06 setembro 2022

iii-Brasil: Cresce a cobertura internacional sobre as eleições presidenciais no país

Notícias sobre tensões políticas e problemas vividos pelo país às vésperas da escolha do novo governo ampliaram o tom negativo usado pela imprensa estrangeira na última semana. O jornal francês Le Monde, por exemplo, publicou uma série de reportagens sobre a situação política do país

Notícias sobre tensões políticas e problemas vividos pelo país às vésperas da escolha do novo governo ampliaram o tom negativo usado pela imprensa estrangeira na última semana. O jornal francês Le Monde, por exemplo, publicou uma série de reportagens sobre a situação política do país

Por Daniel Buarque e Fabiana Mariutti*

iii-Brasil – de 29 de agosto a 4 de setembro de 2022

Visibilidade: 66 textos

Classificação das notícias:

45% Negativas

45% Neutras

10% Positivas

A publicação de um volume maior de notícias sobre as eleições presidenciais de outubro na imprensa estrangeira levou a uma ampliação da visibilidade internacional do Brasil entre o fim de agosto e o início de setembro. Essa cobertura também expôs problemas da realidade política do país, aumentando a proporção de artigos que têm um tom negativo sobre o Brasil.

A coleta de dados do Índice de Interesse Internacional (iii-Brasil) encontrou na última semana de agosto e primeiros dias de setembro o total de 66 artigos com menções de destaque ao Brasil nos sete veículos de imprensa estrangeiros analisados. O período registrou 45% dos textos com tom negativo e a mesma proporção de reportagens com descrição factual de notícias sobre o país, sem indicação de prejuízo a sua imagem internacional, com 45% de textos de tom neutro. Além disso, houve um aumento das reportagens positivas (10%).

https://interessenacional.com.br/edicoes-posts/entenda-como-funciona-o-indice-de-interesse-internacional-monitoramento-de-noticias-sobre-o-brasil-no-exterior/

O jornal francês Le Monde deu início a uma cobertura mais intensa da campanha eleitoral no Brasil. No total, publicou 9 textos sobre a situação política brasileira, muito mais do que as 2 reportagens, em média, publicadas nas semanas anteriores (sem contar a publicação da série especial sobre a Amazônia publicada na quarta semana de agosto).

Entre os textos publicados pelo diário francês há um perfil bem objetivo de Bolsonaro, com destaque ao fato de ele ser tratado como “mito” (artigo classificado como neutro). Outros três textos tratam de grupos de eleitores que apoiam o presidente – ou deixaram de apoiar. Dois tratam dos “bolsonaristes”: “plantadores de soja” e os evangélicos. Um terceiro diz que a elite financeira do país está abandonando o candidato à reeleição. Há ainda um texto sobre o que se chama de “ataque da extrema-direita” no Nordeste brasileiro. E uma análise do movimento das intenções de voto, com destaque à resiliência do presidente em meio a uma série de problemas listados pelo jornal. 

No Clarín, o primeiro debate dos candidatos presidenciais do Brasil é abordado, em que o encontro foi ofuscado por perguntas sobre o tratamento do presidente às mulheres, que podem ser cruciais para as aspirações do presidente.

O jornal argentino aborda também o fato de que, em plena campanha, opositores sequestraram o site de Jair Bolsonaro no Brasil com comparações com Hitler e questões satíricas com Vladimir Putin.

Sobre o período pré-eleitoral, o El País apresenta um conjunto de fotos registradas durante o debate dos presidenciáveis no canal de televisão aberto tanto dos candidatos como de cidadãos atentos na telinha ao redor do país. O jornal Clarín evidencia os ataques verbais entre os dois candidatos destacados nas pesquisas.  

No Público, tanto a fragmentação política dos eleitores como as diferenças visíveis entre as lideranças partidárias são abordadas no vídeo “Que país vai às eleições?”. Outro texto do Público intitulado “Bolsonaro e os filhos compraram 51 imóveis com dinheiro vivo, mas Presidente brasileiro não acha mal nenhum nisso” demonstra a incoerência no discurso do atual presidente há quatro ano quando assumiu o poder. Em outra matéria sobre o período pré-eleitoral, o Público comenta sobre o dilema entre as escolhas políticas no Brasil, em que “as instituições democráticas não mais conseguem atender aos justos anseios de uma cidadania ativa e pulsante”.

