iii-Brasil: Com eleição, imprensa internacional amplia cobertura sobre o Brasil e fala em teste para a democracia
Apesar de o tom da cobertura ter sido majoritariamente neutro e com foco nos resultados do primeiro turno, análises e artigos de opinião publicados nos principais veículos da mídia estrangeira criticam a tensão política no país e apontam para os riscos de retrocesso democrático após o segundo turno
Apesar de o tom da cobertura ter sido majoritariamente neutro e com foco nos resultados do primeiro turno, análises e artigos de opinião publicados nos principais veículos da mídia estrangeira criticam a tensão política no país e apontam para os riscos de retrocesso democrático após o segundo turno
Por Daniel Buarque e Fabiana Mariutti*
iii-Brasil – 3 a 9 de outubro de 2022
Visibilidade: 111 reportagens em 7 veículos analisados
Classificação das notícias:
34% Negativas
60% Neutras
6% Positivas
A cobertura sobre a apuração dos votos e o resultado do primeiro turno das eleições brasileiras manteve o viés de alta do interesse da mídia internacional pelo país e bateu um novo recorde semanal de número de reportagens sobre o Brasil desde o início deste levantamento.
Na semana de 3 a 9 de outubro foram registradas 111 reportagens com menções de destaque ao Brasil nos sete veículos da imprensa estrangeira analisados pelo Índice de Interesse Internacional (iii-Brasil). O volume recorde de textos coletados é o mais alto registrado desde o início da análise, em abril de 2022.
O tom da cobertura foi majoritariamente neutro, com relatos factuais sobre a apuração dos votos, os resultados e os primeiros movimentos políticos em preparação para o segundo turno. No total, 60% das reportagens de tom neutro representam assuntos com natureza factual sobre o país, sem indicação de prejuízo a sua reputação no exterior. O período registrou ainda 34% de textos com tom negativo, com potencial de piorar a imagem internacional do país. Já o total de notícias positivas, com potencial de melhorar a imagem do país foi de 6%.
A grande proporção de textos de tom neutro indica que o centro da atenção da imprensa internacional foi a cobertura factual dos resultados das eleições. Algumas das publicações estrangeiras, como o britânico The Guardian e o francês Le Monde, chegaram a publicar textos sobre a apuração dos votos no Brasil em tempo real, com números e gráficos mostrando os resultados da eleição na madrugada de segunda-feira.
Ainda assim, alguns veículos mais críticos ao governo de Bolsonaro apresentaram o resultado do primeiro turno com uma cobertura de tom negativo. O jornal britânico, por exemplo, já havia se posicionado a favor da eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro turno, e tratou o crescimento de Bolsonaro na reta final como uma notícia ruim, algo negativo para o país.
Indo além dos dados, um dos principais focos da cobertura foi a ideia de que a votação do dia 2 de outubro e a preparação para o segundo turno são um teste para a democracia brasileira. Alguns dos veículos de imprensa mais importantes do mundo publicaram artigos e opinião e editoriais analisando os resultados e comentando especialmente a votação mais alta do que o esperado do presidente Jair Bolsonaro.
Após o primeiro turno, o jornal francês Le Monde, por exemplo, publicou um editorial alertando para o que chama de riscos do ‘bolsonarismo’ marcado pela moral religiosa e por valores retrógrados que se enraízam pelo país. O americano The New York Times publicou um artigo escrito pelo historiador André Pagliarini alegando que, com a ida ao segundo turno, Bolsonaro ficou mais próximo de conquistar um segundo mandato e tentar se manter no poder de forma indeterminada.
Já o The Guardian, publicou um artigo de opinião do pesquisador Christopher Sabatini falando sobre a força do bolsonarismo e alegando que, mesmo que Lula vença o segundo turno, terá que enfrentar oposição forte e turbulências em seu governo. No português Público, o historiador Manuel Loff argumentou que o Brasil pareceu ter entrado num processo de transição autoritária. Em outro texto de opinião do Público, Bárbara Reis sintetiza que com o governo atual, “o número de armas no Brasil triplicou, a desflorestação da Amazônia subiu 60% e o orçamento para a Ciência e Inovação caiu 30%”. E no espanhol El País, a jornalista brasileira disse que a eleição consagrou a “vilanocracia”, fenômeno descrito como o ato de votar nos piores políticos.
Algumas reportagens de teor desfavorável ao Brasil estão pautadas em assuntos relacionados à extrativismo ilegal na Amazônia e aos indígenas. Por exemplo, o Clarín aborda o aumento de 25% da exploração ilegal de ouro em 2020-2021 devido a falta de controle do governo; entre os compradores principais do garimpo estão no Canadá (31%), Suíça (25%) e Reino Unido (15%). El País retrata a luta das mulheres dos povos indígenas, principalmente as mais velhas, sobre as experiências machistas que viveram em silêncio ao longo de suas vidas.
Retrospectiva
Desde o início de abril, o iii-Brasil, ao estudar a imagem internacional do Brasil, coletou e analisou em média 60 reportagens por semana com menções de destaque ao país nos sete veículos de imprensa analisados.
Ao longo do levantamento das últimas 26 semanas, o iii-Brasil registrou em média 50% de reportagens de tom neutro, 39% de menções com tom negativo e 11% de textos positivos sobre o país.
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*Daniel Buarque é editor-executivo do Interesse Nacional, doutor em relações internacionais pelo programa de PhD conjunto do King’s College London (KCL) e do IRI/USP. É jornalista, tem mestrado em Brazil in Global Perspective pelo KCL e é autor dos livros “Brazil, um país do presente” (Alameda) e “O Brazil É um País Sério?” (Pioneira).
Fabiana Mariutti atua como professora universitária, pesquisadora e consultora; obteve pós-doutorado, doutorado e mestrado em Administração e bacharel em Comunicação Social. Estuda a marca Brasil desde 2010. Autora dos livros: “Country Reputation: The Case of Brazil in the United Kingdom: Four Stakeholders’ Perspectives on Brazil’s Brand Image” (2017) e “Country Brand Identity: Communication of the Brazil Brand in the United States of America” (2013).
O Índice de Interesse Internacional (iii-Brasil) é uma análise da imagem do país realizada a partir de um levantamento sistemático de dados sobre notícias que mencionam o Brasil a cada semana em sete publicações internacionais, selecionadas como representativas da imprensa internacional por serem reconhecidas internacionalmente como “newspapers of record”. São elas: The Guardian (Reino Unido), The New York Times (Estados Unidos), El País (Espanha), Le Monde (França), Clarín (Argentina), Público (Portugal) e China Daily (China). O iii-Brasil é produzido semanalmente pela equipe do portal Interesse Nacional e pela pesquisadora Fabiana Mariutti. Professora universitária e consultora; obteve pós-doutorado, doutorado e mestrado em Administração e bacharel em Comunicação Social. Estuda a imagem, reputação e marca Brasil desde 2010. Interesse nas áreas de Place Branding e Public Diplomacy. Nomeada Place Brand Expert pelo The Place Brand Observer, na Suíça. Autora do recente artigo: “When place brand and place logo matches: VRIO applied to Place Branding”, de dois livros e sete capítulos de livros.
Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional