Comércio internacional – Problemas e perspectivas para 2025
Novo governo dos EUA cria novos desafios para as exportações brasileiras, mas a perspectiva é que o país consiga manter o nível de vendas ao exterior ao longo do ano
Desde a posse do novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o mundo tem sido despertado com suas afirmações e medidas bombásticas a respeito de suas considerações sobre o Canadá, o México, a Groenlândia e o Canal do Panamá.
Empossado presidente, vamos conhecendo os detalhes de suas opiniões, mas é bem previsível que abrande suas posições para estabelecer com cada parceiro citado uma estratégia de negociação.
No caso do México, as exportações anuais para os Estados Unidos atingem cerca de US$ 490 bilhões a partir de empresas americanas, chinesas e europeias que se instalaram no país, beneficiando-se do Programa PITEX de estilo maquiladora, com redução de imposto de importação de partes e redução de imposto de produção.
É bem possível que a negociação a ser proposta pelo novo governo Trump imponha cotas de exportação notadamente nos capítulos veículos e autopeças isentas, e o restante pagaria o imposto aplicado pela alfândega dos Estados Unidos.
Trata-se de uma violação das bases do Acordo de Livre Comércio assinado há décadas entre os Estados Unidos, México e Canadá. Mas os Estados Unidos forçarão uma revisão do acordo com o objetivo de proteger a indústria americana e lançar as bases de um programa de incentivos à produção local.
Nestas condições, é provável que, visando recompor o nível de suas exportações, o México venha interessar-se em ampliar os Acordos de Complementação Econômica com o Brasil, ACE 53 Geral e ACE 55 Automotivo, o que seria uma boa ocasião para o Brasil introduzir novos capítulos no ACE 53 e a ampliação de caminhões e ônibus no ACE 55.
Em dezembro de 2024, a China iniciou um processo de antidumping contra o Brasil pelo aumento de nossas exportações de carne bovina.
Segundo o MDIC o Brasil exportou em 2024 1,33 milhão de toneladas de carne bovina para a China, registrando-se um incremento da ordem de 20%, o que ensejou a abertura do processo por parte dos produtores locais e do governo.
Trata-se de um processo de média duração, e podemos prever medidas de restrições às exportações brasileiras, seja com a aplicação de tarifa sobre a totalidade das exportações ou o estabelecimento de cota isenta de tarifa, e o restante tarifado.
Com a diminuição do crescimento econômico chinês, o uso de aço diminuiu e, em consequência, a importação de minério de ferro brasileiro diminuiu e a cotação do minério caiu 15%. Assim, o Brasil passa a ter maior concorrência por parte do minério australiano.
Entram em jogo o valor do transporte, que é menor para a Austrália, e o teor de ferro no mineral brasileiro, que é superior, equilibrando a disputa.
No final de 2024 foi finalmente assinado o Acordo Mercosul-União Europeia no meio de uma grande polêmica por parte dos países contrários ao acordo, liderados pela França e seguimento pela Polônia e pela Irlanda
O Acordo ainda terá que passar pelos Congressos dos 27 países que compõem a União Europeia, o que significa um longo tempo para ser operacional, mas o Mercosul deverá seguir as tramitações, respondendo às eventuais indagações.
Os produtos de interesse por parte do Brasil em incrementar as exportações estão as carnes bovina e de frango, açúcar e etanol. E sabemos das dificuldades iniciais de negociação, pois tais produtos estão inseridos na PAC-Política Agrícola Comum, o que significa subsídio de produção.
As exportações brasileiras para a União Europeia para estes produtos são baixas, mas poderemos iniciar com cotas e com os preços praticados, quando comparados com os preços europeus subsidiados, temos melhor preço e sem subsídios. Será muito difícil o consumidor local pagar por esta aberração econômica.
De maneira geral as exportações brasileiras para 2025 devem manter-se nos níveis de 2024 uma vez que os problemas elencados não deverão ter efeito em 2025.
Mario Mugnaini Jr. é colunista da Interesse Nacional, engenheiro industrial químico e empresário, foi vice-presidente da Fiesp/Ciesp entre 1998 e 2002, secretário executivo da Câmara de Comércio Exterior Camex MDIC entre 2003 e 2007 e presidente da Investe SP, Agência Paulista de Investimentos e Competitividade de 2009 a 2011.
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