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Interesse Nacional
24 outubro 2023

Mario Mugnaini Jr: As exportações para a Argentina – um problema

Parceria histórica entre os dois países enfrenta desafios impulsionados por crise econômica e tensão política no cenário argentino. Para especialista, uma retomada das relações deve ocorrer apenas após as eleições no país vizinho, e as exportações brasileiras continuarão sofrendo com o retardamento das autorizações governamentais e a dificuldade de pagamentos

Parceria histórica entre os dois países enfrenta desafios impulsionados por crise econômica e tensão política no cenário argentino. Para especialista, uma retomada das relações deve ocorrer apenas após as eleições no país vizinho, e as exportações brasileiras continuarão sofrendo com o retardamento das autorizações governamentais e a dificuldade de pagamentos

Reunião entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Alberto Fernández durante visita do brasileiro a Buenos Aires, em janeiro (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

Por Mario Mugnaini Jr.*

O intercambio comercial entre a Argentina e o Brasil tem sido pautado por uma forte concentração de produtos industriais, mas a situação econômica vivida atualmente pela Argentina pode complicar as operações, em função da dificuldade em divisas que sofre o país.

Nos anos de 2021 e 2022 o comércio, abalado pela crise da pandemia de Covid-19 limitou as exportações brasileiras em média a US$ 12 bilhões a US$ 15 bilhões, mas em 2023 devemos atingir exportações  da ordem de US$ 25 bilhões e importações da Argentina da ordem de US$ 17 bilhões.

‘A Argentina é grande parceira do comércio com o Brasil desde o acordo firmado nos governos Sarney e Alfonsin, que foi o indutor da criação do Mercosul’

A Argentina é grande parceira do comércio com o Brasil desde o Acordo Brasil- Argentina, firmado nos governos Sarney e Alfonsin, acordo este que foi o indutor da criação do Mercosul, transformando o comércio baseado em commodities agrícolas como trigo e café para intercâmbio de bens de capital, produtos industriais e sobretudo automóveis, caminhões, ônibus e autopeças.

As exportações do setor automotivo, incluindo igualmente as máquinas agrícolas autopropulsadas, constitui as principais pautas do comércio entre os dois países, e, neste sentido, a dificuldade na importação de autopeças por parte da Argentina reduz sua capacidade de produção.

Uma boa parte das exportações brasileiras de bens industriais até 2019 contaram com financiamentos por parte de BNDES ou Banco do Brasil, mas o governo anterior optou pela paralisação de tais linhas de financiamento, que atualmente transformaram-se em uma dificuldade para os importadores argentinos.

‘A crise econômica argentina vem agravando-se e atingiu situação que exige retardamento na autorização de importações’

A crise econômica argentina vem há anos agravando-se, com inúmeros apelos ao Fundo Monetário Internacional, e atualmente atingiu situação que exige retardamento na autorização de importações, devido à dificuldade em divisas.

Visando solucionar esta situação, os presidentes da Argentina e do Brasil têm realizado reuniões com o objetivo de encontrar uma solução para facilitar as exportações brasileiras, de modo a permitir à Argentina manter suas produções destinadas basicamente para exportação ao Brasil.

A primeira ideia foi atualizar as condições de financiamento á exportação por parte de BNDES, o chamado crédito exportador, concedido ao exportador brasileiro, e o retorno do Brasil ao Convênio de Créditos Recíprocos, mecanismo de acordos entre os bancos centrais dos países membros da Associação Latino-Americana de Integração (Aladi).

‘Tendo em vista a dificuldade argentina no cenário bancário internacional, aventou-se a possibilidade de o novo Banco de Desenvolvimento do BRICS bancar operações’

Tal procedimento pressupõe uma garantia ao exportador brasileiro, e, tendo em vista a dificuldade argentina no cenário bancário internacional, aventou-se a possibilidade de o novo Banco de Desenvolvimento do BRICS bancar esta operação. Apesar do esforço brasileiro junto ao banco do BRICS, tal solução não se enquadra na política do banco, uma vez que a Argentina não é membro do bloco. Na última reunião do BRICS na Índia, a Argentina foi convidada a ser membro do bloco, o que no médio prazo pode considerar-se numa solução ao problema.

Outra ideia em estudo é basear o comércio entre os dois países nas suas moedas, o real e o peso, em mecanismo gerido pelos bancos centrais da Argentina e do Brasil de forma a realizar acertos periódicos no balanço de pagamento aos exportadores em ambos os países.

Trata-se de solução já adotada no passado no comércio administrado entre o Brasil e os países do então chamado Leste Europeu (República Democrática Alemã, Hungria, Polônia etc.) onde os Bancos Centrais realizaram os cleanings contabilizando e realizando os pagamentos aos exportadores de ambos os lados.

Outra contribuição surgiu recentemente após a Reunião do G-20 na Índia, seguramente uma ideia proposta pela China para pautar o acerto entre as exportações de Brasil e Argentina em yuans, moeda chinesa que ambos os países dispõem em função de seus excedentes exportadores para a China. Trata-se de uma solução difícil a ser considerada geral para atender a todos os exportadores.

A eleição para presidente da república na Argentina dificulta uma tomada de posição pelo atual governo argentino, com candidatos da oposição críticos à situação atual e como consequência não interessados em tomar posição sobre uma solução para o problema.

Assim, uma retomada do tema pela Argentina deve ficar para o próximo governo, e as exportações brasileiras continuarão sofrendo com o retardamento das autorizações governamentais e a dificuldade de pagamentos.


*Mario Mugnaini Jr. é colunista da Interesse Nacional. Engenheiro industrial químico e empresário, foi vice-presidente da Fiesp/Ciesp entre 1998 e 2002, secretário executivo da Câmara de Comércio Exterior Camex MDIC entre 2003 e 2007 e presidente da Investe SP, Agência Paulista de Investimentos e Competitividade de 2009 a 2011.


Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional

Mario Mugnaini Jr. é colunista da Interesse Nacional, engenheiro industrial químico e empresário, foi vice-presidente da Fiesp/Ciesp entre 1998 e 2002, secretário executivo da Câmara de Comércio Exterior Camex MDIC entre 2003 e 2007 e presidente da Investe SP, Agência Paulista de Investimentos e Competitividade de 2009 a 2011.

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