Notice: Function _load_textdomain_just_in_time was called incorrectly. Translation loading for the wordpress-seo domain was triggered too early. This is usually an indicator for some code in the plugin or theme running too early. Translations should be loaded at the init action or later. Please see Debugging in WordPress for more information. (This message was added in version 6.7.0.) in /home/storage/c/6b/bd/interessenaciona1/public_html/wp-includes/functions.php on line 6114
Interesse Nacional
08 junho 2023

Com Plano Amazônia, Lula renova aposta na diplomacia ambiental e tenta criar uma marca para seu terceiro mandato

Criticado por repetir políticas do passado, o governo usa a meta de acabar com o desmatamento como novidade na sua política externa. Apesar de ser uma jogada inteligente para renovar o otimismo internacional com o país, promessa vai gerar cobranças por resultados e pode definir o legado do presidente

Criticado por repetir políticas do passado, o governo usa a meta de acabar com o desmatamento como novidade na sua política externa. Apesar de ser uma jogada inteligente para renovar o otimismo internacional com o país, promessa vai gerar cobranças por resultados e pode definir o legado do presidente

O presidente Luís Inácio Lula da Silva e a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, durante cerimônia do dia Meio Ambiente (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

Por Daniel Buarque*

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva reagiu com uma grande jogada à onda de péssimas notícias sobre o país no exterior por conta do primeiro ano da morte de Dom Phillips e Bruno Araújo Pereira e das mudanças na estrutura dos seus ministérios. Enquanto parecia que havia acabado a lua de mel do mundo com o presidente e alguns dos principais jornais do exterior se debruçavam sobre a violência e a destruição da Amazônia, com críticas às muitas promessas com pouca ação desde o início do ano, Lula anunciou oficialmente um plano para ampliar a proteção da floresta e dar fim ao desmatamento até 2030.

O anúncio foi inteligente e feito em um bom momento. Ele vem para tentar renovar a esperança criada pelo mundo em torno da nova administração do Brasil desde a derrota de Bolsonaro nas eleições do ano passado. Durante os quatro anos do governo de extrema-direita, o Brasil viu seu prestígio desmoronar em grande parte por conta da questão ambiental. E também foi esta área que ajudou a projetar positivamente o país desde que Lula foi eleito. Apesar disso, o tom da percepção externa parecia começar a mudar enquanto o presidente se aproxima de completar seis meses no poder e permite o esvaziamento da pasta do Meio Ambiente.

https://interessenacional.com.br/edicoes-posts/iii-brasil-aniversario-de-um-ano-de-morte-de-bruno-e-dom-aumenta-visibilidade-internacional-do-pais-com-tom-negativo/

Com o Plano Amazônia, Lula renova a aposta de usar a diplomacia ambiental como ferramenta para projeção do Brasil no mundo. Além de ir contra a percepção de que estava reduzindo seu empenho na área e de demonstrar um rompimento mais efetivo com a política do seu antecessor, o presidente também usa a postura de luta contra o aquecimento global como uma marca do seu terceiro mandato. Ele tenta romper com a ideia de repetição do passado e busca diferenciar a política externa do seu governo atual do anterior, entre 2003 e 2010.

Essa tentativa é particularmente relevante no contexto das avaliações gerais sobre os primeiros meses do governo. De forma crítica, muitos analistas têm apontado para a falta de novidades e a excessiva repetição de políticas já usadas no passado ou mesmo ultrapassadas.

https://interessenacional.com.br/edicoes-posts/daniel-buarque-governo-consolida-diplomacia-ambiental-como-ferramenta-para-projecao-do-brasil-no-mundo/

“O que caracteriza o terceiro mandato de Lula é uma repetição, uma reprise do que já houve no passado”, disse o diplomata e ex-ministro Rubens Ricupero em entrevista. Segundo ele, por mais que o próprio Lula tenha mudado desde 2010 e o mundo também tenha passado por transformações desde então, a tendência em muitas áreas parecia ser de o governo agir como sempre agiu, com uma política de repetição. E a estratégia ambiental de agora ajuda a romper isso.

“Na política externa atual há uma novidade, que é o engajamento mais claro com a mudança climática e a luta contra o aquecimento global. Lula e Celso Amorim não tinham tanta sensibilidade para isso nos primeiros mandatos. Isso não é uma continuidade em relação aos governos anteriores. Ele parece de fato estar consciente do problema e querer agir contra ele”, disse.

https://interessenacional.com.br/edicoes-posts/robert-toovey-walker-promessas-promessas-promessas/

Essa postura ambiental é uma peça-chave na “Doutrina Lula”, que é a busca por prestígio e pela tão falada “volta” do país ao mundo, explicou Ricupero. “Isso é importante para o acolhimento favorável que ele está recebendo no exterior”, disse.

Apesar de ser um passo na direção certa, e de o anúncio já ter ampla repercussão na imprensa internacional, ele ainda não foi suficiente para renovar totalmente a empolgação inicial com a volta de Lula ao poder. O problema é que há uma preocupação geral com a capacidade do governo de entregar resultados reais dessa mobilização pela proteção ambiental.

https://interessenacional.com.br/edicoes-posts/antonio-carlos-lessa-protagonismo-climatico-e-o-caminho-para-o-brasil-reconquistar-relevancia-internacional/

Como explicou o professor Robert Toovey Walker em sua coluna na Interesse Nacional, grandes promessas carregam altos riscos, e a frustração da meta de acabar com o desmatamento pode gerar uma cobrança grande sobre o governo, que pode abalar a tentativa de projeção internacional do Brasil. Isso já ficou evidente na cobrança externa em relação às recentes mudanças no Ministério do Meio Ambiente.

De qualquer forma, a aposta faz muito sentido. Enquanto o governo perde tempo e gasta energia buscando fazer o Brasil ser aceito como um negociador pelo fim da guerra na Ucrânia, e enquanto o presidente dá tiros no pé em declarações de apoio exageradas à Venezuela, voltar a dar prioridade à agenda ambiental deve ser aplaudido como um passo no rumo certo. Além de ser uma marca do governo, é claramente o melhor caminho para que o país consiga ter protagonismo internacional


*Daniel Buarque é colunista e editor-executivo do portal Interesse Nacional, pesquisador do pós-doutorado do Instituto de Relações Internacionais da USP e doutor em relações internacionais pelo programa de PhD conjunto do King’s College London (KCL) e do IRI/USP. É jornalista, tem mestrado em Brazil in Global Perspective pelo KCL e é autor dos livros “Brazil, um país do presente” (Alameda) e “O Brazil É um País Sério?” (Pioneira).


Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional

Editor-executivo do portal Interesse Nacional. Jornalista e doutor em Relações Internacionais pelo programa de PhD conjunto do King’s College London (KCL) e do IRI/USP. Mestre pelo KCL e autor dos livros Brazil’s international status and recognition as an emerging power: inconsistencies and complexities (Palgrave Macmillan), Brazil, um país do presente (Alameda Editorial), O Brazil é um país sério? (Pioneira) e O Brasil voltou? (Pioneira)

Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional

Cadastre-se para receber nossa Newsletter