corrompida através da desinformação, que ora leva à desconfiança, ora à verdade cega; do incentivo a comportamentos violentos, intolerantes e autoritários da população contra riscos e fantasmas inexistentes, defendendo discursos e políticas de posse de armas; mas também da omissão e da manipulação de políticas fundamentais”.
O diário NYT dos EUA deu mais atenção a reportagens tratando da sombra de riscos à democracia, da tensão política no país e das crises de âmbito sócio-econômico que o Brasil vem enfrentando. Já os jornais do Reino Unido e da França focaram especialmente problemas ambientais associados ao governo de Bolsonaro.
The Guardian, que historicamente é um dos veículos internacionais mais críticos a Bolsonaro, usou um tom positivo apenas ao falar sobre a possibilidade de mudança política no país. Como dizia o título de uma das reportagens, foi uma cobertura mais voltada à “esperança” em torno das eleições, com textos que tratavam da possível volta de Lula ao poder. O periódico inglês The Guardian já havia se posicionado em semanas anteriores sobre com uma linha editorial apresentada como uma necessidade de mudança nos rumos da política brasileira. Mas o tom da cobertura eleitoral foi evidentemente mais favorável a Lula, com reportagens de tom bem positivo associadas ao ex-presidente. Um segundo turno, dizia o jornal no dia da eleição, podia trazer tumulto, violência e incerteza ao país.
No argentino Clarín, afirma que as após as eleições no Brasil, o futuro presidente terá que lidar com um “Congresso fragmentado e com pouca renovação”. Outro texto publicado expõe que a economia pode ser “uma maçã venenosa” para o próximo presidente, pois degundo analistas, seus atuais indicadores escondem problemas como o aumento da inflação e mais dívidas do que há 4 anos. Já o espanhol El País registra o aumento exponencial de militares e policiais como candidatos de postos políticos na eleição.
Entre os jornais analisados, somente o China Daily deixou de dar destaque às eleições brasileiras. A publicação chinesa publicou um texto sobre o primeiro turno nesta segunda-feira (que, portanto, vai ser contabilizado apenas no próximo relatório), mas não chegou a dar muita atenção a uma apresentação do pleito. No período analisado, o jornal publicou apenas duas reportagens com menções de destaque para o Brasil, ambas positivas e com foco em parcerias entre o país e a China.
Dois textos primorosos favoráveis à reputação brasileira sobre inclusão politica e direitos humanos aparecem na apreensiva semana das eleições do Brasil. Um texto no Público se refere ao censos brasileiros que vão incluir a contagem de comunidades fundadas por escravos, ao mencionar que alguns pretendem participar na política do Brasil; e o The Guardian expõe e exemplifica a recente possibilidade de candidaturas de grupos de mulheres, mulheres afro-descendentes, indígenas e variedade de gêneros.
Como alternativa de entretenimento sobre a brasilidade do país, o Público apresenta o lançamento da nova rádio online Brasil 200, a nova comunicação para divulgação da cultura brasileira, cuja programação está ancorada em novos conteúdos, material de arquivo, com foco na cultura, esporte, história e política.
Retrospectiva
Desde o início de abril, o iii-Brasil, ao estudar a imagem internacional do Brasil, coletou e analisou em média 58 reportagens por semana com menções de destaque ao país nos sete veículos de imprensa analisados.
Ao longo do levantamento das últimas 25 semanas, o iii-Brasil registrou em média 50% de reportagens de tom neutro, 39% de menções com tom negativo e 11% de textos positivos sobre o país.
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*Daniel Buarque é editor-executivo do Interesse Nacional, doutor em relações internacionais pelo programa de PhD conjunto do King’s College London (KCL) e do IRI/USP. É jornalista, tem mestrado em Brazil in Global Perspective pelo KCL e é autor dos livros “Brazil, um país do presente” (Alameda) e “O Brazil É um País Sério?” (Pioneira).
Fabiana Mariutti atua como professora universitária, pesquisadora e consultora; obteve pós-doutorado, doutorado e mestrado em Administração e bacharel em Comunicação Social. Estuda a marca Brasil desde 2010. Autora dos livros: “Country Reputation: The Case of Brazil in the United Kingdom: Four Stakeholders’ Perspectives on Brazil’s Brand Image” (2017) e “Country Brand Identity: Communication of the Brazil Brand in the United States of America” (2013).
O Índice de Interesse Internacional (iii-Brasil) é uma análise da imagem do país realizada a partir de um levantamento sistemático de dados sobre notícias que mencionam o Brasil a cada semana em sete publicações internacionais, selecionadas como representativas da imprensa internacional por serem reconhecidas internacionalmente como “newspapers of record”. São elas: The Guardian (Reino Unido), The New York Times (Estados Unidos), El País (Espanha), Le Monde (França), Clarín (Argentina), Público (Portugal) e China Daily (China). O iii-Brasil é produzido semanalmente pela equipe do portal Interesse Nacional e pela pesquisadora Fabiana Mariutti. Professora universitária e consultora; obteve pós-doutorado, doutorado e mestrado em Administração e bacharel em Comunicação Social. Estuda a imagem, reputação e marca Brasil desde 2010. Interesse nas áreas de Place Branding e Public Diplomacy. Nomeada Place Brand Expert pelo The Place Brand Observer, na Suíça. Autora do recente artigo: “When place brand and place logo matches: VRIO applied to Place Branding”, de dois livros e sete capítulos de livros.
Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional