O dedazo vem da política mexicana e tem a ver com a escolha do candidato a presidente do Partido Revolucionário Institucional, o antes todo poderoso PRI. O dedazo ocorre quando o presidente indica o candidato do partido à eleição presidencial. Trata-se de uma escolha que não passa por eleições internas ou sequer por discussões públicas. É a autoridade mais poderosa do partido, obviamente o presidente no exercício de seus plenos poderes de mandatário máximo da nação, que, depois de conversar e consultar aos que ele julga pertinentes, indica o nome do candidato.
O Brasil teve, ao longo de 16 anos con secutivos, presidentes da República com gosto por política externa e com – visões claras e determinadas para o país no cenário mundial. Cada um a seu modo e ambos sujeitos a críticas, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva conduziram as rela- ções internacionais do Brasil dentro dos cânones do Itamaraty, que perduram há mais de um século, e foram capazes, graças às suas características individuais e à ousadia de suas propostas, de elevar a projeção geopolítica do país a patamares sem precedentes.
O Brasil já conhece a lista de carências e prioridades do futuro. A relação inclui desde problemas que não são resolvidos porque ninguém sabe como fazer isso – o caso mais notável é a reforma tributária – e também questões que começam a ser encaminhadas após a construção de um respeitável consenso político, como a educação. As carências atuais da infraestrutura brasileira produzem um prejuízo calculado em us$ 40 bilhões por ano, em negócios atrasados ou desfeitos. Apesar da proteção de um colchão de us$ 240 bilhões em reservas, cedo ou tarde será preciso encarar a valorização do real frente ao dólar, sob o risco de o País enfrentar uma crise nas contas externas e desindustrializar-se em ritmo acelerado, comenta o jornalista e colunista da revista Época.
Um traço permanente de nossa política internacional é a meta de impedir a formação de uma coalizão antibrasileira na América do Sul. Paradoxalmente, na hora em que se anuncia uma União Sul-Americana de Nações, os governos da Bolívia, Equador e Paraguai reacendem a velha acusação de que o Brasil ocupa o lugar de potência imperialista regional. A postura antibrasileira é uma faceta do antiamericanismo que solda a esquerda latino-americana e que paralisa nossa política externa. Demétrio Magnoli, sociólogo e doutor em geografia humana, é colunista de O Estado de S. Paulo e O Globo.