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Interesse Nacional
12 agosto 2024

A comercialização de alimentos e as proteções de mercado

Proteções de mercados ainda dificultam as exportações de alimentos em todo o mundo

Colheita de cana-de-açúcar no Brasil; produção de açúcar enfrenta barreiras no Mercosul (Foto: Wikimedia Commons)

Recente estudo da Food and Agriculture Organization (FAO) indica o grande desafio para a erradicação da fome no mundo na próxima década, contando com o incremento de produção e melhor distribuição de alimentos.

A insegurança alimentar é registrada em grandes populações, estimando-se em 2022 um porcentual mundial da ordem de 30%, com agravamento importante na África 61%, América Latina 38% e Ásia 24%.

As perspectivas para os maiores produtores e exportadores de alimentos  como Estados Unidos, Mercosul e Austrália para contribuir para suprir as necessidades alimentares indica que tais países deverão preparar-se nos próximos dez anos em aumento de cerca de 40% das suas produções.

‘Ainda persistem diversos tipos de proteções de mercados que dificultam as exportações de alimentos’

Por outro lado, ainda persistem diversos tipos de proteções de mercados que dificultam as exportações de alimentos, seja por países em desenvolvimento, seja por países desenvolvidos, e neste contexto dificultam as exportações brasileiras de produtos alimentares.

Um exemplo de proteção de seu mercado interno é da Índia, com uma população de 1,4 bilhão de habitantes, um país bem industrializado e uma das maiores economia do mundo, exerce uma proteção de mercado local de frango com o objetivo de manutenção dos pequenos produtores agrícolas espalhados pelo país.

Trata-se de um grande mercado para as exportações brasileiras que, mediante um acordo de abertura gradual, poderia beneficiar nossas exportações e contribuir para maior acesso ao produto pela população.

Outro exemplo trata-se da Argentina, que proíbe a importação de açúcar  por meio de uma lei federal promulgada há muitos anos, com o objetivo de proteger os produtores da região do noroeste argentino, compreendendo basicamente a cidade de Tucuman.

‘A Argentina, que proíbe a importação de açúcar, e temos um mercado fechado para as exportações brasileiras’

Em consequência o açúcar não figura na Nomenclatura Comum do Mercosul, e trata-se de uma longa discussão no âmbito do bloco, sem perspectivas de solução. Nestas condições, temos um mercado fechado para as exportações brasileiras de açúcar, de preços mais competitivos que a produção da região.

Sem relação com o tema de combate a fome, temos a recente publicação por parte da União Europeia da diretriz EUDR 2023/1115, que pode impactar na importação e comercialização pelos países do bloco das commodities agrícolas, como soja, café, cacau, óleos etc., originários de zonas de florestas desmatadas ou degradadas a partir de 31/12/2020.

Pela legislação, caberá ao exportador e a comercializadores instalados nos países da União Europeia o procedimento de uma declaração de due deligence submetida às autoridades  do bloco para análise e decisão  de autorização da exportação.

A diretriz indica que até 31 de Dezembro de 2024 o Conselho Europeu procederá a avaliação de risco dos países exportadores de commodities e produtos agrícolas e em seguida fará verificações anuais.

Há previsão de penalidades como multa, confisco dos produtos e de respectivas receitas e proibição de importação e comercialização dos produtos pelo prazo de 12 meses.

A introdução no texto dos comercializadores sujeitos a multas e outras sanções indica o espírito da diretriz de dificultar ao máximo as exportações agrícolas, penalizando os comercializadores, elementos fundamentais para a concretização dos negócios.

O acordo União Europeia-Mercosul dispõe de cláusula de meio ambiente que está prevista para ser acionado pelas partes em caso de controvérsia, e portanto a diretriz em questão vem contribuir para a intenção contrária da União Europeia em colocar em vigor o acordo com o Mercosul

Mario Mugnaini Jr. é colunista da Interesse Nacional, engenheiro industrial químico e empresário, foi vice-presidente da Fiesp/Ciesp entre 1998 e 2002, secretário executivo da Câmara de Comércio Exterior Camex MDIC entre 2003 e 2007 e presidente da Investe SP, Agência Paulista de Investimentos e Competitividade de 2009 a 2011.

Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional

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