19 fevereiro 2024

Rubens Barbosa: Crítica de Lula a Israel passa do limite e cria desconforto internacional

Consistente em suas críticas à guerra, presidente agora ataca o Estado e não o governo, o que prejudica a percepção externa sobre o Brasil. Para embaixador, o país tem de ter posição de independência e não de ideologização política

Consistente em suas críticas à guerra, presidente agora ataca o Estado e não o governo, o que prejudica a percepção externa sobre o Brasil. Para embaixador, o país tem de ter posição de independência e não de ideologização política

O premiê de Israel criticou as falas de Lula e considerou o brasileiro persona non grata no país (Foto: Kobi Gideon/GPO)

Por Rubens Barbosa*

As declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparando a operação israelense na Faixa de Gaza ao Holocausto realmente ultrapassou uma linha vermelha. As críticas extrapolaram o governo de Binyamin Netanyahu, pois Lula critica o próprio Estado de Israel. Isso aumentou a gravidade do posicionamento, e a reação do governo de Israel foi imediata.

A declaração de Lula passou dos limites. Ele tem sido consistente nas críticas à guerra. Mas agora ele ataca o Estado e não o governo. Coloca em questão o Estado de Israel. Isso prejudica a percepção externa sobre o Brasil, prejudica a autonomia. O país tem de ter posição de independência e não de ideologização política.

As declarações do presidente podem gerar um certo desconforto internacional, mas é importante constatar que as relações entre Brasil e Israel são fortes. O incidente não deve afetar as relações entre o Estado de Israel e o Estado brasileiro, porque há muitos interesses em jogo, inclusive na área de Defesa. Essa não é a posição do Itamaraty.

O Brasil tem que se manter equidistante e implementar a política tradicional brasileira, que é a favor dos dois Estados, a favor da defesa do povo palestino, mas não entrar nesses ataques a Israel.


*Rubens Barbosa é diplomata, foi embaixador do Brasil em Londres e em Washington, DC. É presidente do Instituto Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice) e coordenador editorial da Interesse Nacional. Mestre pela London School of Economics and Political Science, escreve regularmente no Estado de São Paulo e no Interesse Nacional e é autor de livros como Panorama visto de Londres, Integração econômica da América Latina, O dissenso de Washington e Diplomacia ambiental

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Presidente e fundador do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE). É presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da FIESP, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo), presidente do Centro de Defesa e Segurança Nacional (Cedesen) e fundador da Revista Interesse Nacional. Foi embaixador do Brasil em Londres (1994–99) e em Washington (1999–04). É autor de Dissenso de Washington (Agir), Panorama Visto de Londres (Aduaneiras), América Latina em Perspectiva (Aduaneiras) e O Brasil voltou? (Pioneira), entre outros.

Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional

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