11 janeiro 2024

Daniel Buarque: Brasil é considerado um dos dez países mais importantes na hierarquia global

Pesquisa sobre a percepção de especialistas sobre os Estados de maior prestígio do mundo indica que o país é uma ‘potência média’ e o 9º com maior status de poder. Levantamento indica que o Brasil é bem avaliado em suas atuações climática e econômica, mas não é visto como muito relevante em questões humanitárias e de segurança

Pesquisa sobre a percepção de especialistas sobre os Estados de maior prestígio do mundo indica que o país é uma ‘potência média’ e o 9º com maior status de poder. Levantamento indica que o Brasil é bem avaliado em suas atuações climática e econômica, mas não é visto como muito relevante em questões humanitárias e de segurança

Gráfico do International Hierarchy Expert Survey com ranking de países com maior status

Por Daniel Buarque*

O Brasil é o 9º país com maior prestígio do mundo, de acordo com um estudo que avalia a percepção de especialistas internacionais em hierarquia global. O país é classificado como uma “potência média” no “Índice de Soberania (Status de Poder)”, que avalia a percepção externa sobre a importância de diferentes Estados na política internacional. 

Fica atrás das “superpotências” Estados Unidos (1º) e China (2º), das “grandes potências” Rússia (3º), Índia (4º), Reino Unido (5º), Alemanha (6º) e França (7º). O Japão (8º) é a única outra “potência média” acima do Brasil no ranking. Depois do país, aparecem (na ordem) Turquia, Itália, Israel, Canadá, Arábia Saudita, Coréia do Sul, Austrália, África do Sul, Indonésia, Irã, México, Paquistão, Nigéria, Argentina, Polônia e as “potências menores” Egito e Coréia do Norte.

O dado sobre “status de poder” faz parte da edição mais recente (considerando até fevereiro de 2023) da International Hierarchy Expert Survey, pesquisa realizada anualmente desde 2021 com o objetivo de traçar o impacto dos acontecimentos do ano anterior nas percepções relacionadas à hierarquia de países na política internacional. 

A pesquisa é realizada pelo Instituto de Estudos Internacionais do Instituto Estatal de Relações Internacionais de Moscou (MGIMO) e se baseia em entrevistas com especialistas de diferentes partes do mundo sobre suas percepções das hierarquias de poder globais. Ele parte da ideia já consolidada no meio acadêmico de que o status de um Estado é uma construção social que depende em grande parte da percepção de seu papel e poder nas relações internacionais. 

O estudo ressalta a posição impressionante da Índia, que é vista como um Estado com mais status do que o Reino Unido, a Alemanha e a França, e considerada uma “grande potência” pelos entrevistados. 

O papel do Brasil no mundo

Gráfico do International Hierarchy Expert Survey com ranking do papel de diferentes países no mundo

Além do índice de status, a pesquisa também apresenta o “Índice de Papel Internacional”, um indicador agregado da importância de um Estado em quatro esferas funcionais da governação global, incluindo economia, segurança, clima e agenda humanitária. Este levantamento leva em consideração a percepção de especialistas sobre diferentes áreas de atuação e categorias de prestígio internacional de 26 países apontados como os que têm uma função mais importante no mundo.

Apesar da boa classificação no ranking geral, o Brasil é apenas o 13º com papel mais relevante na política internacional, sendo ultrapassado pela Arábia Saudita (9º), pela Turquia (10º), pelo Canadá (11º) e pela Coréia do Sul (12º). O país tem destaque positivo nas áreas ambiental e econômica, mas não tem tanta relevância nos índices de ação humanitária e de segurança. 

Gráfico do International Hierarchy Expert Survey com dados específicos sobre a percepção do papel do Brasil no mundo em diferentes categorias

O papel internacional do Brasil é impulsionado pela sua importância para a agenda climática global. O país aparece na 6ª colocação no índice específico sobre as questões ligadas ao combate ao aquecimento global, à frente de potências maiores como o Reino Unido, a Rússia e o Japão. 

O “Índice de Papel da Agenda Climática” representa a importância de um Estado para promover a governança ambiental global. O Brasil subiu três posições no ranking da categoria nesta edição, provavelmente já considerando os efeitos da eleição de Luiz Inácio Lula da Silva e seu compromisso internacional com o combate ao aquecimento global.

Gráfico do International Hierarchy Expert Survey com ranking sobre o papel climático dos países

Em economia, o Brasil também é bem visto, e é o 11º colocado no índice específico do tema.

Mas o país perde posições especialmente por conta da sua baixa relevância em questões humanitárias e de segurança internacional. 

O Brasil aparece na 22ª colocação no ranking relacionado a segurança, à frente apenas da Indonésia, da África do Sul, da Nigéria e da Argentina. E é o 24º no índice de papel humanitário, à frente apenas da Polônia e da Austrália (atrás até mesmo da Argentina, que fica em 23º lugar).

Gráfico do International Hierarchy Expert Survey com ranking de países com maior importância para a segurança global

Um último dado apresentado pelo estudo diz respeito ao “Índice de Revisionismo”, que reflete as intenções de cada país de rever a ordem internacional. O Brasil subiu duas posições no índice mais recente, ficando em 7º lugar entre os países que são vistos como interessados em mudar a ordem global.


*Daniel Buarque é colunista e editor-executivo do portal Interesse Nacional, pesquisador do pós-doutorado do Instituto de Relações Internacionais da USP e doutor em relações internacionais pelo programa de PhD conjunto do King’s College London (KCL) e do IRI/USP. É jornalista, tem mestrado em Brazil in Global Perspective pelo KCL e é autor dos livros “Brazil, um país do presente” (Alameda) e “O Brazil É um País Sério?” (Pioneira).


Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional 

Editor-executivo do portal Interesse Nacional. Jornalista e doutor em Relações Internacionais pelo programa de PhD conjunto do King’s College London (KCL) e do IRI/USP. Mestre pelo KCL e autor dos livros Brazil’s international status and recognition as an emerging power: inconsistencies and complexities (Palgrave Macmillan), Brazil, um país do presente (Alameda Editorial), O Brazil é um país sério? (Pioneira) e O Brasil voltou? (Pioneira)

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