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Marcel Fortuna Biato: Inauguração de câmara de comércio indica novos paradigmas da relação entre Brasil e Irlanda

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Jovens empreendedores brasileiros morando na Irlanda abrem novas perspectivas entre os dois países e apontam uma nova avenida para o Brasil responder ao desafio da globalização. Para embaixador, inauguração sinaliza o papel de vanguarda que o empresariado brasileiro no exterior pode desempenhar para acelerar a internacionalização competitiva do Brasil

‘Silicon Docks’, área de Dublin que concentra empresas de tecnologia e que tem impulsionado o desenvolvimento da Irlanda (Foto: CC)

Por Marcel Fortuna Biato*

Em 30 de março próximo será inaugurada em Dublin a Câmara de Comércio Brasil-Irlanda. Resulta da iniciativa pioneira de jovens empreendedores brasileiros morando na Irlanda. Estão abrindo novas perspectivas de comércio e investimento entre os dois países, mas também sinalizando uma nova avenida para o Brasil responder ao desafio da globalização.

Muitos se surpreenderão em saber dessa vibrante presença empresarial. A Irlanda foi sempre vista como uma sonolenta ilha escondida à sombra de seu rico e poderoso vizinho, o Reino Unido. Esta impressão é um dos muitos falsos paradigmas que a inauguração da Câmara vem rever.

‘A Irlanda não é apenas o país de pradarias verdejantes e de boa cerveja. Dublin sedia um polo industrial que abriga oito das dez maiores gigantes digitais norte-americanas’

A Irlanda não é apenas o país de pradarias verdejantes e de boa cerveja. Dublin sedia um polo industrial que abriga oito das dez maiores gigantes digitais norte-americanas, como Google, Yahoo e Accenture. A aposta que os irlandeses fizeram na tecnologia de ponta levou a que tenham hoje a segunda maior renda per capita da União Europeia, depois de décadas integrando o clube dos países da zona do Euro com crescimento anêmico, e desequilíbrio fiscal e desemprego elevados.

Esse desempenho faz ruir uma segunda falácia, a de que a globalização está em recuo. Em meio às crescentes rivalidades geoestratégicas entre grandes potências, ganham força prognósticos de uma reversão na liberalização dos fluxos de comércio e investimento. Afinal, foram nacionalizadas muitas cadeias globais de valor, assim como recrudesce o protecionismo nos EUA e na Europa, muitas vezes mascarado de ativismo ambiental.

Os avanços alcançados pela Irlanda confirmam que a globalização é irreversível –  para quem souber posicionar-se de forma competitiva. O país criou ambiente atraente ao investir em infraestrutura de negócios e em mão-de-obra qualificada. Oferece regime tributário simples e transparente. Abre-se uma empresa em dois dias.

Com isso, a Irlanda atraiu investimentos diversificados, de modo que, se a pandemia prejudicou, num primeiro momento, os setores de engenharia e de transações financeiras, de outro, beneficiou os fármacos e TI. Recentemente, ganhou competição com o Reino Unido para sediar nova fábrica de vacinas anti-Covid-19, consolidando a posição da Irlanda como polo da indústria farmacêutica internacional. Da mesma forma, conquistou um nicho no mercado mundial de leasing de aviões (controla 60%), tendo a Embraer como um de seus mais importantes clientes.

‘Inicialmente golpeada pelo Brexit, a Irlanda vem revertendo sua dependência histórica do mercado britânico ao ampliar os negócios com a União Europeia e o mundo’

Este é o terceiro truismo a cair. Tamanho e localização não são destino. Inicialmente golpeada pelo Brexit, a Irlanda vem revertendo sua dependência histórica do mercado britânico ao ampliar os negócios com a União Europeia e o mundo. Hoje se beneficia de ser o único país da União Europeia de língua inglesa.

