Balanço do primeiro ano do governo do presidente Lula não pode omitir a complexidade da cena política no Brasil e no mundo nem ignorar o enorme desafio de recompor a harmonia entre os poderes, reduzindo a pressão fisiológica, recolocando a agenda nas mãos da política
Os resultados das eleições de 2018 trouxeram muitas surpresas, gratas e ingratas, juntamente com imensos desafios de interpretação. Os especialistas debaterão ainda por muitos anos o que se passou nesse pleito que o cientista político Jairo Nicolau definiu como um exemplo de “eleição crítica: uma disputa que desestrutura o padrão de competição partidária vigente”[1], e que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso classificou como “um tsunami que varreu o sistema político brasileiro” e que “terminou o ciclo político-eleitoral iniciado depois da Constituição de 1988”.
Há semelhanças que não são meras coincidências. Em outubro de 2016, o candidato republicano Donald Trump ameaçou prender sua rival democrata Hillary Clinton caso fosse eleito. Em outubro de 2018, Wilson Witzel disse que daria voz de prisão a Eduardo Paes, o seu concorrente ao governo do Rio de Janeiro. E, pouco depois, Jair Bolsonaro prometeu que prenderia seu adversário Fernando Haddad e que este iria “apodrecer na cadeia”.
Nasceu em Venâncio Aires (RS) em 1962. É economista, professor e político, foi presidente do IPEA de 2007 a 2012. Presidiu a Fundação Perseu Abramo de 2012 a 2020. Filiado ao PT, foi professor titular e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) de 1989 até aposentar-se em 2020. Agraciado com o Prêmio Jabuti em 2002.
O país realiza em outubro as eleições mais importantes dos últimos 20 anos. Em meio a uma conjuntura que combina os efeitos provocados por uma crise profunda nos âmbitos político, econômico e ético, não é difícil entender o porquê.
Na reunião do Conselho Editorial da Interesse Nacional que pautou os artigos desta edição, o conselheiro Eugênio Bucci sugeriu uma conversa entre o jurista, ex-ministro da Justiça no governo FHC, José Gregori, e o filósofo, ex-ministro da Educação no governo Dilma Rousseff, Renato Janine Ribeiro. Eles não só tiveram experiências administrativas em governos desses dois partidos como se empenharam na defesa dos direitos humanos e já defenderam modos de tornar possível uma coalizão entre as duas legendas.