06 janeiro 2023

Rubens Barbosa: Os rumos do novo governo

Perspectiva é que a política continue polarizada, e que a administração de Lula tente equilibrar interesses do PT e de outros partidos da coalizão ao mesmo tempo em que encara dilemas sobre o controle de gastos públicos enquanto tenta entregar promessas de campanha

Perspectiva é que a política continue polarizada, e que a administração de Lula tente equilibrar interesses do PT e de outros partidos da coalizão ao mesmo tempo em que encara dilemas sobre o controle de gastos públicos enquanto tenta entregar promessas de campanha

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva logo após receber a faixa presidencial durante sua posse (Foto: Ricardo Stuckert)

Por Rubens Barbosa*

Os discursos de posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e dos ministros da nova administração governo dão algumas pistas para entender como vai evoluir o governo iniciado em 1º de janeiro. Essa visão preliminar e inicial poderá se consolidar ou não na medida em que a nova administração começar a implementar as muitas promessas apresentadas até aqui.

  • A polarização e a divisão política interna deverão permanecer. Apesar da retorica de pacificação, as duras referências nos discursos com pesadas acusações ao ex-presidente Jair Bolsonaro, ameaças de processos e algumas evidências como o não comparecimento do comandante de Marinha na posse de seu substituto, embora o ministro da Defesa tenha tentado dissuadi-lo, bem como pela continuada presença de bolsonaristas em frente a quarteis em diferentes estados são indícios que a oposição no Congresso e nas ruas vai ser forte;
  • O grande número de ministérios necessário para acomodar diferentes interesses dentro do PT, do movimento de centro que apoiou Lula e mesmo de partidos que não apoiaram Lula, pode gerar conflitos de competência e problemas talvez difíceis de superar no Congresso;   
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  • Ao lado das preocupações sociais, duas áreas foram projetadas como “transversais” com grande implicação política e econômica: a questão ambiental e mudança de clima e a da reindustrialização;
  • Está claro que o grande dilema para o governo Lula será a expansão dos gastos para atender a todos os programas, em especial os da área social, e a necessidade de encontrar uma âncora fiscal para assegurar a estabilidade econômica. O mercado e economistas liberais expressam grande preocupação com essa questão relacionada com a influência política do PT;
  • A grande incógnita é saber se o presidente Lula vai conseguir controlar o PT, pois isso vai ter grande implicação na definição das políticas econômicas e o planejamento das ações do governo. Simone Tebet disse publicamente que alertou o presidente sobre algumas divergências suas com políticas do ministério da Fazenda; na questão dos combustíveis: PT 1 x Haddad 0;
  • Alguns ministros, como o do Trabalho e o da Previdência Social, anunciaram, sem coordenação com a presidência, a intenção de modificar as recentes reformas trabalhista e previdenciária, o que mostra a dificuldade de coordenar interesses tão díspares; vai haver divergência de visões entre o ministério de Meio Ambiente e o da Agricultura; entre o Itamaraty e o ministério da Indústria e Comércio e outros ministérios quanto à as competências da Chancelaria na coordenação de ações externas.

Em conclusão, apesar da visão negativa inicial por parte dos economistas liberais, ainda não está claro como algumas das dúvidas mencionadas acima serão resolvidas. Uma visão mais clara e talvez definitiva quanto as chances do novo governo responder às grandes expectativas de forma responsável, com transparência e com credibilidade, acontecerá ao final dos primeiros cem dias do governo.

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*Rubens Barbosa foi embaixador do Brasil em Londres, é diplomata, presidente do Instituto Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice) e coordenador editorial da Interesse Nacional.

Presidente e fundador do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE). É presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da FIESP, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo), presidente do Centro de Defesa e Segurança Nacional (Cedesen) e fundador da Revista Interesse Nacional. Foi embaixador do Brasil em Londres (1994–99) e em Washington (1999–04). É autor de Dissenso de Washington (Agir), Panorama Visto de Londres (Aduaneiras), América Latina em Perspectiva (Aduaneiras) e O Brasil voltou? (Pioneira), entre outros.

Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional

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