16 agosto 2022

iii-Brasil: Ameaças à democracia e mobilização em defesa do estado de direito elevam visibilidade e pioram imagem do país

Percepção de instabilidade política e risco de ruptura às vésperas da eleição aumentou o número de menções ao país na imprensa estrangeira e a proporção de textos com tom negativo sobre o Brasil

Percepção de instabilidade política e risco de ruptura às vésperas da eleição aumentou o número de menções ao país na imprensa estrangeira e a proporção de textos com tom negativo sobre o Brasil

Por Daniel Buarque e Fabiana Mariutti*

iii-Brasil – 8 a 14 de agosto de 2022

Visibilidade: 70 textos

Classificação das notícias:

44% Neutras

44% Negativas

12% Positivas

O clima de ameaça à democracia brasileira e a mobilização de setores da sociedade para defender o estado democrático de direito tiveram destaque na imprensa internacional na última semana. As notícias sobre a instabilidade política no país elevaram a proporção de textos com tom negativo sobre o Brasil, que chegaram a empatar com as menções de tom neutro em 44% do total. Foi a primeira vez desde junho que a abordagem neutra não predominou. Um panorama de noticiário assim compromete a projeção externa do país e pode piorar a imagem internacional do Brasil.

A coleta de dados do Índice de Interesse Internacional (iii-Brasil) encontrou na segunda semana de agosto o total de 70 artigos com menções de destaque ao Brasil nos sete veículos de imprensa estrangeiros analisados. O período registrou 44% de textos de tom neutro, sem impacto direto e  evidente na imagem do país no exterior, uma alta na proporção dos textos de tom negativo (44%) e praticamente estabilidade das reportagens positivas (12%).

https://interessenacional.com.br/edicoes-posts/entenda-como-funciona-o-indice-de-interesse-internacional-monitoramento-de-noticias-sobre-o-brasil-no-exterior/

Entre os veículos analisados pelo iii-Brasil, o jornal britânico The Guardian foi um dos que fizeram cobertura mais ampla sobre os riscos de retrocesso democrático no Brasil. “Os brasileiros temem a volta da ditadura enquanto Bolsonaro ‘perturbado’ fica para trás nas pesquisas“, diz o título de uma das reportagens sobre o manifesto em defesa da democracia. Segundo o texto, a preocupação é que o presidente não aceite uma possível derrota nas urnas e promova uma insurreição contra a democracia. Em uma outra reportagem, o diário britânico diz que a democracia do país enfrenta um momento de “perigo imenso”. “As ações de Bolsonaro alimentaram medo de que o populista de extrema-direita possa copiar seu ídolo político, Donald Trump, e contestar o resultado das eleições ou incitar uma insurreição como a de 6 de janeiro nos EUA na tentativa de se manter no poder”, diz.

O diário francês Le Monde destacou o que chamou de mobilização do campo democrático contra ameaças ao estado de direito no país. A reportagem diz que a carta em defesa da democracia é “uma resposta aos ataques do presidente de extrema-direita, Jair Bolsonaro, contra as instituições”.

O jornal português Público também tratou da carta em defesa da democracia brasileira, alegando que ela era uma resposta “contra o discurso de golpe do presidente“. Além disso, um artigo falou sobre o aumento das tensões políticas no país e argumentou que “o desarranjo institucional brasileiro é grave”. Outro texto, uma crônica, aborda a homenagem do bicentenário como sendo um silêncio onipresente no Brasil intitulado de independência abafada, perante aos acontecimentos pré-eleitorais próximos de tal data.

A mobilização em defesa da democracia também teve destaque em artigo de opinião e reportagem no espanhol El País: “Nos últimos anos, o Brasil se acostumou muito com comunicados oficiais, notas de repúdio, manifestos e todo tipo de escritos para expressar desconforto com os ataques do presidente Jair Bolsonaro contra as instituições democráticas. Nos últimos dias, porém, um texto se tornou ‘a mãe de todas as letras’ e promete ser a tentativa mais sólida e unificada de conter a retórica golpista do presidente, que continua questionando a confiabilidade do sistema eleitoral quando há menos de dois meses para as eleições”, diz.

No Clarín, um destaque foi relembrar palavras do espanhol Juan Linz, professor da Universidade de Yale, para quem o fracasso dos regimes liberais, pluralistas e representativos sempre foi mais bem explicado pelo silêncio dos democratas do que pelo barulho dos autoritários. 

O jornal americano The New York Times não chegou a tratar dos atos em defesa da democracia, mas publicou um artigo da colunista brasileira Vanessa Barbara alegando que os ataques de Bolsonaro às instituições acontecem porque ele “tem medo de ser preso, e está certo nisso”, o que o deixa “desesperado para evitar a derrota” nas eleições. “Bolsonaro tem muitos motivos para temer a prisão. De fato, está ficando difícil acompanhar todas as acusações contra o presidente e seu governo”, diz.

Retrospectiva 

Desde o início de abril, o iii-Brasil, ao estudar a imagem internacional do Brasil, coletou e analisou em média 54 reportagens por semana com menções de destaque ao país nos sete veículos de imprensa analisados. 

Na maioria das semanas, entretanto, o total de citações de destaque ao país não passou de 50, mas a média é puxada para cima especialmente pelas três semanas de junho em que se registrou o desaparecimento e a morte de Phillips e Pereira, quando foi registrado o pior momento do resultado geral do iii-Brasil. O caso aumentou muito o volume da cobertura de imprensa sobre o país no exterior. 

Ao longo do levantamento das últimas 18 semanas, o iii-Brasil registrou em média 48% de reportagens de tom neutro, 39% de menções com tom negativo e 13% de textos positivos sobre o país. 

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*Daniel Buarque é editor-executivo do Interesse Nacional, doutor em relações internacionais pelo programa de PhD conjunto do King’s College London (KCL) e do IRI/USP. É jornalista, tem mestrado em Brazil in Global Perspective pelo KCL e é autor dos livros “Brazil, um país do presente” (Alameda) e “O Brazil É um País Sério?” (Pioneira).

Fabiana Mariutti atua como professora universitária, pesquisadora e consultora; obteve pós-doutorado, doutorado e mestrado em Administração e bacharel em Comunicação Social. Estuda a marca Brasil desde 2010. Autora dos livros: “Country Reputation: The Case of Brazil in the United Kingdom: Four Stakeholders’ Perspectives on Brazil’s Brand Image(2017) e Country Brand Identity: Communication of the Brazil Brand in the United States of America (2013).

O Índice de Interesse Internacional (iii-Brasil) é uma análise da imagem do país realizada a partir de um levantamento sistemático de dados sobre notícias que mencionam o Brasil a cada semana em sete publicações internacionais, selecionadas como representativas da imprensa internacional por serem reconhecidas internacionalmente como “newspapers of record”. São elas: The Guardian (Reino Unido), The New York Times (Estados Unidos), El País (Espanha), Le Monde (França), Clarín (Argentina), Público (Portugal) e China Daily (China). O iii-Brasil é produzido semanalmente pela equipe do portal Interesse Nacional e pela pesquisadora Fabiana Mariutti. Professora universitária e consultora; obteve pós-doutorado, doutorado e mestrado em Administração e bacharel em Comunicação Social. Estuda a imagem, reputação e marca Brasil desde 2010. Interesse nas áreas de Place Branding e Public Diplomacy. Nomeada Place Brand Expert pelo The Place Brand Observer, na Suíça. Autora do recente artigo: “When place brand and place logo matches: VRIO applied to Place Branding”, de dois livros e sete capítulos de livros. 

Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional

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