12 dezembro 2025

Estratégia de segurança nacional dos EUA

A Estratégia de Segurança Nacional dos EUA redefine o poder e os interesses do país no mundo e marca uma ruptura histórica com a ordem mundial depois de 1945

Donald Trump recebe o “prêmio da paz” da Fifa (Foto: Casa Branca)

A Estratégia de Segurança Nacional dos EUA, divulgada na semana passada, redefine o poder e os interesses do país no mundo e marca uma ruptura histórica com a ordem mundial depois de 1945. 

A correção de rumo está expressa pela crítica aos excessos de compromissos globais nas últimas décadas, à dependência de aliados, aos efeitos do globalismo, pela restauração da segurança das fronteiras, pela utilização do potencial energético, pelo fortalecimento da capacidade industrial e da força militar.

‘O pragmatismo e o realismo da política externa dos EUA têm como único objetivo proteger os interesses nacionais fundamentais e colocar os EUA em primeiro lugar’

O pragmatismo e o realismo da política externa dos EUA têm como único objetivo, como ressaltado no documento, proteger os interesses nacionais fundamentais e colocar os EUA em primeiro lugar, para garantir que os EUA continuem como a nação mais forte, rica e segura, com a proteção de sua população, economia e soberania e com a estreita relação entre os objetivos estratégicos e os meios disponíveis na política nacional.

A Estratégia está baseada em 8 Princípios: estrito enfoque no interesse nacional; paz mediante a força; predisposição ao não-intervencionismo; realismo flexível; primazia do Estado nação; defesa da soberania; equilíbrio de poder; prioridade ao trabalhador norte-americano

As prioridades estratégicas declaradas são: fim da era de imigração maciça; proteção das liberdades constitucionais; aliados assumem mais gastos em defesa (5% do PIB); realinhamento por meio da paz com a intensificação da diplomacia presidencial para resolver conflitos; segurança econômica reindustrialização, reforço cadeias produtivas, energia dominante; revitalização da base industrial de defesa.

‘Quando discute o que os EUA querem do mundo, pela primeira vez, coloca em primeiro lugar seus interesses no Hemisfério Ocidental’

Embora assinalando que “dar atenção constante à periferia é um erro”, a Estratégia norte-americana, quando discute o que os EUA querem do mundo e o que esperam receber do mundo, pela primeira vez, coloca em primeiro lugar seus interesses no Hemisfério Ocidental. Para se ter uma ideia da importância dessa decisão, o Hemisfério Ocidental é examinado antes da China, da Europa, do Oriente Médio e da África.

Os interesses nacionais essenciais e vitais dos Estados Unidos no mundo, nos quais Washington deve se concentrar acima de todos os outros estão resumidos a seguir. Ignorá-los ou negligenciá-los seria um grande risco.

  • “Queremos garantir que o Hemisfério Ocidental permaneça razoavelmente estável e bem governado o suficiente para prevenir e desencorajar a migração em massa para os Estados Unidos; queremos um Hemisfério cujos governos cooperem conosco contra narcoterroristas, cartéis e outras organizações criminosas transnacionais; queremos um Hemisfério que permaneça livre de incursões estrangeiras hostis ou da apropriação de ativos-chave, e que apoie cadeias de suprimentos críticas; e queremos garantir nosso acesso contínuo a locais estratégicos importantes. Em outras palavras, vamos afirmar e fazer cumprir um “Corolário Trump” à Doutrina Monroe”.
  • “Queremos interromper e reverter os danos contínuos que os atores estrangeiros (leia-se a China) infligem à economia americana, mantendo o Indo-Pacífico livre e aberto, preservando a liberdade de navegação em todas as rotas marítimas cruciais e mantendo cadeias de suprimentos seguras e confiáveis, bem como o acesso a materiais críticos;
  • “Queremos apoiar os nossos aliados na preservação da liberdade e segurança da Europa, ao mesmo tempo que restauramos a autoconfiança civilizacional da Europa e a identidade ocidental (“decadente e com lideres fracos”)
  • “Queremos impedir que uma potência adversária domine o Oriente Médio, seu fornecimento de petróleo e gás e os pontos de estrangulamento por onde passam, evitando ao mesmo tempo as “guerras intermináveis” que nos atolaram naquela região a um custo altíssimo; e
  • “Por muito tempo, a política americana na África se concentrou em fornecer e, posteriormente, disseminar a ideologia liberal. Agora, os EUA deveriam buscar parcerias com países selecionados para amenizar conflitos, fomentar relações comerciais mutuamente benéficas a fim de aproveitar os abundantes recursos naturais e o potencial econômico latente da África.

Com essas prioridades, os EUA veem a Europa ameaçada de declínio econômico e de um desaparecimento civilizacional em razão da imigração que descaracterizaria a supremacia branca.

Washington assume uma atitude de ingerência a favor dos partidos europeu que cultivam a resistência e enfraquecem Bruxelas, nacionalistas e de extrema-direita. 

Em clara reversão de alianças, a prioridade é o apoio a Moscou, visto como o parceiro de uma estabilidade estratégica na Europa, levando em conta que a Otan não tem mais a força para se expandir. 

O Oriente Médio perde a importância central que teve nas últimas décadas na política externa norte-americana, sendo substituído pela prioridade de Washington no tocante ao Hemisfério Ocidental.

‘Para as Américas trata-se da volta da Doutrina Monroe, com a clara intenção de exercer seu poder em uma área que consideram sua zona de influência’

Para as Américas trata-se da volta da Doutrina Monroe (1823 – America para os Americanos), com a clara intenção de exercer seu poder em uma área que consideram sua zona de influência. 

Como está acontecendo na Venezuela, Cuba e Nicarágua, os governos de esquerda na região são os principais alvos da política a ser implementada pelo Departamento de Estado, sob o direcionamento ideológico de Marco Rubio. 

No caso do Brasil, levando em conta sua dependência comercial e econômica da China e o viés antiamericano do PT ao longo dos 20 anos em que o Partido exerceu o poder, caso não seja atenuada, a nova política externa dos EUA poderá criar problemas para o governo brasileiro.

Resta saber por quanto tempo vai durar a influência do movimento MAGA na política externa norte-americana.

Presidente e fundador do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE). É presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da FIESP, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo), presidente do Centro de Defesa e Segurança Nacional (Cedesen) e fundador da Revista Interesse Nacional. Foi embaixador do Brasil em Londres (1994–99) e em Washington (1999–04). É autor de Dissenso de Washington (Agir), Panorama Visto de Londres (Aduaneiras), América Latina em Perspectiva (Aduaneiras) e O Brasil voltou? (Pioneira), entre outros.

Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional

Tags:

EUA 🞌 Geopolítica 🞌 Governança global 🞌

Cadastre-se para receber nossa Newsletter