Sergio Amaral, grande amigo e diplomata esclarecido
Diplomata morto aos 79 anos foi um social-democrata voltado para a construção de uma economia moderna, competitiva e de uma sociedade mais inclusiva, menos desigual. Para embaixador e amigo, sua partida deixa um gigantesco vazio na construção de um Brasil melhor
Embaixador morto aos 79 anos foi um social-democrata voltado para a construção de uma economia moderna, competitiva e de uma sociedade mais inclusiva, menos desigual. Para diplomata e amigo, sua partida deixa um gigantesco vazio na construção de um Brasil melhor
Por Sergio Abreu e Lima Florêncio*
Sergio Amaral e eu estudamos juntos no Instituto Rio Branco, trabalhamos juntos no governo Fernando Henrique Cardoso, ele então como meu chefe. Integramos os quadros de um governo que formulou e implantou reformas decisivas na trajetória da social-democracia em nosso país. Sergio teve papel central na elaboração e na divulgação desse reformismo esclarecido ancorado no Plano Real, no Bolsa Escola, no tripé macroeconômico, na lei de Responsabilidade Fiscal. Esses foram os pilares que pavimentaram a manutenção da política econômica, a ampliação e o aprofundamento das políticas sociais no governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Nós éramos muito diferentes. Um mais realista, outro mais sonhador. Um admirava no outro o que lhe faltava. Eram diferenças complementares. Talvez por isso mesmo fomos grandes amigos. Ele com aquela disciplina intelectual que ocultava uma sensível afetividade. O rigor da racionalidade e inspirada reflexão faziam dele um sólido analista da geopolítica e do lugar do Brasil no mundo. Nas grandes capitais onde serviu como embaixador, logo era convidado para ser palestrante de renomadas instituições acadêmicas ou para integrar prestigiosos think tanks. Foi assim em Londres, Paris e Washington, DC.
Não era economista, mas foi destacado negociador da dívida externa brasileira nos turbulentos anos 1980. Não tinha formação especializada, mas foi um dos arquitetos do Programa Nuclear Brasil-Alemanha. Não foi embaixador em Buenos Aires, mas conhecia como poucos os desafios e oportunidades do Mercosul. Não foi Embaixador em Pequim, mas era agudo analista da nova superpotência.
Esses traços refletiam uma mente aberta aos grande temas globais e voltada para a defesa do interesse nacional como eixo central de sua trajetória profissional. Poucas pessoas conheci com seu genuíno espírito público. Com sua aptidão para o equilíbrio entre reflexão e ação.
Sergio nunca se guiou por uma suposta ética relacional, pautada por relações de parentesco ou laços de interesses recíprocos. Nunca buscou privilégios, sempre combateu corporativismos. Foi um legítimo social-democrata, voltado para a construção de uma economia moderna, competitiva e de uma sociedade mais inclusiva, menos desigual. Sua partida prematura deixa imensa saudade no filho Marcelo, nas filhas Manuela, Camila e Adriana, na legião de amigos (as) e admiradores (as). E um gigantesco vazio na construção de um Brasil melhor.
*Sergio Abreu e Lima Florêncio é colunista da Interesse Nacional, professor de história da política externa brasileira no Instituto Rio Branco, economista e foi embaixador do Brasil no México, no Equador e membro da delegação brasileira permanente em Genebra.
Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional
Sergio Abreu e Lima Florêncio é colunista da Interesse Nacional, economista, diplomata e professor de história da política externa brasileira no Instituto Rio Branco. Foi embaixador do Brasil no México, no Equador e membro da delegação brasileira permanente em Genebra.
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