iii-Brasil: Homenagens a Pelé e posse de Lula projetam o país positivamente no exterior

Semana encerrada em 1º de janeiro registrou a morte do “rei” e a mudança de governo, o que gerou o terceiro maior número de menções ao Brasil na imprensa internacional e a segunda maior proporção de textos com teor favorável ao país

Por Daniel Buarque e Fabiana Mariutti*

iii-Brasil – de 26/12/22 a 1º/01/2023

Visibilidade: 155 reportagens em 7 veículos

Classificação das notícias:

41% Neutras

14% Negativas

45% Positivas

A semana que encerrou o ano de 2022 e iniciou 2023 registrou uma das maiores visibilidades e melhores projeções da imagem internacional do Brasil na imprensa estrangeira. O período foi marcado pela notícia da morte de Pelé e pela cobertura da posse de Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência. Uma série de homenagens ao jogador reconhecido como um dos maiores esportistas da história e do futebol mundial e notícias sobre a situação da democracia aumentaram a quantidade de referências ao Brasil na mídia internacional e tornaram o tom dessa cobertura mais positivo.

No total, foram registrados na semana 155 textos com menção ao Brasil nos sete veículos analisados. Esta foi a terceira semana com maior volume de publicações sobre o país desde o início do levantamento do Índice de Interesse Internacional (iii-Brasil). A maior parte dos textos sobre o país tinha tom positivo (45%), a segunda maior proporção de textos favoráveis à imagem do país. Além disso, o período desta semana registrou ainda 41% de menções neutras, e apenas 14% de textos com tom negativo –a segunda menor marca já registrada no índice.

A cobertura intensa e detalhada da posse de Lula em 1º de janeiro já era esperada desde a mudança de tom editorial da imprensa internacional à época da eleição. A vitória do petista inverteu a tendência de cobertura crítica que se fazia do governo de Jair Bolsonaro e deu espaço à publicação de reportagens mais positivas e elogiosas sobre a política brasileira e a situação da democracia, com atenção especial à mudança na postura ambiental do país. 

Com este enfoque, um texto sobre os desafios globais para 2023 publicado pelo jornal britânico The Guardian colocou o Brasil como uma das principais fontes de esperança do mundo no novo ano. “Crucialmente, após a era de destruição ambiental e isolamento internacional de Bolsonaro, Lula também prometeu fazer da Amazônia e das emergências climáticas prioridades e devolver o Brasil ao seu lugar no cenário mundial”, diz.

Apesar da relevância da transição política, a morte de Pelé foi o evento que mais gerou menções ao país na imprensa internacional no período, com vários registros em todos os veículos analisados e uma série de textos sobre a história esportiva do craque, o simbolismo cultural do futebol e o legado inigualável do maior jogador de futebol de todos os tempos. 

Fotos do “rei”, títulos da jornada futebolística e textos de reconhecimento a Pelé  estamparam — desde as capas dos principais jornais e canais de TV no mundo às midias sociais e sites de busca digitais — lembrando sempre das vitórias dele estrelando pela seleção brasileira. Pelé foi descrito como mais do que um mero esportista incomparável, mas como um símbolo do próprio Brasil, sendo um dos principais responsáveis pela projeção internacional do país desde a segunda metade do século passado.

Pelé foi “a cara global do futebol”, diz o New York Times e “talvez a pessoa mais conhecida do planeta”, de acordo com o China Daily. Foi “o escultor do futebol sem fronteiras”, segundo o Público, “ídolo eterno” e “rei do esporte rei”, de acordo com o El País, “rei” e “um dos jogadores mais excepcionais que já pisou em um campo de futebol”, para o Clarín, “lenda do futebol mundial”, segundo Le Monde. Reconhecido no mundo inteiro, Pelé é percebido quanto a imagem do Brasil ao ser reverenciado pelas presenças midiaticas e comunicações da imprensa. 

Em editorial, o Guardian analisou como a coincidência entre a morte de Pelé e o fim do governo de Bolsonaro podem indicar um caminho para a reconstrução de um país unido. 

“A morte de Pelé, um dos filhos mais famosos do Brasil, coincide com a saída do presidente derrotado, Jair Bolsonaro, um dos mais criticados internacionalmente. A morte do jogador de futebol aos 82 anos provocou uma manifestação global de amor e respeito. Em contraste, Bolsonaro saiu do país na semana passada com um rosnado autojustificado, resmungando sobre um retorno político. (…) Além de tudo isso, Lula tem um objetivo unificador especialmente urgente: recuperar a camisa amarela do Brasil dos bolsonaristas, que a cooptaram como um símbolo partidário do nacionalismo de direita. Pelé com certeza iria torcer por ele”, diz.

Retrospectiva 

Desde o início de abril de 2022, o iii-Brasil coletou e analisou em média 67 reportagens por semana com menções de destaque ao país nos sete veículos de imprensa analisados. 

Ao longo do levantamento das últimas 39 semanas, o iii-Brasil registrou em média 50% de reportagens de tom neutro, 35% de menções com tom negativo e 15% de textos positivos sobre o país. 

*Daniel Buarque é editor-executivo do Interesse Nacional, doutor em relações internacionais pelo programa de PhD conjunto do King’s College London (KCL) e do IRI/USP. É jornalista, tem mestrado em Brazil in Global Perspective pelo KCL e é autor dos livros “Brazil, um país do presente” (Alameda) e “O Brazil É um País Sério?” (Pioneira).

Fabiana Mariutti atua como professora universitária, pesquisadora e consultora; obteve pós-doutorado, doutorado e mestrado em Administração e bacharel em Comunicação Social. Estuda a imagem, reputação e marca Brasil desde 2010. Autora dos livros: “Country Reputation: The Case of Brazil in the United Kingdom: Four Stakeholders’ Perspectives on Brazil’s Brand Image” (2017) e “Country Brand Identity: Communication of the Brazil Brand in the United States of America” (2013).

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