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A ‘China global’ representa uma grande parte do boom de energia renovável da América Latina, mas as indústrias locais e a ‘inovação frugal’ são fundamentais

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Apesar de a China ainda participar muito no processo de desenvolvimento de energia limpa para a América Latina, países como o Chile já iniciam seus próprios projetos. Para pesquisadores, o governo chileno demonstra ter grandes iniciativas visando um futuro sustentável e independente 

O lítio, essencial para as baterias de veículos elétricos, pode ser o ouro branco da América do Sul. (Foto: AP/Rodrigo Abd)

Por Zdenka Myslikova e Nathaniel Dolton-Thornton*

Por Zdenka Myslikova e Nathaniel Dolton-Thornton* 

A história do rápido avanço da energia renovável na América Latina muitas vezes foca na influência chinesa, e por um bom motivo. O governo, os bancos e as empresas da China impulsionaram a transição energética do continente, sendo que cerca de 90% de todas as tecnologias eólicas e solares instaladas são produzidas por empresas chinesas. A State Grid da China agora controla mais da metade da distribuição de energia regulamentada do Chile, o que é suficiente para gerar preocupações para o governo chileno.

‘Cerca de 90% de todas as tecnologias eólicas e solares instaladas são produzidas por empresas chinesas.’

A China também se tornou uma grande investidora no setor de minerais críticos da América Latina, que é um tesouro de lítio, níquel, cobalto e elementos de terras raras essenciais para o desenvolvimento de veículos elétricos, turbinas eólicas e tecnologias de defesa.

Em 2018, a empresa chinesa Tianqi Lithium comprou uma participação de 23% em uma das maiores produtoras de lítio do Chile, a Sociedad Química y Minera. Mais recentemente, em 2022, a Ganfeng Lithium adquiriu um importante projeto de lítio evaporativo na Argentina por US$962 milhões. Em abril de 2023, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente chinês Xi Jinping assinaram cerca de 20 acordos para fortalecer o relacionamento já estreito entre seus países, inclusive nas áreas de comércio, mudanças climáticas e transição energética.

Juan Carlos Jobet and Carolina Schmidt, wearing matching fleece jackets, walk on either side Xie Zhenhua, who is wearing in a suit and tie, along a row of solar panels.
O interesse da China nos recursos energéticos da América do Sul vem crescendo há anos. Em 2019, o representante especial da China para mudanças climáticas, Xie Zhenhua, reuniu-se com os então ministros de energia e meio ambiente do Chile, Juan Carlos Jobet e Carolina Schmidt, no Chile(Foto: Martin Bernetti/AFP via Getty Images)

‘A crescente influência da China sobre as cadeias globais de fornecimento de energia limpa e sua atuação sobre os sistemas de energia dos países geram preocupações internacionais.’

A crescente influência da China sobre as cadeias globais de fornecimento de energia limpa e sua atuação sobre os sistemas de energia dos países geram preocupações internacionais. Mas a relação entre a China e a América Latina também está cada vez mais complicada, pois os países latino-americanos estão tentando garantir seus recursos e seu próprio futuro em termos de energia não poluente.

Juntamente com os investimentos internacionais, os países latino-americanos estão fomentando culturas de inovação energética que são caseiras, dinâmicas, criativas, muitas vezes de base e frequentemente ignoradas. Elas variam de inovações sofisticadas com materiais de alta tecnologia a um fenômeno conhecido como “inovação frugal”.

O Chile olha para o futuro

O Chile é um exemplo de como a América Latina tem adotado a energia renovável ao mesmo tempo em que planeja um futuro mais autossuficiente.

Novos projetos de energia geotérmica, solar e eólica – alguns construídos com o apoio da China, mas não todos – fizeram com que o Chile ultrapassasse sua meta de energia renovável para 2025. Cerca de um terço do país agora é alimentado por energia limpa.

‘Mas o grande prêmio, e grande parte do interesse da China, está enterrado no deserto do Atacama, no Chile, que abriga as maiores reservas de lítio do mundo.’

Mas o grande prêmio, e grande parte do interesse da China, está enterrado no deserto do Atacama, no Chile, que abriga as maiores reservas de lítio do mundo. O lítio, um metal branco prateado, é essencial para a produção de baterias de íons de lítio que alimentam a maioria dos veículos elétricos e o armazenamento de energia em escala de serviços públicos. Países de todo o mundo têm se esforçado para garantir fontes de lítio, e o governo chileno está determinado a manter o controle sobre suas reservas, que atualmente representam cerca de metade do suprimento conhecido do planeta.

Em abril de 2023, o presidente do Chile anunciou uma estratégia nacional de lítio para garantir que o Estado detenha a propriedade parcial de alguns desenvolvimentos futuros de lítio. A medida, que ainda precisa ser aprovada, recebeu reclamações de que poderia desacelerar a produção.

