Como falar do Estado, a mais alta forma de ordenamento das relações políticas em um dado território nacional, na conjuntura crítica que atravessamos? Quando a centralidade recém-adquirida pela “política” na vida nacional assume contornos decididamente perversos, por autodestrutivos? Como falar do Estado, que em princípio é a forma mais acabada de autoridade política, quando parte dos atores que respondem pela sua operação no contexto democrático atual – no Executivo e no Legislativo – esmeram-se no exercício de um tipo de brinkmanship, cujos riscos econômicos, sociais e políticos crescem de forma exponencial?
O artigo procura avaliar os significados da “Era Lula” do ponto de vista da história econômica e social brasileira. Não se trata de uma reflexão neutra ou isenta, ainda que se pretenda crítica.
Um dos expoentes da corrente desenvolvimentista no governo fhc, ao lado de Sérgio Motta e José Serra, revive momentos daquele debate na vida econômica do país e explicita o conflito com a ortodoxia liberal, ou monetarismo, identificado à época com a figura do ministro da Fazenda, Pedro Malan. Mendonça de Barros compara o desenvolvimentismo do governo fhc com o do governo Lula. “Interessava ao presidente Lula insistir na sua existência, pois de certa forma o desenvolvimentismo deixava de ser uma criação tucana e passava também a ser a nova expressão do lulismo na economia. O resultado desta manobra foi o de ampliar o conceito associado ao tal desenvolvimentismo, tornando-o ainda mais confuso e heterogêneo”. 43 Os Juros Altos e a Cultura da Indexação
O ex-ministro da Casa Civil e membro do Diretório Nacional do pt critica as posições defendidas por Fernando Henrique Cardoso no artigo “O Papel da Oposição”, publicado na edição 13 desta revista. Em seu texto, José Dirceu recoloca em perspectiva alguns temas apresentados pelo ex-presidente fhc, “reparando-os, para que possamos promover os ajustes finos necessários à nossa ação política, que tem nos instrumentos de estímulo do desenvolvimento sustentável com distribuição de renda, geração de empregos e inclusão social os trampolins para o soerguimento do Brasil que sonhamos e temos a possibilidade de realizar”.
O autor vê no pré-sal a possibilidade de mudar radicalmente o modelo de desenvolvimento brasileiro. O marco regulatório proposto pelo governo ficaria aquém dessa possibilidade, representando uma concessão à lógica do capital financeiro. A seu ver, a mudança radical passaria pelo retorno ao monopólio da Petrobras. A renda petroleira integralmente apropriada pelo Estado seria alocada segundo um plano estratégico de desenvolvimento sob clara liderança estatal.
Para discutir as possíveis trajetórias da economia brasileira, analisa-se, inicialmente, a posição do Brasil na geografia econômica contemporânea. Em seguida, destacam-se alguns aspectos particulares da inserção brasileira em comparação com outros países asiáticos e latinoamericanos. Por fim, discutem-se as características do crescimento recente e da crise atual e as possibilidades e limites de realização de uma política anticíclica de envergadura.