Com isso, inverteu um quarto paradigma. Por décadas, a Irlanda exportava mão-de-obra. Hoje, graças ao acelerado crescimento (50% desde 2014), é um imã para trabalhadores do mundo inteiro. Ostenta um conjunto invejável de empresas de ponta e funcionários especializados, capazes de atrair novos investimentos e pessoal qualificado. Hoje, 25% da população de Dublin é nascida fora da Irlanda. Tornou-se opção preferencial para empresas, inclusive brasileiras, que desejam se internacionalizar.

Agora está caindo um quinto mito, o de que a distância geográfica e cultural impedia intensificar os negócios do Brasil com a Irlanda. Os primeiros a notarem foram as levas de estudantes brasileiros que vêm à Irlanda atraídos pela oportunidade de aprender inglês, custeando seus estudos com trabalho em regime parcial. Mais um paradigma a ser revisto: diferente dos migrantes econômicos do passado, os 10 e 15 mil brasileiros que chegam anualmente à Irlanda não estão fugindo da pobreza nem da falta de emprego. Em sua maioria (85%), têm formação universitária e experiência profissional, muitos decididos a permanecer para empregar-se na economia que mais cresce na Europa (13% em 2022 e outros 4% este ano).

‘Mais do que empregos, os brasileiros encontram na Irlanda ambiente atraente para empreender, investir e inovar’

Mais do que empregos, os brasileiros encontram na Irlanda ambiente atraente para empreender, investir e inovar. De uma comunidade brasileira estimada em 80 mil, mais de 1.500 estão registrados como empresários. Já estão deixando sua marca, com jeitinho brasileiro.

Fornecem produtos e serviços voltados para a comunidade brasileira, mas também estão ajudando a conquistar paladares locais para produtos e hábitos brasileiros. O resultado é um crescente fluxo financeiro e de negócios:

  • 40% fazem transações financeiras regulares com o Brasil, variando entre R$ 10.000 e R$ 3 milhões;
  • 28% importam matéria-prima do Brasil (açaí, guaraná, tapioca, embalagens, confeitos e produtos de beleza) e 11% importam máquinas e equipamentos;
  • 26% contratam serviços e 9,5% contratam funcionários no Brasil;
  • 5% têm filial no Brasil; e
  • 22,5% atendem brasileiros residentes no Brasil[i].

Cai assim o último paradigma, o da Irlanda como mercado acanhado, sem atratividade para negócios de escala com o Brasil. Ajudar a consolidar esse potencial é a tarefa imediata da Câmara. Fica a aposta de que também abrirá caminho para o superar o maior desafio nas relações bilaterais: a falta de investimentos brasileiros na Irlanda. Em contraste, empresas multinacionais irlandesas mantém vultosos investimentos no Brasil – na casa dos US$ 2 bilhões.

Nesse intuito, a Câmara organizará, já nos próximos meses, mesas redondas abordando os problemas enfrentados por empresas brasileiras e irlandesas; convidará empreendedores consolidados a compartilhar suas experiências. Em setembro, feira de negócios exporá desde cerveja com ingredientes amazônicos até plataforma digital de venda de produtos sustentáveis. Em dezembro, lideranças governamentais, empresariais e da sociedade civil se reunirão para traçar estratégias para fortalecer as relações empresariais entre Brasil e Irlanda.

A inauguração da Câmara é mais que um marco nas relações bilaterais. Sinaliza o papel de vanguarda que o empresariado brasileiro no exterior pode desempenhar para acelerar a internacionalização competitiva do Brasil.


*Marcel Fortuna Biato é diplomata e embaixador do Brasil na Irlanda. É mestre em sociologia política pela London School of Economics, do Reino Unido. Foi assessor especial da Presidência da República de 2007 a 2010 e embaixador na Bolívia de 2010 a 2013. Atuou também como representante na Missão Permanente do Brasil junto à Agência Internacional de Energia Atômica em Viena, na Áustria.


Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional


Referências:

[i] Dados foram extraídos de levantamento sobre o empreendedorismo brasileiro na Irlanda. Estão disponíveis aqui. Outros dados disponíveis na página da Câmara.

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