Trump continua ‘causando’ no comércio internacional
Alberto do Amaral comenta a decisão do presidente norte-americano de adotar tarifas recíprocas para os países que exportam para os EUA

Por Alberto do Amaral*
Em mais uma atitude polêmica, o presidente Donald Trump anunciou, no último dia 2, tarifas recíprocas para todos os países que exportam para os EUA, as quais se somam às que já haviam sido decretadas pelo governante contra o Canadá e o México.
“As tarifas recíprocas”, explica o professor Alberto do Amaral, “consistem em adotar as mesmas tarifas aplicadas por um outro país; no caso, os Estados Unidos fixam tarifas a partir do déficit comercial que têm com relação a outros países, sendo que não serão inferiores a 10%”.
A adoção de tal medida contraria as regras da Organização Mundial do Comércio. Para o colunista, o multilateralismo está sendo substituído pelo unilateralismo, “uma ordem fundada em regras cede lugar para decisões pessoais tomadas de acordo com circunstâncias determinadas.
A esta consequência vem somar-se outra: haverá, muito provavelmente, desvio de comércio – bens exportados pela China e pela União Europeia poderão ser exportados para outros países, como o Brasil, por preços abaixo do preço de custo, prática desleal de comércio conhecida por dumping“.
Economicamente, prevê-se, a curto prazo, a diminuição do comércio, acompanhada pela redução do crescimento econômico global. A estimativa para este ano é de uma redução de até 1% no comércio internacional e aumento da inflação nos EUA.
“A população norte-americana pagará entre US$ 3 mil e US$ 10 mil a mais pela aquisição de um veículo asiático ou europeu. O custo das tarifas será transferido ao consumidor final; a elevação do índice inflacionário provocará a elevação da taxa de juros, gerando um ciclo vicioso de consequências imprevistas”, adverte Amaral.
“Diante desse cenário, países rivais, como o Japão, a China e a Coreia, buscam entendimento em torno de posições comuns. O Brasil será menos afetado: o comércio bilateral entre Brasil e Estados Unidos gira em torno de US$ 40 bilhões anuais, com superávit norte-americano de US$ 250 milhões.
O nível tarifário médio aplicado pelo Brasil é de 11%; os Estados Unidos aplicarão tarifas adicionais de 10% às exportações brasileiras. Como o Brasil aplica barreiras não tarifárias às exportações norte-americanas que atingem produtos industriais, serviços e bens de alta tecnologia, havia o temor que o efeito podia ser muito pior.”
Alberto do Amaral é professor da Faculdade de Direito da USP
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