Rubens Barbosa, presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior, reflete sobre o cenário político no mundo de hoje, onde se observa o avanço da polarização, estimulada tanto pela esquerda quanto pela direita, o que está se transformando em um sério risco para a democracia pela tendência à radicalização ideológica, de um lado, e pela inviabilização do aparecimento de uma posição moderada de centro, de outro.
O que torna crível um centro político, convertendo-o em alternativa de poder, não é a propensão a se distinguir retoricamente da direita e da esquerda, mas a capacidade de se entender, simultaneamente, com ambas, criando marcos governativos na democracia. É exigência de política prática. Se ignorada, desaparece a razão de ser do centro.
O presente texto traz uma tese e duas hipóteses sobre a relação entre a eleição municipal, recém-ocorrida, e o pleito presidencial de 2022. A tese é a de que o resultado da eleição municipal revelou que o sistema político vigente até 2018 não se recompôs da implosão a que foi submetido pela ascensão do fenômeno político-eleitoral do bolsonarismo. A primeira hipótese é a de que esse desfecho aumenta ainda mais o grau de indeterminação do processo eleitoral presidencial que ocorrerá daqui a dois anos. A segunda hipótese é a de que, apesar da inépcia institucional de Bolsonaro, seja à frente do governo, seja pela incapacidade de organizar partidariamente sua base social e ideológica, o bolsonarismo tem chances de disputar, de maneira competitiva, a sucessão presidencial.