Em fins do primeiro semestre de 2019, o Mercosul pareceu acordar do estado de letargia em que estava submergido desde o início do milênio. Após mais de 20 anos de tratativas, com algumas interrupções, a União Europeia (EU) e o Mercosul anunciaram, em fins de junho, o término das negociações de um acordo de livre comércio entre os dois blocos. Dois meses depois, foi anunciada a conclusão das negociações de um acordo com os países da AELC – Associação Europeia de Livre Comércio (bloco constituído por Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein). Em seguida, o Mercosul informou que as negociações com Canadá, Coreia do Sul e Cingapura encontravam-se em estágio bastante avançado. As perspectivas de revitalização do Mercosul e das relações bilaterais se tornaram críveis pela primeira vez em 20 anos.
O objetivo deste texto é verificar os atos iniciais da gestão Bolsonaro, cotejá-los com períodos anteriores e identificar padrões de conduta que indiquem continuidade ou ruptura de tendências de formulação e implementação da política externa brasileira. A hipótese indicada é de que existe um novo padrão de política externa inaugurado na gestão Lula, que persiste no governo Bolsonaro: a mescla entre razão de Estado, centrada na função tecnoburocrática competente (a diplomacia oficial), e a lógica política da busca da hegemonia de poder, na qual a política externa serve a objetivos domésticos eleitorais.