Editorial: Eleições vão determinar as percepções externas sobre o Brasil
Após um ano de campanha eleitoral intensa e marcada pela ausência de discussões sobre os desafios e interesses nacionais, país necessita de estabilidade política e econômica para poder crescer, gerar renda e emprego
Após um ano de campanha eleitoral intensa e marcada pela ausência de discussões sobre os desafios e interesses nacionais, país necessita de estabilidade política e econômica para poder crescer, gerar renda e emprego
Por Rubens Barbosa*
No domingo, nas eleições, os resultados poderão (se não houver segundo turno para presidente e governadores) consagrar o nome do presidente da República, de governadores, senadores, deputados federais e estaduais em todos os Estados. Espera-se que não haja contestação dos resultados, nem distúrbios promovidos por grupos radicais contra as instituições, em especial do STF. Os militares deram claros sinais que estão prontos para defender a democracia e as instituições.
Vivemos, há mais de um ano, intensa campanha eleitoral. Ela se desenrolou, porém, de maneira inusitada. Ao invés de debates sobre os desafios internos e externos do Brasil, assistimos perplexos ataques pessoais, fake news e a criação de um clima de suspeita sobre a lisura do pleito, sem qualquer discussão séria sobre propostas para encaminhar soluções para os problemas existentes e muito menos sobre uma visão de médio e longo prazos. Para culminar, na quinta-feira (29) tivemos o surreal e deprimente debate entre os candidatos, sem nenhuma discussão substantiva entre os que lideram as intenções de voto.
Qualquer que seja o resultado da eleição presidencial, estamos diante de um quadro de incertezas, exatamente pela ausência de um debate sobre questões críticas que afetam a vida politica, econômica e social do pais. No momento em que o pais retoma seu caminho de crescimento e de redução da inflação, qual será a politica econômica? Como acelerar a queda do desemprego? Como gerar o crescimento sustentável? Como aprovar reformas inadiáveis no Congresso? Como recuperar a credibilidade do pais e definir seu lugar em um mundo que se transformou nas ultimas décadas? Mudou o mundo e mudou o Brasil.
No primeiro dia de seu governo, o futuro presidente encontrará dois problemas imediatos, sem falar na fome, na saúde, no emprego, nas reformas tributária e administrativa, na relação entre o Executivo e o Legislativo e outros monumentais questões que ainda estão pendentes: a desorganização do Estado brasileiro e a definição do lugar do Brasil no mundo. Em várias áreas –como a ambiental, a saúde, a educação, a política externa, a previdência social– houve um desmonte da burocracia do Estado que deverá ser restabelecida para permitir a articulação para a execução das novas politicas.
Em vista das múltiplas implicações sobre o Brasil, ao lado dessas preocupações sociais e econômicas, o futuro governo vai ter de se debruçar sobre como mudar a percepção externa sobre o país. Nesse sentido, o mundo –que tem acompanhado de perto e com repercussão a eleição presidencial- acompanhará o que acontecerá com a democracia brasileira, como será recebido pelos candidatos e seus seguidores o resultado das eleições, como será a política ambiental e o tratamento em relação aos ilícitos cometidos na Amazônia, como o Brasil se posicionara em face da crescente divisão global com o acirramento da crise entre os EUA e a China, com o complicador da guerra na Ucrânia pela ação da Rússia.
Para o Brasil, importa que as decisões que vierem a ser tomadas não estejam contaminadas pela ideologia radical de direita ou de esquerda ou por considerações geopolíticas que se chocam com os interesses concretos do Brasil. No momento atual, a melhor posição para resguardar os interesses nacionais será a independência, sem tomar partido de qualquer dos lados. Dependendo da posição que o novo governo vai adotar nessas questões, estarão em jogo a captação de investimento e a eventual inclusão do Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas e o ingresso na OCDE.
A atenção externa a respeito da eleição no Brasil cresceu nas ultimas semanas, a ponto de o Senado dos EUA ter aprovado por unanimidade Resolução pela qual o governo norte-americano deverá suspender todos os acordos mantidos com o Brasil, caso haja abalo à democracia ou violência contra as instituições com o questionamento dos resultados das eleições.
O Brasil necessita de estabilidade política e econômica para poder crescer, gerar renda e emprego. Os mais de 150 milhões de eleitores esperam de quem for eleito que coloque o Brasil em primeiro lugar, acima de interesses partidários ou ideológicos.
*Rubens Barbosa foi embaixador do Brasil em Londres, é diplomata, presidente do Instituto Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice) e coordenador editorial da Interesse Nacional.
Presidente e fundador do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE). É presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da FIESP, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo), presidente do Centro de Defesa e Segurança Nacional (Cedesen) e fundador da Revista Interesse Nacional. Foi embaixador do Brasil em Londres (1994–99) e em Washington (1999–04). É autor de Dissenso de Washington (Agir), Panorama Visto de Londres (Aduaneiras), América Latina em Perspectiva (Aduaneiras) e O Brasil voltou? (Pioneira), entre outros.
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