O Brasil teve, ao longo de 16 anos con secutivos, presidentes da República com gosto por política externa e com – visões claras e determinadas para o país no cenário mundial. Cada um a seu modo e ambos sujeitos a críticas, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva conduziram as rela- ções internacionais do Brasil dentro dos cânones do Itamaraty, que perduram há mais de um século, e foram capazes, graças às suas características individuais e à ousadia de suas propostas, de elevar a projeção geopolítica do país a patamares sem precedentes.
A presença e a política regional do Brasil passaram por uma nova turbulência em junho passado, derivada do impeachment do então presidente paraguaio Fernando Lugo. Novamente, ocorreu um grande dissenso sobre as posturas internacionais do país, tanto dentro como fora do governo, e voltou-se a discutir a natureza do engajamento do Brasil na região.
Na década de 1960, o Brasil começou a realizar estudos para o aproveitamento hidrelétrico na região das Sete Quedas, na divisa entre o Paraná e o estado do Mato Grosso. O Paraguai logo percebeu que a construção dessa hidrelétrica inviabilizaria outra mais a jusante, no trecho do rio que divide Paraguai e Brasil, porque não há desnível suficiente no rio Paraná para duas usinas. Para o Paraguai, que não tem reservas de hidrocarbonetos ou carvão e tampouco potencial hidrelétrico de monta, exceto no rio Paraná, na fronteira com Brasil e Argentina, isso seria um grande problema.
O autor aponta algumas possíveis diferenças de enfoque, estilo e prioridade que o próximo governo poderá adotar a partir de 1o de janeiro de 2011 em política externa. O Brasil tem tido políticas de Estado em suas relações internacionais, não de governos, o que é um ativo importante do País. A próxima administração certamente manterá os princípios básicos da política externa. Essa é uma das condições para que o Brasil se mantenha como ator fundamental no cenário geopolítico mundial.
O autor comenta os entendimentos sobre Itaipu alcançados durante a última visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Assunção, no dia 25 de julho de 2009. Analisa as reivindicações do Paraguai e as diferenças de percepção existentes sobre Itaipu nas sociedades brasileira e paraguaia. Para ele, os entendimentos recentes permitem uma nova etapa da relação bilateral.
O autor ressalta que Itaipu representou a solução definitiva para desentendimentos sobre limites fronteiriços e estreitou em definitivo o relacionamento entre Brasil e Paraguai. A seu ver, as modificações pretendidas no Tratado pelo novo governo paraguaio exigem a aprovação dos respectivos Congressos Nacionais e devem ser equacionadas sem onerar o consumidor brasileiro e de acordo com os nossos interesses nacionais.
O Brasil se tornou o principal parceiro do Paraguai a partir dos anos 70. Essa relação teria criado uma dependência desfavorável ao desenvolvimento paraguaio, baseada na subutilização dos recursos gerados por Itaipu e na reexportação de produtos, muitos deles contrabandeados, para o Brasil. O autor sustenta que a revisão profunda dessas relações é condição necessária à superação do subdesenvolvimento e da pobreza extrema no Paraguai.
A posse do ex-bispo Fernando Lugo, uma verdadeira alternancia no poder, desafia o Brasil. Habituado a tratar com políticos predadores, diz o autor, o país encontra novos e desconhecidos interlocutores no Paraguai. Juntos deverão buscar soluções para as agudas questões do relacionamento bilateral: Itaipu, a situação dos brasiguaios e a integração sul-americana. O Brasil deve conceder uma oportunidade aos novos dirigentes e buscar exercer uma liderança benigna.