Confirmação da decisão do TSE de tornar o ex-presidente inelegível foi o principal assunto relacionado à imagem do país no exterior durante a semana. A cobertura do caso misturou abordagens neutras, positivas e negativas para a percepção externa do Brasil
Por Daniel Buarque e Fabiana Mariutti*
iii-Brasil – de 26/6 a 2/7 de 2023
Visibilidade: 51 reportagens em 7 veículos analisados
Classificação das notícias:
43% Neutras
24% Negativas
33% Positivas
O julgamento do TSE que tornou o ex-presidente Jair Bolsonaro inelegível foi o principal tema relacionado ao Brasil a ter destaque na imprensa estrangeira ao longo da última semana de junho e primeiros dias de julho. No total, um terço de todas as menções ao país no período tratou da condenação de Bolsonaro. Entre os veículos analisados, apenas o China Daily evitou tratar do caso (que havia sido mencionado na semana anterior, antes do fim do julgamento), enquanto os demais jornais publicaram várias reportagens sobre o tema.
No total, foram registrados na última semana completa de junho 51 textos com menção ao Brasil nos sete veículos analisados, volume muito abaixo da média semanal do Índice de Interesse Internacional (iii-Brasil). A maior proporção dos textos teve tom neutro, atingindo 43% da cobertura sobre o país. As reportagens de tom positivo foram 33% e as negativas foram 24%.
Apesar de ter sido claramente o tema mais importante da semana na imprensa internacional, a avaliação do tom usado a respeito do país variou bastante. Muitas reportagens usaram uma abordagem neutra e factual, descrevendo o julgamento e os impactos disso para o país. Outras reportagens usaram um tom positivo, tratando a decisão do TSE como um avanço na defesa da democracia brasileira. E um terceiro grupo de textos teve abordagem negativa, tratando da continuidade da ameaça à democracia brasileira.
O jornal americano The New York Times, por exemplo, publicou uma reportagem bem factual relatando o processo contra o ex-presidente e o julgamento no TSE. “Autoridades eleitorais brasileiras impediram na sexta-feira o ex-presidente Jair Bolsonaro de concorrer a cargos públicos até 2030, removendo um dos principais candidatos da próxima disputa presidencial e desferindo um golpe significativo no movimento de extrema direita do país”, diz.
Com tom mais positivo, o jornal britânico The Guardian publicou falou sobre a saúde da democracia brasileira e destacou que que “o futuro político do ex-presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, foi posto em dúvida depois que os juízes eleitorais o proibiram de concorrer ao cargo por oito anos por abusar de seus poderes e vender ‘mentiras imorais’ e ‘terríveis’ durante a eleição amarga do ano passado”.
Já o francês Le Monde publicou uma reportagem indo além da cobertura factual e tratando da reação da extrema-direita do país, que continua a colocar em risco a democracia brasileira. “Após condenação de Bolsonaro à inelegibilidade, a extrema direita ficam entre a raiva e o fatalismo no Brasil. Muitos partidários do ex-presidente veem na decisão do Tribunal Superior Eleitoral o advento de uma ‘ditadura’ comunista”, diz.
No Público, jornal de Portugal, no texto sobre a inelegibilidade de Bolsonaro foi dado ênfase ao fim do esquecimento proposital em investimentos culturais e artísticos no país. Já no argentino El País, as reportagens registram os acontecimentos da semana durante a votação no TSE, ao demonstrar que: “A denúncia de abuso de poder vem de uma reunião que Bolsonaro convocou em Brasília, três meses antes das últimas eleições, com o corpo diplomático”.
Outro texto menciona que: “O ex-presidente tem várias frentes judiciais abertas além desta. Ele também está sendo investigado por incentivar o mais grave ataque sofrido pela democracia brasileira desde o fim da ditadura, em 1985”. Na mesma linha editorial, o espanhol Clarín reforça o fato do ex-presidente estar proibido de se candidatar ou de participar de um processo eleitoral até 2030, por também falar “contra o sistema eleitoral, tentando desqualificar o sistema eleitoral e as urnas eletrônicas”.
Retrospectiva
Desde o início de abril de 2022, o iii-Brasil coletou e analisou em média 68 reportagens por semana com menções de destaque ao país nos sete veículos de imprensa analisados.
Ao longo do levantamento, o iii-Brasil registrou em média 50% de reportagens de tom neutro, 32% de menções com tom negativo e 18% de textos positivos sobre o país.
*Daniel Buarque é editor-executivo do Interesse Nacional, pesquisador do pós-doutorado do IRI-USP, doutor em relações internacionais pelo programa de PhD conjunto do King’s College London (KCL) e do IRI/USP. É jornalista, tem mestrado em Brazil in Global Perspective pelo KCL e é autor dos livros “Brazil, um país do presente” (Alameda) e “O Brazil É um País Sério?” (Pioneira).
Fabiana Mariutti atua como pesquisadora, professora universitária e consultora; obteve pós-doutorado, doutorado e mestrado em Administração e bacharel em Comunicação Social. Estuda a imagem, reputação e marca Brasil desde 2010. Autora dos livros: “Country Reputation: The Case of Brazil in the United Kingdom: Four Stakeholders’ Perspectives on Brazil’s Brand Image” (2017) e “Country Brand Identity: Communication of the Brazil Brand in the United States of America” (2013).
