O Departamento de Estado esvaziado
Nos corredores de poder em Washington, comenta-se que o verdadeiro secretário de Estado é Elon Musk e que Rubio estaria adotando uma atitude de não confrontação, esperando que os egos de Trump e Musk se choquem e que o milionário amigo do presidente seja afastado
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A nomeação do senador conservador da Flórida com amplo conhecimento da política externa norte-americana Marco Rubio para o Departamento de Estado dos EUA foi bem recebida pelo meio político norte-americano que viu nele um fator de moderação para tentar conter as iniciativas despropositadas de Donald Trump.
É verdade que desde sua indicação, Rubio disse que iria trabalhar para implementar as políticas do presidente, mas isso não significa que iria abandonar as competências e as posições tradicionais do Departamento de Estado para influir nas decisões da Casa Branca.
‘Rubio está sendo marginalizado e não consegue ocupar seu espaço como o principal assessor do presidente dos EUA para a política externa’
Está ficando claro, contudo, que Rubio está sendo marginalizado e não consegue ocupar seu espaço como o principal assessor do presidente dos EUA para a política externa.
Desde o início do governo, com um baixo perfil em termos de opinião pública, Rubio parece estar sempre a reboque das políticas apresentadas por Trump e por Elon Musk. Em diversos momentos, dá a impressão de que não tem controle sobre a implementação de medidas para a redução da burocracia em sua área, como foi o caso do desmanche da USAID e da perspectiva de redução em 20% do número de funcionários diplomáticos do Departamento de Estado e da redução do número de embaixadas no exterior.
A reação do senador da Flórida sobre a ideia sem sentido de Trump de os EUA assumirem o controle da Faixa de Gaza e da retirada dos 2,2 milhões de palestinos foi “Make Gaza Beautiful Again”.
‘Crítico de Cuba, de Teerã, da China e de Putin, na Rússia, Rubio mudou de posição, aderiu ao discurso de Trump e parece aguardar as diretrizes da Casa Branca para se pronunciar’
Grande crítico de Cuba, de Teerã, da China e de Putin, na Rússia, Rubio mudou de posição, aderiu ao discurso de Trump e parece aguardar as diretrizes da Casa Branca para se pronunciar. Grande defensor da ajuda externa por meio da USAID, nada fez para evitar o desaparecimento da agência.
Nos corredores de poder em Washington, comenta-se que o verdadeiro secretário de Estado é Elon Musk e que Rubio estaria adotando uma atitude de não confrontação, esperando que os egos de Trump e Musk se choquem e que o milionário amigo do presidente seja afastado. Outros mostram sinais de que esperam que Rubio não permaneça por muito tempo à frente da diplomacia norte-americana.
‘Rubio começou a aparecer, sem deixar sua marca bem clara, em viagens ao exterior’
Rubio começou a aparecer, sem deixar sua marca bem clara, em viagens ao exterior, à América Central, à Europa e ao Oriente Médio, a fim de discutir a questão dos imigrantes centro-americanos, do Canal do Panamá e das guerras da Ucrânia e de Gaza.
Nesta semana, Rubio participou junto com o assessor de Segurança Nacional, Mike Waltz, e do enviado de Trump para a guerra da Ucrânia, Keith Kellogg, de reunião na Arábia Saudita para começar a discutir com a Rússia o fim do conflito (sem a presença de Zelensky e de representantes europeus). Nas entrevistas depois do encontro, as principais explicações vieram do assessor de Segurança Nacional e não do secretário de Estado. Ontem, quem conversou com Zelensky em Kiev foi o general Kellogg, não Rubio.
‘A insatisfação dos funcionários diplomáticos cresce junto com a frustração pela maneira como o governo federal está tratando os temas diplomáticos’
A insatisfação dos funcionários diplomáticos no Departamento de Estado cresce junto com a frustração pela maneira como o governo federal está tratando os temas diplomáticos.
Na semana passada, Trump fez circular um memorando demandando total lealdade às diretrizes da Casa Branca, aparentemente sem consulta a Marco Rubio.
Aparentemente, o que Musk e Trump querem é uma desculpa para poder eliminar os profissionais e colocar os seus aliados em todos os cargos mais importantes.
Presidente e fundador do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE). É presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da FIESP, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo), presidente do Centro de Defesa e Segurança Nacional (Cedesen) e fundador da Revista Interesse Nacional. Foi embaixador do Brasil em Londres (1994–99) e em Washington (1999–04). É autor de Dissenso de Washington (Agir), Panorama Visto de Londres (Aduaneiras), América Latina em Perspectiva (Aduaneiras) e O Brasil voltou? (Pioneira), entre outros.
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