Extrema direita assume liderança nas eleições francesas, mas formação de governo ainda é improvável
Por Romain Fathi* As pesquisas de boca de urna após o primeiro turno das eleições legislativas francesas, ocorridos neste domingo, indicam o partido de extrema direita Reagrupamento Nacional (RN) lidera com cerca de 34% dos votos. Já a Nova Frente Popular (coalizão de partidos da extrema esquerda à esquerda moderada) está em segundo, com cerca […]
Por Romain Fathi*
As pesquisas de boca de urna após o primeiro turno das eleições legislativas francesas, ocorridos neste domingo, indicam o partido de extrema direita Reagrupamento Nacional (RN) lidera com cerca de 34% dos votos. Já a Nova Frente Popular (coalizão de partidos da extrema esquerda à esquerda moderada) está em segundo, com cerca de 28%, enquanto que a coalizão centrista do Presidente Emmanuel Macron aparece apenas em um distante terceiro lugar, com cerca de 20% dos votos.
Essa é, de longe, a maior quantidade de votos que a extrema direita recebeu na França em eleições legislativas desde a Segunda Guerra Mundial.
Embora o Reagrupamento Nacional esteja à frente após o primeiro turno, o mais provável é que as alianças entre os partidos políticos de esquerda, centristas e de direita moderada se unam no segundo turno, que ocorre já no próximo domingo, para formar uma frente unida contra os candidatos de extrema direita.
Assim, continua sendo muito difícil para a líder do RN Marine Le Pen e para o presidente Jordan Bardella garantirem assentos suficientes na Assembleia Nacional para obter a maioria absoluta.
Embora a terceira solução pareça mais plausível do que as outras duas, ela ainda pode não garantir a estabilidade política. Coalizões diversas não têm um histórico sólido de governos estáveis na França.
O que acontece agora?
Embora o Reagrupamento Nacional esteja na liderança após o primeiro turno, é improvável que ele consiga formar um governo sozinho. O motivo: sua capacidade de atrair mais eleitores nos próximos dias é limitada. Esse tem sido um problema recorrente para a extrema direita no segundo turno das eleições anteriores.
Apenas 67% dos eleitores franceses votaram neste domingo 30 de junho. Embora esse número seja alto para o comparecimento no primeiro turno de uma eleição legislativa nas últimas duas décadas, isso também significa que milhões de franceses ainda podem fazer a balança pender para um lado ou para outro em seus eleitorados no próximo domingo.
Dada a experiência traumática da França na Segunda Guerra Mundial e a colaboração do governo de Vichy, de extrema direita, com os nazistas, alguns franceses que não votaram no primeiro turno podem muito bem ir às urnas no próximo domingo para impedir a vitória da extrema direita.
Centenas de milhares de pessoas compareceram a manifestações contra a extrema direita no domingo, o que sugere um eleitorado altamente mobilizado.
Mais importante ainda, os partidos políticos de esquerda, centro e direita moderada provavelmente tentarão forjar alianças em nível local para impedir a eleição de deputados de extrema direita.
É assim que funcionaria: se nenhum candidato receber a maioria absoluta em uma disputa, os candidatos com as duas maiores parcelas de votos passam para o segundo turno, juntamente com qualquer outro que tenha recebido pelo menos 12,5% dos votos.
Portanto, os líderes da aliança da Nova Frente Popular e da aliança de Macron agora pedirão a seus candidatos que saiam das disputas em que ficaram em terceiro lugar, para que possam se unir em torno de um candidato contra a extrema direita.
Os líderes desses partidos ainda têm fortes divisões, mas como disse Raphaël Glucksmann, líder dos socialistas de centro-esquerda:
Devemos nos unir, devemos votar por nossa democracia, devemos evitar que a França afunde.
Junto com Gluncksmann, políticos tão diversos quanto Marine Tondelier (os Verdes), o ex-primeiro-ministro Edouard Philippe (direita moderada), François Bayrou (centro), o atual primeiro-ministro Gabriel Attal (do próprio partido de Macron) e muitos outros pediram a criação de uma “Frente Republicana” para derrotar o Rally Nacional uma hora após a divulgação das pesquisas de boca de urna do primeiro turno.
Embora essa estratégia tenha sido bem-sucedida em eleições anteriores contra a extrema direita – e possa funcionar mais uma vez -, isso não significa necessariamente que a França terá um governo forte e unido quando tudo terminar.
O Eurasia Group, uma empresa de análise de risco, disse que é improvável que o Rally Nacional obtenha uma maioria absoluta na Assembleia Nacional. Já o diretor administrativo do grupo, Mujtaba Rahman, afirmou que isso significa que a França está caminhando para um período conturbado, com uma Assembleia Nacional irreconciliavelmente bloqueada.
Os próximos dias serão extraordinários para a política francesa, pois alianças serão feitas (e talvez algumas desfeitas). Enquanto isso, o povo francês prenderá a respiração e refletirá sobre o que tudo isso significa para o futuro de seu país.
*Romain Fathi é professor de história na Australian National University e pesquisador do Centre d’Histoire de Sciences Po
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Este texto é uma republicação do site The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia o artigo original em https://theconversation.com/br
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