Apesar de ter sido uma notícia de destaque já na semana anterior, a morte do último indígena de uma tribo na Amazônia continuou ganhando atenção internacional de forma negativa para o país, com reportagens em jornais como o Clarín, El País, Público, Le Monde e New York Times, por exemplo. “Um homem morre, e uma tribo isolada inteira desaparece no Brasil”, dizia o título do jornal americano. Nessa mesma pauta, o Público narra sobre a morte do “Índio do Buraco”, que viveu décadas de isolamento voluntário na floresta do estado brasileiro de Rondônia – em que ativistas lamentam a perda de mais uma língua e cultura. 

Outro texto sobre a floresta no Público aborda o aumento da porcentagem do desmatamento que subiu 66% em 2020-2021 em comparação com o período anterior, registrando o maior aumento percentual desde que há registros – equivalente a 117 campos de futebol (SOS Mata Atlântica). Tal fato favorece o número total 33.116 de incêndios no Brasil registado no mês de agosto (maior registro há 12 anos), alerta o Greenpeace (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) – “imagens dos incêndios na Amazônia circularam pelo mundo e geraram forte pressão internacional contra o governo de Jair Bolsonaro.

Negativamente para a reputação do Brasil no exterior, trata-se da tentativa de assassinato da vice-presidente da Argentina, Cristina Fernández Kirchner, por um brasileiro, que “merece o repúdio e a condenação de todo o continente” afirma o texto do El País.

Sobre “fake news” nas mídias brasileiras, o Clarín detalha que instituições, organizações da sociedade civil e empresas de tecnologia avançaram no combate a informações falsas nas redes sociais, onde Bolsonaro tem 47,5 milhões de seguidores e Lula, 16,6 milhões. 

Ao iniciar a semana das comemorações do bicentenário da Independência do Brasil, o Clarín traz um reflexivo texto sobre como a independência brasileira, datada de 7 de setembro de 1822, “foi mais complexa do que uma simples transferência de poder de pai para filho, e levar isso em conta é fundamental para compreender não só a história, mas também a cultura política do Brasil”.

Com uma natureza dicotômica entre favorecer ou desfavorecer a imagem do Brasil, o Público aborda a variedade artística  pelo Brasil – a arte mostra vários Brasis – nesse atual contexto tenso, “de lutas sociais, culturais, políticas, assiste-se a um multiplicar de representações desse Brasil que se apresenta como plural”. Público e El País comentam sobre a abertura do Museu do Ipiranga após incêndio em 2018.

Em um humorado texto, o Clarín traz um narrativa sobre a avó brasileira que não queria cuidar dos netos e preferiu viajar pelo mundo, vendeu sua casa e seus móveis para realizar seu sonho e compartilha suas aventuras com os seus mais de 24 mil seguidores pelos seus destinos.

Retrospectiva 

Desde o início de abril, o iii-Brasil, ao estudar a imagem internacional do Brasil, coletou e analisou em média 55 reportagens por semana com menções de destaque ao país nos sete veículos de imprensa analisados. 

Na maioria das semanas, entretanto, o total de citações de destaque ao país não passou de 50, mas a média é puxada para cima especialmente pelas três semanas de junho em que se registrou o desaparecimento e a morte de Dom Phillips e Bruno Pereira, quando foi registrado o pior momento do resultado geral do iii-Brasil. O caso aumentou muito o volume da cobertura de imprensa sobre o país no exterior. 

Ao longo do levantamento das últimas 21 semanas, o iii-Brasil registrou em média 49% de reportagens de tom neutro, 39% de menções com tom negativo e 12% de textos positivos sobre o país. 

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*Daniel Buarque é editor-executivo do Interesse Nacional, doutor em relações internacionais pelo programa de PhD conjunto do King’s College London (KCL) e do IRI/USP. É jornalista, tem mestrado em Brazil in Global Perspective pelo KCL e é autor dos livros “Brazil, um país do presente” (Alameda) e “O Brazil É um País Sério?” (Pioneira).

Fabiana Mariutti atua como professora universitária, pesquisadora e consultora; obteve pós-doutorado, doutorado e mestrado em Administração e bacharel em Comunicação Social. Estuda a marca Brasil desde 2010. Autora dos livros: “Country Reputation: The Case of Brazil in the United Kingdom: Four Stakeholders’ Perspectives on Brazil’s Brand Image(2017) e Country Brand Identity: Communication of the Brazil Brand in the United States of America (2013).

O Índice de Interesse Internacional (iii-Brasil) é uma análise da imagem do país realizada a partir de um levantamento sistemático de dados sobre notícias que mencionam o Brasil a cada semana em sete publicações internacionais, selecionadas como representativas da imprensa internacional por serem reconhecidas internacionalmente como “newspapers of record”. São elas: The Guardian (Reino Unido), The New York Times (Estados Unidos), El País (Espanha), Le Monde (França), Clarín (Argentina), Público (Portugal) e China Daily (China).

Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional

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