O ex-ministro da Casa Civil e membro do Diretório Nacional do pt critica as posições defendidas por Fernando Henrique Cardoso no artigo “O Papel da Oposição”, publicado na edição 13 desta revista. Em seu texto, José Dirceu recoloca em perspectiva alguns temas apresentados pelo ex-presidente fhc, “reparando-os, para que possamos promover os ajustes finos necessários à nossa ação política, que tem nos instrumentos de estímulo do desenvolvimento sustentável com distribuição de renda, geração de empregos e inclusão social os trampolins para o soerguimento do Brasil que sonhamos e temos a possibilidade de realizar”.
A análise parte do pressuposto de que o modelo político-eleitoral brasileiro, fundado na cons- trução de maiorias parlamentares de apoio ao presidente da República, mediante a aglutina- ção de partidos heterogêneos, não deverá sofrer alterações substantivas no futuro previsível. O autor propõe uma agenda mínima de uma re- forma voltada para a eficiência administrati- va e a recomposição da base ética do governo. A primeira providência é identificar os órgãos mais suscetíveis a desvios de conduta. Em se- gundo lugar, desburocratizar os processos licitatórios, instituir pré-requisitos para a nomeação para cargos de confiança e restabelecer a auto- nomia efetiva de órgãos e entidades da admi- nistração indireta.
A sociedade brasileira – moderna, urbana, com- plexa – não se ajusta à sedimentação de seu sistema político sob o peso de um hegemon. A rejeição ao petismo expressa-se na sociedade sob as mais diversas formas. Essa oposição, entre- tanto, não se traduz adequadamente nos atuais partidos oposicionistas – e, portanto, também não encontra expressão parlamentar. É um si- nal preocupante sobre o estado de saúde de nossa democracia. A persistente relutância em expor as relações entre a natureza autoritária do Pt e as orientações de política internacional do lulis- mo constitui uma aula completa sobre o estado falimentar do PsDB e do Dem.
As eleições presidenciais de 2010 repetiram duas tendências que têm aparecido nas últimas disputas presidenciais: 1) pt e psdb protagonizam a disputa nacional, com pouco espaço para que uma terceira força venha à tona de forma realmente competitiva; 2) os partidos de direita tornaram-se irrelevantes na disputa nacional, ocupando, no máximo, o posto de coadjuvantes em coligações lideradas pelos dois protagonistas. A primeira tendência tornou possível ao pt optar por imprimir à disputa presidencial de 2010 um caráter plebiscitário. Já a segunda tendência contribuiu para que a campanha tucana desse uma forte guinada à direita.
As pesquisas apontam para o franco favoritismo da candidata governista, Dilma Rousseff (pt) isso os números dizem. O que escondem, todavia, desse sistema presidencialista onde a escolha do chefe do Executivo monopoliza as atenções, é uma crise partidária de enormes proporções que deve atingir o seu ápice no período pós-eleitoral, diz a colunista do Valor Econômico. Das urnas, se confirmada a vitória da candidata governista, deve sair um quadro partidário com uma oposição sensivelmente desidratada. Do outro lado, pode ocorrer o superdimensionamento do único partido minimamente estruturado do País, o pt, secundado por uma bancada de pequenos partidos, de feições programáticas pouco definidas, aumentada artificialmente pelo governismo.
Para o candidato do psdb, José Serra, o Estado brasileiro deve ser ativo, capaz de trocar o velho papel de controlador e produtor pelo de regulador e coordenador estratégico de um grande esforço de reestruturação produtiva. Para a candidata do pt, Dilma Rousseff, o Estado deve ser um indutor, com capacidade de planejar, fortalecer empresas públicas, promover alianças com o setor privado e formular uma “orientação nacionalista da produção”. Para o autor, entretanto, as promessas vagas e retóricas dos candidatos tucano e petista tendem a gerar incertezas.
O professor de Ciência Política na ufmg diz que uma eventual adoção da lista fechada certamente favoreceria o fortalecimento dos partidos políticos e o controle sobre o financiamento das campanhas proporcionais. O autor também acredita que as listas fechadas tenderão a produzir efeito igualmente saudável numa politização relativa dessas campanhas. Não pela fantasia de tornar os partidos mais “ideológicos” e menos “fisiológicos”. Mas, simplesmente, por forçá-los a sair em público, coletivamente, e se posicionarem politicamente em busca de votos.
Para o líder petista, o desejo de uma eventual convergência entre o PT e o PSDB não corresponde à realidade. Os dois partidos teriam significativas divergências programáticas, cujas origens estariam na guinada do PSDB à direita, já na eleição de FHC. Estas divergências seriam hoje mais nítidas do que nunca, à luz do projeto nacional-popular consolidado no governo Lula. O artigo é uma resposta ao texto de Renato Janine Ribeiro, publicado no nº 7 da revista.
Com base na experiência de mais de trinta anos de vida política e vários mandatos eletivos, o autor discute a perda de qualidade da política e dos políticos no Brasil. A seu ver, não há saída sem uma reforma política realista, que reduza a fragmentação do sistema de partidos, a infidelidade partidária e a corrupção eleitoral. Mas não bastaria: só mais educação poderia livrar o País da manipulação populista e da troca clientelista de favores.