Apesar de redução no tamanho da cobertura da intentona em Brasília na imprensa internacional, tom da abordagem continua crítico ao país e às fragilidades da democracia; situação de populações indígenas também chama atenção negativamente no exterior
Por Daniel Buarque e Fabiana Mariutti*

iii-Brasil – de 16 a 22 de janeiro de 2023
Visibilidade: 75 reportagens em 7 veículos analisados
Classificação das notícias:
37% Neutras
53% Negativas
10% Positivas
Uma semana após a cobertura sobre os ataques golpistas em Brasília levarem à coleta de número recorde de reportagens com menções ao Brasil na imprensa estrangeira e à maior proporção já registrada de textos com tom negativo, a visibilidade do Brasil na mídia internacional voltou a um padrão mais próximo da normalidade.
No total, foram registrados na semana 75 textos com menção ao Brasil nos sete veículos analisados, trata-se de um volume bem alinhado à média semanal desde o início do levantamento do Índice de Interesse Internacional (iii-Brasil), em abril de 2022.
Apesar da redução no número de matérias sobre o Brasil, a maior parte dos textos sobre o país na última semana continuou tendo tom negativo (53%), com potencial de piorar a imagem internacional do Brasil. Além disso, o período desta semana registrou ainda 37% de menções neutras e 10% de textos com tom positivo.
Os ataques a Brasília continuaram sendo o principal tema da imprensa estrangeira na semana. Dando continuidade à discussão sobre as fragilidades da democracia brasileira, o diário britânico The Guardian colocou o assunto na capa da sua revista semanal. “A temperatura política no Brasil pode ter diminuído um pouco nos dias desde que extremistas de direita atacaram o palácio presidencial em Brasília, mas a ameaça à democracia do país continua alta”, diz.
Publicou também uma reportagem sobre a estrutura das polícias brasileiras, criticando a existência de polícias militares e chamando o sistema de “anacrônico”. De forma semelhante, o francês Le Monde publicou uma análise em vídeo apontando que forças de segurança foram passivas diante da invasão das sedes dos Três Poderes.
O China Daily voltou a associar as ameaças à democracia à influência norte-americana na América Latina. “Certamente muitos fatores estão por trás da violência de 8 de janeiro no Brasil. Entretanto, um ponto central é o aumento da cultura de intolerância que tem suas raízes no sistema político dos EUA”, diz.
O jornal americano The New York Times publicou um artigo bem aprofundado e crítico sobre o papel de Alexandre de Moraes na política brasileira. O texto diz que ele é “o defensor da democracia”, mas que suas “táticas agressivas” levam a um questionamento sobre o que se pode fazer na luta contra a extrema-direita.

Entre outros assuntos com destaque na semana, a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a comunidades indígenas ganhou destaque internacional, dando visibilidade aos abusos aos direitos humanos na região Amazônica. O Guardian publicou uma reportagem sobe a acusação do presidente a Jair Bolsonaro de genocídio contra os Yanomami.
Mais frequentemente abordada sob viés negativo por conta dos problemas de destruição ambiental e abusos de direitos humanos, a situação de indígenas brasileiros teve também uma exposição positiva no New York Times. Uma reportagem destacou o trabalho da fotógrafa Claudia Andujar em dar visibilidade à luta dos Yanomami pela sobrevivência.
A questão ambiental também teve um destaque positivo no jornal chinês, que alega que “Lula não perde tempo na proteção da floresta tropical”, destacando a mudança de postura do país após a troca no governo.

Retrospectiva
Desde o início de abril de 2022, o iii-Brasil coletou e analisou em média 74 reportagens por semana com menções de destaque ao país nos sete veículos de imprensa analisados.
Ao longo do levantamento das últimas 42 semanas, o iii-Brasil registrou em média 49% de reportagens de tom neutro, 36% de menções com tom negativo e 15% de textos positivos sobre o país.
*Daniel Buarque é editor-executivo do Interesse Nacional, doutor em relações internacionais pelo programa de PhD conjunto do King’s College London (KCL) e do IRI/USP. É jornalista, tem mestrado em Brazil in Global Perspective pelo KCL e é autor dos livros “Brazil, um país do presente” (Alameda) e “O Brazil É um País Sério?” (Pioneira).
Fabiana Mariutti atua como pesquisadora, professora universitária, e consultora; obteve pós-doutorado, doutorado e mestrado em Administração e bacharel em Comunicação Social. Estuda a imagem, reputação e marca Brasil desde 2010. Autora dos livros: “Country Reputation: The Case of Brazil in the United Kingdom: Four Stakeholders’ Perspectives on Brazil’s Brand Image” (2017) e “Country Brand Identity: Communication of the Brazil Brand in the United States of America” (2013).