Rubens Barbosa: O Brasil está de volta ao protagonismo global.
Após precisar focar a agenda do governo na defesa da democracia, aos poucos a nova administração vai retomando seus planos. O Itamaraty talvez seja o setor que mais atuou na volta à normalidade: com sua burocracia estável, funcionários de Estado e prioridades determinadas pelo presidente, Mauro Vieira passou a implementar uma série de medidas que mostraram uma reversão da política externa em diversas áreas
Após precisar focar a agenda do governo na defesa da democracia, aos poucos a nova administração vai retomando seus planos. O Itamaraty talvez seja o setor que mais atuou na volta à normalidade: com sua burocracia estável, funcionários de Estado e prioridades determinadas pelo presidente, Mauro Vieira passou a implementar uma série de medidas que mostraram uma reversão da política externa em diversas áreas
Por Rubens Barbosa*
Os acontecimentos lamentáveis de 8 de janeiro fizeram com que o governo que recém se iniciava tivesse de mudar sua agenda. Passou para primeiro lugar a agenda de defesa da democracia e do Estado democrático de direito. O relacionamento com as Forças Armadas adquiriu forte prioridade e algumas reuniões importantes aparentemente recolocaram as relações entre a Instituição da Presidência da República e a das FFAA em um nível de confiança, abalada por ações individuais de grupos radicais dos dois lados.
Aos poucos, o governo retoma sua agenda inicial. O ministro da Fazenda participa junto com a ministra do Planejamento do encontro anual de Davos, o ministro da Agricultura viaja para a Alemanha para participar de encontro internacional e encontrar com autoridades locais. Outros ministérios começam a desenvolver gradualmente novas atividades e completar seus quadros técnicos.
O Itamaraty talvez seja o setor que mais atuou na retomada da normalidade.
Com sua burocracia estável com funcionários de Estado e uma agenda fixada pelo presidente do discurso de posse, o ministro Mauro Vieira passou a implementar uma série de medidas que mostraram uma reversão da política externa em diversas áreas.
Nesse sentido, o Itamaraty retomou as relações com a Venezuela com a designação de um embaixador em Caracas e a reabertura dos consulados para voltar a oferecer assistência aos brasileiros naquele país. Está também enviando missão ao exterior para avaliar a reabertura de algumas embaixadas na África e no Caribe; retornou à política tradicional de apoio à criação de dois Estado na disputa entre Israel e Palestina, com crítica à visita de ministro da extrema direita de Israel à Esplanada das Mesquitas em Jerusalém.
Na área ambiental, foi criada uma secretaria sobre meio ambiente e mudança de clima, foi reativado o Fundo Amazônico, com a participação da Noruega e da Alemanha, reforçou o compromisso de cumprir o Acordo de Paris; voltou ao Pacto Global de Migrações; se desligou do Consenso de Genebra sobre Saúde da Mulher e Fortalecimento da Família, aliança antiaborto; retificou alguns votos nas Nações Unidas recuperando as tradicionais posições da diplomacia nacional; promoveu mudanças nas principais embaixadas, efetuou mudanças na estrutura da Chancelaria e pela primeira vez uma mulher assumiu o segundo posto mais importante do ministério e outra embaixadora irá chefiar a embaixada em Washington.
No início de semana próxima, começa a diplomacia presidencial de Lula, com a primeira ação no exterior, simbolicamente, na Argentina, com o encontro do presidente Lula com o presidente Alvarez em Buenos Aires e com a volta do Brasil à Comunidade de Estados da América Latina e Caribe (CELAC).
O Brasil está de volta ao protagonismo global.
*Rubens Barbosa foi embaixador do Brasil em Londres, é diplomata, presidente do Instituto Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice) e coordenador editorial da Interesse Nacional.
Presidente e fundador do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE). É presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da FIESP, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo), presidente do Centro de Defesa e Segurança Nacional (Cedesen) e fundador da Revista Interesse Nacional. Foi embaixador do Brasil em Londres (1994–99) e em Washington (1999–04). É autor de Dissenso de Washington (Agir), Panorama Visto de Londres (Aduaneiras), América Latina em Perspectiva (Aduaneiras) e O Brasil voltou? (Pioneira), entre outros.
Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional