iii-Brasil: Com Lula, música e futebol, notícias sobre o país no exterior com viés positivo atingem proporção recorde 

Textos favoráveis à sucessão política, manutenção da democracia e mudança na gestão ambiental se juntaram a artigos sobre o favoritismo da seleção na Copa do Mundo e, especialmente, a homenagens à cantora Gal Costa após sua morte. Foi a projeção mais positiva da imagem do Brasil desde o início do monitoramento da imprensa internacional

Por Daniel Buarque e Fabiana Mariutti*

iii-Brasil – 7 a 13 de novembro de 2022

Visibilidade: 59 reportagens em 7 veículos analisados

Classificação das notícias:

26% Neutras

20% Negativas

54% Positivas

A combinação de fatores políticos, pautas culturais e assuntos esportivos levaram, na última semana, a um registro recorde na proporção de textos com tom positivo pela imprensa estrangeira ao mencionar o Brasil. Pela primeira vez desde o início do monitoramento do Índice de Interesse Internacional (iii-Brasil) textos favoráveis ao país e com potencial de melhorar a imagem do país foram a maioria dos analisados ao longo de uma semana, totalizando 54% das menções ao país nos sete veículos avaliados.

A eleição de Luiz Inácio Lula da Silva já havia indicado uma melhora da imagem internacional do Brasil na mídia internacional nas últimas semanas. Na semana entre 7 e 13 de novembro, os textos favoráveis ao país na política se juntaram a uma série de reportagens e artigos sobre a cultura brasileira – destacada em homenagens a Gal Costa após sua morte – e sobre o futebol – pela proximidade da Copa do Mundo.

O percentual de menções positivas ao país na semana não apenas bateu um recorde, como foi 5 vezes superior à média de textos favoráveis ao país registrados até o momento. Ao longo de 32 semanas, a média de reportagens positivas registradas a cada semana era de apenas 11%, e o registro mais alto até então tinha sido de 21% (em uma ocasião também favorecida pela prevalência de temas culturais).

No total, foram registrados 59 textos com menção ao Brasil nos sete veículos analisados. Além da maior parte dos textos sobre o Brasil com tom positivo (54%), o período desta semana registrou ainda 26% de textos com tom neutro e apenas 20% de menções negativas, com potencial de piorar o prestígio do país no mundo – a menor proporção desde o início do levantamento. 

Em relação à política, foi possível perceber, na semana, uma continuação do tom favorável registrado desde a vitória de Lula nas eleições. Os textos tratam positivamente sobre uma ampla segurança da democracia no país e especialmente de uma perspectiva de mudança na gestão ambiental do governo. Ao longo da semana, houve ainda registros de reportagens sobre diálogos amistosos entre o novo governo e outros países no sentido de formar parcerias internacionais e proximidades diplomáticas.

O jornal português Público, por exemplo, veiculou um artigo em que trata de um possível estreitamento de laços entre Brasil e Portugal. Segundo o espanhol El País, a chegada de Lula ao poder amplia ainda as expectativas por uma maior integração da América do Sul. E o chinês China Daily também tratou de diálogos diplomáticos visando uma maior aproximação entre o gigante asiático e o Brasil.

Em tom na maior parte neutro identificado pelo iii-Brasil, mas com possibilidade de prejudicar a reputação do atual governo do Brasil, prevaleceram textos sobre as ações de protestos contra os resultados das eleições, com dois textos publicados pelo espanhol El País. Ainda, o norte-americano The New York Times também aborda o assunto ao mencionar o descontentamento dos militares, assim como The Guardian. 

A semana também viu se multiplicarem as reportagens sobre futebol e a proximidade da Copa do Mundo. Muitos dos textos destacam a força do esporte no Brasil, o histórico de conquistas e uma percepção de que o país é favorito na competição. Segundo o jornal argentino Clarín, por exemplo, o Brasil é “o candidato de sempre e chega outra vez como favorito”. “O Brasil entre no torneio como um favorito para ganhar o número recorde de seis Copas do Mundo”, diz o China Daily.

Mas foi a cultura que ajudou a impulsionar uma imagem mais positiva do Brasil, com muitas homenagens à cantora Gal Costa nos veículos analisados (exceto o jornal chinês, que não registrou sua morte). No total, o monitoramento iii-Brasil registrou dez textos sobre Gal Costa nos veículos analisados, um terço das menções favoráveis ao país na semana, todos com tom extremamente positivo sobre a cantora e como ele representava caa música brasileira.

O jornal francês Le Monde chama a cantora de “a grande voz da música brasileira”. Segundo o jornal americano The New York Times, a voz de Gal “era uma maravilha de graça e vitalidade, igualmente capaz de uma delicadeza que desafia a gravidade, provocações azedas, agilidade jazzística e intensidade do rock”, diz. Já o britânico The Guardian diz que “sua arte foi surpreendente, singular e reformulou a música brasileira. Então ela nunca foi redescoberta pelo público mais jovem, porque ela não precisava ser – sua presença raramente saía da conversa cultural. A partir do momento em que ela entrou no panteão brasileiro, com lantejoulas e plumas, ela estava lá para o resto da vida”.  

Retrospectiva 

Desde o início de abril, o iii-Brasil, ao estudar a imagem internacional do Brasil, coletou e analisou em média 66 reportagens por semana com menções de destaque ao país nos sete veículos de imprensa analisados. 

Ao longo do levantamento das últimas 32 semanas, o iii-Brasil registrou em média 51% de reportagens de tom neutro, 37% de menções com tom negativo e 12% de textos positivos sobre o país. 

*Daniel Buarque é editor-executivo do Interesse Nacional, doutor em relações internacionais pelo programa de PhD conjunto do King’s College London (KCL) e do IRI/USP. É jornalista, tem mestrado em Brazil in Global Perspective pelo KCL e é autor dos livros “Brazil, um país do presente” (Alameda) e “O Brazil É um País Sério?” (Pioneira).

Fabiana Mariutti atua como professora universitária, pesquisadora e consultora; obteve pós-doutorado, doutorado e mestrado em Administração e bacharel em Comunicação Social. Estuda a marca Brasil desde 2010. Autora dos livros: “Country Reputation: The Case of Brazil in the United Kingdom: Four Stakeholders’ Perspectives on Brazil’s Brand Image” (2017) e “Country Brand Identity: Communication of the Brazil Brand in the United States of America” (2013).