19 janeiro 2024

Rubens Barbosa: Corrida eleitoral nos EUA começa com perspectiva de novo confronto Trump x Biden

Vitorioso na primária de Iowa, Trump avança na tentativa de ser o candidato republicano e, a menos que ocorra um fato novo importante, tudo indica que ele deve ser o escolhido do partido. Para embaixador, chance de ex-presidente ser impedido de concorrer é cada vez mais remota

Vitorioso na primária de Iowa, Trump avança na tentativa de ser o candidato republicano e, a menos que ocorra um fato novo importante, tudo indica que ele deve ser o escolhido do partido. Para embaixador, chance de ex-presidente ser impedido de concorrer é cada vez mais remota

Imagem do ex-presidente Donald Trump na publicação dos resultados da primária em Iowa pelo Partido Republicano (Foto: Iowa GOP)

Por Rubens Barbosa*

Foi dada a largada para as eleições presidenciais de novembro nos EUA. As prévias dos partidos Republicano e Democrata ocorrerão de janeiro a março. As convenções que definirão os candidatos serão realizadas em julho (Republicados) e agosto (Democratas) e a eleição presidencial será em novembro.

Do lado republicano, no dia 15, foi realizada a primeira prévia (caucus) em Iowa. O resultado, conforme amplamente esperado, foi favorável a Donald Trump. Com mais de 50% dos votos, superou por larga margem Ron DeSantis, governador da Flórida, e Nikki Haley, ex-governadora da Carolina do Sul. A segunda primária vai realizar-se em New Hampshire, em 23 de janeiro, quando aparentemente Haley estará em uma posição muito mais forte.

Do lado do Partido Democrata, as prévias começarão em 23 de janeiro, mas o resultado todos conhecem: Joe Biden vai ser o candidato para disputar a reeleição. Robert Kennedy Jr deverá apresentar-se como candidato, mas não tem nenhuma chance de vencer Biden. Até aqui, não há um plano B.

‘O resultado em Iowa confirmou o avassalador apoio dos conservadores a Donald Trump, apesar das dificuldades de sua campanha, em meio a acusações e julgamentos’

O resultado em Iowa confirmou o avassalador apoio dos conservadores a Donald Trump, apesar das dificuldades de sua campanha, em meio a acusações e julgamentos de grande repercussão pública, inclusive um sobre sua participação nos acontecimentos relacionados com a invasão do Congresso americano no dia 6 de janeiro de 2020.  Sua vitória, por uma margem sem precedentes, aconteceu sem Trump ter participado de qualquer debate público, como fizeram DeSantis e Haley. 

Em seu estilo desabrido, Trump disse que, com esse resultado, as prévias do partido, desde seu início, confirmaram que a corrida ficará restrita a um único candidato. Em declaração após os resultados de Iowa, Haley mostrou-se otimista e projeta uma disputa entre ela e Trump nas demais primeiras do Partido Republicano. 

Sua narrativa pública é a de que ela é o antídoto à repetição da disputa Biden-Trump. Ela enfatiza que a maioria dos americanos desaprova o atual e o ex-presidente e insiste em que sua campanha é a melhor esperança para evitar o pesadelo Biden-Trump. “Trump e Biden não tem uma visão do futuro para os EUA porque ambos estão voltados para o passado em função das investigações, das venderas, dos rancores”, disse Nikki. 

Enquanto isso, DeSantis prometeu continuar na campanha em busca da indicação do partido e espera melhor desempenho nas demais prévias, Haley está proclamando que, daqui para frente, vai haver uma disputa de apenas dois candidatos Trump e Haley. 

Em New Hampshire, Trump deverá vencer novamente com Haley em segundo lugar muito próxima. A campanha está se tornando agressiva, com ataques pessoais e com Trump acusando Haley de buscar votos dos democratas para reduzir a diferença entre ambos (em New Hampshire, podem votar na primária republicana mesmo não-filiados ao partido).

‘A disputa pelo segundo lugar no Partido Republicano tornou-se importante pela possibilidade de Trump ser impedido de concorrer na eleição de novembro’

A disputa pelo segundo lugar no Partido Republicano tornou-se importante pela possibilidade – cada vez mais difícil de acontecer – de Trump ser impedido de concorrer na eleição de novembro próximo, abrindo espaço para uma nova candidatura. As acusações e os julgamentos deverão ocorrer antes das eleições. Trump já acionou a Suprema Corte para pronunciar-se sobre as decisões de Colorado e Maine, que proibiram Trump de apresentar-se como candidato nas prévias que serão realizadas nos dois Estados. Dificilmente as decisões estaduais impedindo Trump de concorrer serão mantidas pelos juízes da Suprema Corte.

As próximas prévias e o julgamento na Suprema Corte terão um papel decisivo para a definição do candidato republicano nas eleições presidenciais de novembro próximo.

A menos que ocorra um fato novo importante, que possa afetar Trump, tudo indica que o cenário para a eleição de novembro deverá repetir as candidaturas das últimas eleições. Trump, confiante nessa perspectiva, ataca muito mais Biden do que seus dois rivais dentro do Partido Republicano. Haley, na expectativa desse fato novo, que afastaria Trump da corrida eleitoral, acelera sua campanha, sabendo que numa eventual disputa com Biden, ela é que nas pesquisas aparece como a mais forte adversária do atual presidente.


*Rubens Barbosa é diplomata, foi embaixador do Brasil em Londres e em Washington, DC. É presidente do Instituto Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice) e coordenador editorial da Interesse Nacional. Mestre pela London School of Economics and Political Science, escreve regularmente no Estado de São Paulo e no Interesse Nacional e é autor de livros como Panorama visto de LondresIntegração econômica da América Latina, O dissenso de Washington e Diplomacia ambiental

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Rubens Barbosa escreve os editoriais do portal Interesse Nacional. Ele é diplomata, foi embaixador do Brasil em Londres e em Washington, DC, é presidente do Instituto Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice) e coordenador editorial da Interesse Nacional. Mestre pela London School of Economics and Political Science, escreve regularmente no Estado de São Paulo e é autor de livros como 'Panorama visto de Londres', 'Integração econômica da América Latina', 'O dissenso de Washington', 'Diplomacia ambiental' e organizador do livro 'O Brasil voltou?'.

Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional

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