2025 – EUA, mundo em tensão e os impactos para o Brasil
A fragmentação da ordem internacional, agravada pelas tensões nos EUA e por conflitos como os da Ucrânia e Israel, abre espaço para que países emergentes assumam papeis mais ativos na construção de soluções multilaterais. No entanto, isso exige diplomacia estratégica e uma visão clara de longo prazo

O ano de 2025 promete ser um dos mais desafiadores para a ordem internacional contemporânea, com os Estados Unidos enfrentando crises internas e externas que ressoam globalmente. Para o Brasil, compreender as dinâmicas em jogo é fundamental para avaliar os impactos econômicos, políticos e sociais que podem surgir.
Internamente, os Estados Unidos enfrentam uma polarização política que limita a capacidade do governo de articular respostas efetivas a problemas estruturais. Questões como imigração, direitos civis e economia agravam divisões sociais e políticas, criando um ambiente volátil. Essa instabilidade doméstica não só afeta diretamente as políticas internas, como enfraquece a capacidade do país de liderar iniciativas globais.
‘Para o Brasil, que depende de um sistema global funcional para comércio e investimentos, essa fragilidade institucional nos EUA pode gerar incertezas’
Para países como o Brasil, que dependem de um sistema global funcional para comércio e investimentos, essa fragilidade institucional nos EUA pode gerar incertezas econômicas.
No cenário internacional, a Guerra na Ucrânia permanece como uma das principais fontes de instabilidade. O conflito, iniciado pela invasão russa em 2022, continua a redefinir alianças e estratégias militares. Os EUA lideram o apoio militar e financeiro à Ucrânia, enquanto a Rússia busca alternativas para driblar sanções econômicas, muitas vezes reforçando laços com países do sul global, incluindo alguns parceiros brasileiros.
‘A postura brasileira de neutralidade, embora coerente com sua tradição diplomática, pode ser questionada em um contexto em que o Ocidente busca maior alinhamento de aliados em temas de segurança global’
Para o Brasil, os desdobramentos desse conflito têm impactos diretos e indiretos. A guerra pressionou os preços de commodities agrícolas e energéticas, afetando tanto exportações quanto custos domésticos. Além disso, a postura brasileira de neutralidade, embora coerente com sua tradição diplomática, pode ser questionada em um contexto em que o Ocidente busca maior alinhamento de aliados em temas de segurança global. No médio prazo, o Brasil precisará avaliar como navegar em um cenário onde sua posição estratégica é cada vez mais observada por potências globais.
Outro epicentro de tensão em 2025 é o Oriente Médio, com o agravamento do conflito entre Israel e grupos armados palestinos, especialmente o Hamas. Os eventos de outubro de 2023, marcados por ataques de larga escala e respostas militares intensas, aprofundaram uma crise que já era marcada por décadas de hostilidades. A situação em Israel tem ramificações globais: a instabilidade regional afeta os mercados de energia, especialmente com o aumento da insegurança no fornecimento de petróleo e gás.
‘A posição brasileira em fóruns internacionais como a ONU será testada, exigindo equilíbrio entre defender princípios de paz e respeitar as dinâmicas de suas relações comerciais e diplomáticas com os países da região’
Para o Brasil, que possui uma grande comunidade judaica e árabe, os desdobramentos dessa crise não são apenas um tema de política externa, mas também de política doméstica. Além disso, a posição brasileira em fóruns internacionais como a ONU será testada, exigindo equilíbrio entre defender princípios de paz e respeitar as dinâmicas de suas relações comerciais e diplomáticas com os países da região.
Diante desse cenário, o Brasil enfrenta oportunidades e desafios. A fragmentação da ordem internacional, agravada pelas tensões nos EUA e por conflitos como os da Ucrânia e Israel, abre espaço para que países emergentes assumam papeis mais ativos na construção de soluções multilaterais. No entanto, isso exige diplomacia estratégica e uma visão clara de longo prazo.
‘O Brasil tem a chance de se posicionar como um mediador em questões globais, reforçando sua imagem de promotor da paz e da cooperação internacional’
O Brasil tem a chance de se posicionar como um mediador em questões globais, reforçando sua imagem de promotor da paz e da cooperação internacional. Ao mesmo tempo, deve buscar proteger seus interesses econômicos, garantindo acesso a mercados e segurança em cadeias de suprimentos, especialmente em setores como energia, alimentos e tecnologia.
Em última análise, 2025 será um ano decisivo para a política global e para o papel do Brasil no sistema internacional. A continuidade dos conflitos na Ucrânia e no Oriente Médio, combinada com as dificuldades domésticas e externas dos EUA, cria um ambiente de instabilidade que exigirá respostas criativas e assertivas.
Para o Brasil, a chave estará em equilibrar sua atuação em múltiplos eixos: fortalecer alianças regionais, promover diálogo global e garantir que sua diplomacia sirva de ferramenta para construir um futuro mais estável e próspero, tanto para si quanto para o mundo.
Karina Stange Calandrin é colunista da Interesse Nacional, professora de relações internacionais no Ibmec-SP e na Uniso, pesquisadora de pós-doutorado do Instituto de Relações Internacionais da USP e doutora em relações internacionais pelo PPGRI San Tiago Dantas (Unesp, Unicamp e PUC-SP).
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