‘A América Latina já viu seus recursos serem vendidos antes, e o Chile não pretende perder seu valor natural desta vez’

No entanto, o governo pretende aumentar os lucros da produção de lítio e, ao mesmo tempo, fortalecer as salvaguardas ambientais e compartilhar mais riqueza com os cidadãos do país, incluindo as comunidades locais afetadas pelos projetos relativos ao lítio. A América Latina já viu seus recursos serem vendidos antes, e o Chile não pretende perder seu valor natural desta vez.

Aprendendo com os investidores estrangeiros

O desenvolvimento de seu próprio setor de energia renovável tem sido uma prioridade no Chile há mais de uma década, mas o caminho tem sido difícil em alguns momentos.

Em 2009, o governo começou a estabelecer centros de excelência nacionais e internacionais – Centros de Excelencia Internacional – para pesquisas em campos estratégicos, como energia solar, energia geotérmica e resiliência climática. Além disso, ele convidou e co-financiou institutos de pesquisa estrangeiros, como o influente instituto europeu Fraunhofer e o ENGIELab da França, para estabelecer filiais no Chile e realizar pesquisas aplicadas. O mais recente é um centro para a produção de lítio usando energia solar.

O governo esperava que os institutos trabalhassem com empresas e centros de pesquisa locais, transferindo conhecimento para alimentar um ecossistema de inovação local. Entretanto, a realidade ainda não correspondeu às expectativas. As organizações estrangeiras trouxeram seu próprio pessoal treinado. E, com exceção do recém-criado instituto de lítio, as autoridades nos dizem que o baixo financiamento tem sido um grande problema.

A incubadora de startups do Chile e a inovação frugal

Enquanto os grandes projetos ganham as manchetes, há mais coisas acontecendo fora do radar.

‘O Chile é o lar de uma das maiores incubadoras públicas e aceleradoras de sementes da América Latina’

O Chile é o lar de uma das maiores incubadoras públicas e aceleradoras de sementes da América Latina, a StartUp Chile. Ela ajudou várias startups locais que oferecem inovações importantes em alimentos, energia, mídia social, biotecnologia e outros setores.

Com frequência, na América do Sul, esse tipo de iniciativa nasce e se desenvolve em um contexto de escassez de recursos e sob restrições tecnológicas, financeiras e materiais. Essa “inovação frugal” enfatiza a sustentabilidade com custos substancialmente mais baixos.

Por exemplo, a startup chilena independente Reborn Electric Motors desenvolveu um empreendimento que converte antigas frotas de ônibus a diesel em ônibus totalmente elétricos. A Reborn foi fundada em 2016, quando o mercado nacional de mobilidade elétrica no Chile estava em seus estágios iniciais, antes que a BYD da China aumentasse o uso de ônibus elétricos nas cidades locais.

O “minúsculo EV superbarato” da Bolívia, desenvolvido pela startup local Industrias Quantum Motors, é outro exemplo de inovação frugal no espaço dos veículos elétricos. A startup pretende levar a mobilidade elétrica amplamente à população latino-americana. Ela oferece o menor carro elétrico possível, que pode ser conectado a uma tomada de parede padrão. O carro custa cerca de US$6.000 e tem uma autonomia de aproximadamente 55 km por carga.

A Phineal é outra empresa chilena promissora que oferece soluções de energia limpa, com foco em projetos de energia solar. Seus projetos incluem a instalação de sistemas solares, tecnologia de eletromobilidade e tecnologia usando blockchain para melhorar o gerenciamento de energia renovável na América Latina. Muitos desses projetos são altamente sofisticados e tecnologicamente avançados e encontraram mercados no exterior, inclusive na Alemanha.

Olhando para o futuro do hidrogênio verde

O Chile também está mergulhando em outra área de ponta da energia limpa. O uso de sua abundante energia solar e eólica para produzir hidrogênio verde para exportação como substituto de combustível fóssil tornou-se uma prioridade do governo.

O governo está desenvolvendo uma parceria público-privada de escala sem precedentes no Chile para a produção de hidrogênio e se comprometeu a cobrir 30% de um investimento público e privado previsto de US$193 milhões, financiado em parte pela produção de lítio e cobre. Algumas questões cercam a parceria, incluindo a falta de experiência do Chile na administração de um projeto tão grande e preocupações sobre o impacto ambiental. O governo alega que a produção de energia verde do Chile poderia eventualmente rivalizar com seu setor de mineração.

‘Com abundância de energia hidrelétrica e luz solar, a América Latina já atende a um quarto de sua demanda de energia com energias renováveis – quase o dobro da média global’

Com abundância de energia hidrelétrica e luz solar, a América Latina já atende a um quarto de sua demanda de energia com energias renováveis – quase o dobro da média global. O Chile e seus vizinhos preveem que esses números só aumentarão.


*Zdenka Myslikova é pesquisadora do pós-doutorado em inovação de energia limpa na Tufts University

Nathaniel Dolton-Thornton é pesquisador-assistente de política climática na Tufts University


Este texto é uma republicação do site The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia o artigo original, em inglês.

Tradução de Letícia Miranda


Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional

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