16 janeiro 2024

iii-Brasil: Na mídia estrangeira, democracia brasileira deu lição no combate a golpistas, mas segue ameaçada por extremistas

Cobertura do aniversário de um ano dos ataques em Brasília se dividiu entre a percepção positiva de força da democracia e a imagem negativa de polarização e manutenção de radicalismos no país

Cobertura do aniversário de um ano dos ataques em Brasília se dividiu entre a percepção positiva de força da democracia e a imagem negativa de polarização e manutenção de radicalismos no país

Por Daniel Buarque e Fabiana Mariutti*

iii-Brasil – de 8º a 14/1 de 2024

Visibilidade: 36 reportagens em 7 veículos analisados

Classificação das notícias:

47% Neutras

20% Negativas

33% Positivas

Um ano depois dos ataques golpistas a Brasília, em 8 de janeiro de 2023, a percepção externa sobre a situação política do Brasil é dividida. Por um lado, a imprensa estrangeira publicou reportagens que celebram a resistência e a força da democracia no país, capaz até mesmo de dar lição aos EUA. Por outro, continua forte a imagem de um país dividido, polarizado e com grande força de extremistas capazes de tentar voltar ao poder.

No total, foram registrados na segunda semana do ano 36 textos com menção ao Brasil nos sete veículos analisados, volume muito abaixo da média semanal do Índice de Interesse Internacional (iii-Brasil). A maior proporção dos textos teve tom neutro, atingindo 47% da cobertura sobre o país. As menções negativas foram apenas 11%, e as positivas chegaram a 33%. 

https://interessenacional.com.br/edicoes-posts/entenda-como-funciona-o-indice-de-interesse-internacional-monitoramento-de-noticias-sobre-o-brasil-no-exterior/

A cobertura mais positiva sobre o primeiro aniversário da tentativa de golpe de Estado foi publicada pelo jornal norte-americano The New York Times, que fez uma comparação entre o caso brasileiro e a insurreição nos EUA dois anos antes. Enquanto o Brasil se uniu contra o golpismo, diz o jornal, os EUA seguiram um caminho diferente. “Os líderes da direita brasileira ‘aceitaram pública, clara e inequivocamente os resultados das eleições e fizeram exatamente o que os políticos democráticos deveriam fazer’, disse Steven Levitsky, professor de governo de Harvard e coautor do livro Como as democracias morrem, que estuda as democracias americana e brasileira. ‘Isso foi muito diferente de como os republicanos responderam’.”

Outra abordagem positiva teve destaque no britânico The Guardian, que destacou fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva alegando que a data marca “a vitória da democracia contra o autoritarismo”. E ainda no espanhol El País, que publicou mais de um texto com teor favorável à imagem do país. Em um deles, diz que “um ano após o ataque frustrado dos bolsonaristas às instituições brasileiras, a maior democracia da América Latina recupera a estabilidade sob a liderança do presidente Lula, melhora a economia, a proteção ambiental e as taxas de pobreza começam a reverter”.

O tom da cobertura do aniversário dos ataques foi mais negativo em jornais como o francês Le Monde, que diz continuar presente a ameaça no país. “No Brasil, um ano depois dos tumultos em Brasília, os bolsonaristas continuam mobilizados”, diz. “Autoridades eleitas próximas ao ex-presidente evitaram a cerimônia organizada pelo presidente Lula para celebrar ‘a vitória da democracia’, enquanto as eleições municipais ocorrerão em outubro.”

O português Público também destacou a manutenção de divisões no país. “O ataque a Brasília faz um ano, mas a polarização que o criou mantém-se”, diz. “Lula queria dar uma demonstração de unidade em torno dos valores democráticos nas cerimônias desta segunda-feira, mas vários aliados de Bolsonaro não vão estar presentes”, complementa.

Retrospectiva 

Desde o início de abril de 2022, o iii-Brasil coletou e analisou em média 60 reportagens por semana com menções de destaque ao país nos sete veículos de imprensa analisados. 

Ao longo do levantamento, o iii-Brasil registrou em média 50% de reportagens de tom neutro, 30% de menções com tom negativo e 21% de textos positivos sobre o país (a soma ultrapassa 100% por uma questão de arredondamento de valores percentuais). 


*Daniel Buarque é editor-executivo do Interesse Nacional, pesquisador do pós-doutorado do IRI-USP, doutor em relações internacionais pelo programa de PhD conjunto do King’s College London (KCL) e do IRI/USP. É jornalista, tem mestrado em Brazil in Global Perspective pelo KCL e é autor dos livros “Brazil, um país do presente” (Alameda) e “O Brazil É um País Sério?” (Pioneira).

Fabiana Mariutti atua como pesquisadora, professora universitária e consultora; obteve pós-doutorado, doutorado e mestrado em Administração e bacharel em Comunicação Social. Estuda a imagem, reputação e marca Brasil desde 2010. Interesse nas áreas de Place Branding e Public Diplomacy. Nomeada Who is Who pelo The Place Brand Observer. Autora dos livros: “Country Reputation: The Case of Brazil in the United Kingdom: Four Stakeholders’ Perspectives on Brazil’s Brand Image(2017) e Country Brand Identity: Communication of the Brazil Brand in the United States of America (2013).

O Índice de Interesse Internacional (iii-Brasil) é uma análise da imagem do país realizada a partir de um levantamento sistemático de dados sobre notícias que mencionam o Brasil a cada semana em sete publicações internacionais, selecionadas como representativas da imprensa internacional por serem reconhecidas internacionalmente como “newspapers of record”. São elas: The Guardian (Reino Unido), The New York Times (Estados Unidos), El País (Espanha), Le Monde (França), Clarín (Argentina), Público (Portugal) e China Daily (China).

Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional

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