Produção brasileira teve um imenso progresso nos últimos 40 anos, com um salto exportador de soja, milho, açúcar e carnes, mas gera oposição internacional por conta do aumento do desmatamento. Para especialista, o país está em boa posição na comparação internacional, mas ainda tem uma taxação alta sobre alimentos

Mario Mugnaini Jr*
Quando analisamos o desempenho do agronegócio brasileiro constatamos um progresso vertiginosos nos últimos 40 anos.
Desde a época do Império, o Brasil se destacou como grande produtor e exportador de café, o que construiu a fama internacional do país por muitas décadas.
Países como a Colômbia têm avançado na publicidade de café de qualidade, e o Vietnã tem aumentado sua participação no mercado internacional, mas continua o Brasil como o maior produtor e exportador, assegurando de forma constante divisas para o país.
Mas o grande salto exportador realizou-se nos últimos 40 anos através da soja, milho e açúcar, e posteriormente nas exportações das carnes bovina, de frango e suína, alicerçados no fomento tecnológico, onde a Embrapa teve papel preponderante, do advento do financiamento da produção através do Plano Safra e do dinamismo dos agricultores e empresas processadoras e de logística.
Para o ano de 2023, o Ministério da Agricultura prevê um orçamento de R$ 340 bilhões para o Plano Safra, um aumento de 36% em relação ao ano anterior, recursos destinados ao custeio e investimentos, priorizado para médios e pequenos agricultores.
O país atingiu em 2022 a produção de grãos de 271 milhões de toneladas, sendo 120 milhões de soja com exportações de 92 milhões de toneladas, ultrapassando os Estados Unidos, e 118 milhões de toneladas de milho, com exportações de 40 milhões de toneladas. E espera-se que atinjamos no total cerca de 300 milhões em 2023.
Para o complexo açúcar e etanol foram esmagadas 572 milhões de toneladas de cana e produzidos 25,83 bilhões de litros de etanol, 33,9 milhões de toneladas de açúcar, sendo exportadas 27,29 milhões de toneladas, com predomínio para China e Oriente Médio.
No campo da agropecuária, igualmente com aprimoramento genético, adaptação aos variados climas do país em termos de vacinação, constatamos no mesmo período um aumento considerável de produção e exportação de carnes, notadamente para o mercado asiático.
O setor da carne bovina teve em 2022 uma produção total de 10,58 milhões de toneladas, tendo sido exportadas 3,02 milhões de toneladas, tendo a China absorvido 54,7%, enquanto o mercado nacional absorveu 7,57 milhões de toneladas.
No caso da carne de frango, tivemos uma produção de 14,5 milhões de toneladas, com exportações de 4,8 milhões de toneladas, sendo a China o primeiro comprador. E para a carne suína tivemos uma produção de 5 milhões de toneladas com 50% exportada.
Analisando-se o consumo interno de carnes, nos encontramos em uma situação razoável, pois consumimos 24 kg por habitante por ano de carne bovina, 45 kg/hab/ano de carne de frango e 18 kg/hab/ano de carne suína, perfazendo 87 kg/hab/ano no total, próximo ao valor estimado de 100 kg/hab/ano para os países mais desenvolvidos.
Claro que esta estatística deve ser avaliada com a percepção que ela é sujeita a uma desigualdade importante entre os consumidores de baixa e alta renda.
Estas produções alimentam o mercado interno e de exportações com um elevado superávit de US$ 158 bilhões em 2022, com alta de 32% em relação ao ano anterior, com acréscimo de 22,1% em preço e 8,1% em volume.
Esta posição exportadora do agronegócio brasileiro tem provocado acirrada oposição por parte de alguns setores agrícolas da União Europeia, que acusam o desmatamento da Amazônia para a plantação de soja, milho, cana ou para pastagens para criação de gado.
Neste sentido a União Europeia acaba de promulgar resolução impedindo a importação de produtos, sejam da área vegetal, sejam da área animal, produzidos em zonas de desmatamento, o que poderá provocar grandes celeumas jurídicas.
Sem dúvida tem havido nos últimos anos um desmatamento incontrolável, e o novo governo recém-instalado tem manifestado a intenção de adotar políticas de maior controle, e espera-se resultados no tempo. Por outro lado, é incontestável que o verde das plantações contribuem para o sequestro de CO2 e, neste sentido, conforme os objetivos das reuniões sobre Clima estamos em boa posição.
É interessante avaliar que a área protegida do Brasil nos coloca em primeiro lugar, com 28,9% do território, seguido pela Austrália, com 19,2%, China 17%, Estados Unidos com 13%, sem figurar países da União Europeia com valores significativos.
Finalmente, tendo em vista que estamos nos preparando no Congresso para discutir o projeto de reforma tributária, vale avaliar a taxação das diversas cadeias de alimentos, desde os in natura aos processados. Temos uma situação ainda de forte taxação sobre alimentos, com uma média de 23%, já incluída a cesta básica, que ainda é taxada em 9%m e comparada com os países da OCDE com taxação de 7%, indica que estamos fora da curva.
*Mario Mugnaini Jr. é colunista da Interesse Nacional. Engenheiro industrial químico e empresário, foi vice-presidente da Fiesp/Ciesp entre 1998 e 2002, secretário executivo da Câmara de Comércio Exterior Camex MDIC entre 2003 e 2007 e presidente da Investe SP, Agência Paulista de Investimentos e Competitividade de 2009 a 2011.
Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional