Tom da cobertura da imprensa internacional era predominantemente neutro desde junho, mas críticas à polarização, à proliferação de mentiras e às ameaças à democracia pioraram a reputação do país no mundo
Por Daniel Buarque e Fabiana Mariutti*

iii-Brasil – 19 a 25 de setembro de 2022
Visibilidade: 48 reportagens em 7 veículos analisados
Classificação das notícias:
54% Negativas
40% Neutras
6% Positivas
A cobertura crítica sobre a campanha eleitoral brasileira levou a um aumento da proporção de notícias com tom negativo sobre o país na imprensa estrangeira. Pela primeira vez desde junho, quando o assassinato de Dom Phillips e Bruno Araújo levaram a imagem internacional do Brasil na imprensa estrangeira a seu pior momento, a quantidade de textos negativos ultrapassou os neutros e se tornou a maioria das menções ao país.
Na semana de 19 a 25 de setembro, o total de notícias da coleta de dados do Índice de Interesse Internacional (iii-Brasil) foi de 48 artigos com menções sobre o Brasil nos sete veículos de imprensa estrangeiros analisados.
O período registrou 54% de textos com tom negativo, com potencial de piorar a imagem internacional do país. Além disso, 40% das reportagens analisadas tinham tom neutro, ou seja, assuntos com natureza factual sobre o país, sem indicação de prejuízo a sua reputação no exterior. Ainda, 6% de notícias positivas, com potencial de melhorar a imagem do país.
O tom negativo foi impulsionado especialmente por reportagens a respeito da campanha eleitoral brasileira, incluindo artigos de opinião. No jornal português Público, por exemplo, o ator brasileiro Paulo Betti se diz “muito preocupado com as ameaças reais que sofre nossa democracia no Brasil”. No espanhol El País, reportagem fala sobre a “sombra” dos militares sobre o sistema eleitoral do país. Já no britânico The Guardian, o presidente Jair Bolsonaro é criticado por usar técnicas para amedrontar os eleitores em relação a seu oponente.

Um destaque importante e também negativo na imprensa internacional ao longo da semana foi a proliferação de notícias falsas no Brasil às vésperas da votação. No francês Le Monde, uma reportagem acusa a campanha do presidente de manipular informações e propagar fake news para tentar atrair votos. “A máquina de desinformação está a pleno vapor”, diz. O argentino Clarín trata do mesmo tema, mas diz que, além do presidente, seu rival Luiz Inácio Lula da Silva também “inunda a TV com notícias falsas”. Já o Público diz que os dois candidatos abusam de “informações incorretas” em suas campanhas.
Ainda, o Clarín aborda uma certa preocupação após as eleições no Brasil: teme-se que em Brasília, ao proclamar o vencedor no dia 2 de outubro “seja alvo de protestos violentos se o ex-presidente Lula vencer”.
As viagens de Bolsonaro para o funeral da rainha Elizabeth II, no Reino Unido, e para a Assembleia Geral das Nações Unidas, nos EUA, também foram temas de reportagens com enquadramento editorial negativo. O El País diz que o presidente transformou as viagens em atos de campanha. O Clarín também falou sobre o propósito eleitoral das viagens. O Público aponta que o uso do púlpito pelo presidente, na Assembleia Geral da ONU, figurou-se como discurso de comício da campanha como que realizado em algum estado brasileiro.
Retrospectiva

Desde o início de abril, o iii-Brasil, ao estudar a imagem internacional do Brasil, coletou e analisou em média 55 reportagens por semana com menções de destaque ao país nos sete veículos de imprensa analisados.
Ao longo do levantamento das últimas 24 semanas, o iii-Brasil registrou em média 50% de reportagens de tom neutro, 39% de menções com tom negativo e 11% de textos positivos sobre o país.
*Daniel Buarque é editor-executivo do Interesse Nacional, doutor em relações internacionais pelo programa de PhD conjunto do King’s College London (KCL) e do IRI/USP. É jornalista, tem mestrado em Brazil in Global Perspective pelo KCL e é autor dos livros “Brazil, um país do presente” (Alameda) e “O Brazil É um País Sério?” (Pioneira).
Fabiana Mariutti atua como professora universitária, pesquisadora e consultora; obteve pós-doutorado, doutorado e mestrado em Administração e bacharel em Comunicação Social. Estuda a marca Brasil desde 2010. Autora dos livros: “Country Reputation: The Case of Brazil in the United Kingdom: Four Stakeholders’ Perspectives on Brazil’s Brand Image” (2017) e “Country Brand Identity: Communication of the Brazil Brand in the United States of America” (2013).
Uma resposta
Muito esclarecedor.
Pena que a grande mídia não veicula esses conteúdos.
Felicito o editor Daniel Buarque e a professora Fabiana Mariutti pelo trabalho.